Foi perto da hora de almoço que Rio fez o seu discurso de encerramento no XXXIX Congresso do PSD, que decorria em Santa Maria da Feira.
Neste, o destaque vai para a tónica de rejeitar maniqueísmo partidário. “Encaro como fundamental para o futuro de Portugal o diálogo político”, dizia aos congressistas, de gravata azul-bebé-sóbria ao peito. “Inventar diferenças para lá das que existem é inútil para quem coloca os interesses do país à frente dos do seu próprio partido”, insistia no arranque da declaração. Arranque esse com um cheiro ao sentido de Estado que viria a carimbar no fim do discurso – notando que, caso governasse, não iria fazer “nenhuma revolução ou desfazer tudo o que os outros fizeram”. Um Rio igual a si mesmo: sem grande estridência ou disrupção política, apelando ao bem-comum dos portugueses e ao diálogo inter-partidário. Uma descrição que poderá levar o leitor à crítica corrente de que Rio “não faz oposição”. Acontece que, desta vez, fez – ou pelo menos tentou.
Num discurso pouco galvanizante e algo monocórdico, Rio procurou distanciar o PSD do PS (foi, aliás, esse o desafio que lançou aos Congressistas), traçando as linhas diferenciadoras entre o seu partido e o de António Costa. Para isso, criticou a governação socialista: “em tempos de Covid-19 fomos dos países que menos apoiou as empresas e as pessoas, mas não faltou dinheiro para o Novo Banco, TAP, ou perdões fiscais à EDP”. E continuou a insistir na questão dos impostos: “realmente indigna qualquer um pagar tanto impostos e depois ver a leviandade de ver como são gastos. A TAP é também um exemplo da governação socialista – meteu o Estado num buraco que parece não ter fundo”. Culatra puxada atrás para, por fim, disparar com o seu típico sotaque do Norte: “tudo mau, pior era impossível”.
Acusou também a governação socialista de “faltar de rigor e facilitismo”, classificando o desempenho de Eduardo Cabrita como “desastroso”. Notou que a “Esquerda radical” – uma solução política de “má memória” – acentuou o título “imediatista” do PS, trazendo luz ao facto de os países de leste se aproximaram e ultrapassarem Portugal em termos de crescimento económico. Portugal esse que, no entender de Rio, deverá ser uma marca cultural: um país de “tendência universalista”, di-lo, afirmando depois que quer “deixar a nossa marca no mundo”, com especial força na CPLP.
Aproveitou também para criticar o sistema educativo. Segundo Rio, em 2015, “havia grandes resultados” dos alunos portugueses a nível internacional – algo que, diz, “já não há” –, sendo por isso “obra conseguir tanto mal em tão pouco tempo”. Rio criticou o facto de os Ministros socialistas, quando tomaram o poder, terem “destruído a obra do antecessor independentemente da qualidade que este possa ter tido”. Estas reformas socialista, explica, resultaram em “facilitismo” e redução do “nível de exigência” nas escolas. Ainda no mundo da escolas, aproveitou para afirmar que quer “devolver a dignidade” aos professores – “uma das profissões mais importantes e mais decisiva da sociedade”.
Debruçou-se sobre temas atuais, como a necessidade de aumentar a taxa de natalidade, a importância de promover estilos de vida e nutrição saudáveis – dizendo que o Ministério da Saúde tem sido, ao invés, o da “doença” – ou a urgência nos “incentivos a jovens agricultores”. Concentrou-se, todavia, num: o do Ambiente e das alterações climáticas. Algo que “o mundo todo enfrenta”, e que, “por ser global, tem de ser local”. Chamando a atenção para a sustentabilidade, Rio notou que a “a economia circular tem de sair dos PowerPoint e dar lugar a medidas concretas e públicas”. Trata-se, para o portuense, de um “imperativo ético”.
Na altura de despedida, trouxe Churchill e a frase que diz que “um homem com convicção pode superar uma centena de outros que só têm opinião”. Correndo-lhe a valentia portuguesa histórica pelas veias, um Rio pessoano pede para que se “cumpra Portugal”. Tal é possível, garante, se se “criarem condições”. Assim, o “Portugal do século XXI poderá voltar a ser grande: tão grande quanto a sua história” – concluiu.
É o ‘toca e foge’ entre Ventura e Rio. Se há três semanas Ventura acusava o PSD de socialismo e, por consequência, assumia não querer grandes conversas com este partido, parece que, após ontem, Ventura voltou a mudar de opinião. Agora, o líder do Chega, mostra de novo o sorriso ao PSD.
“Temos um governo de direita para construir”
Ao i, André Ventura revela que, após este discurso, Rio “mostra já abertura para se fazer algum caminho à direita”. Apesar de continuar a mostrar-se “um líder demasiado subserviente com o PS e com António Costa”, Ventura nota que “gostou” de ouvir Rio a falar, “finalmente”, da “luta contra a subsidiodependência” e contra os “privilégios de algumas minorias que não querem trabalhar”. Por isso, se “Rio estiver disposto, como disse no encerramento do congresso, a convergir como força anti-sistema e a lutar verdadeiramente para acabar com a subsidiodependência e a corrupção, então temos caminho para fazer e um governo de direita para construir”, conto ao i.
Quem também notou esta aproximação mas, por outro lado, não lhe ficou grande fã, foi José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto do PS. Carneiro, após assistir à sessão de encerramento do Congresso do PSD, considerou o partido liderado por Rio estar a aproximar-se da “extrema-direita”. No entender de Carneiro, o PSD fê-lo em dois momentos: “quando aceitou o acordo com o Chega nos Açores” e “quando chegou a este congresso e disse que era um partido contra o sistema”. A seu ver, o PSD de Rio "está a aproximar-se da extrema-direita e não do posicionamento político ao centro como o país precisa". O dirigente socialista entendeu que o líder do PSD, no seu discurso de enceramento, utilizou "atoardas populistas" que são “injustas” relativamente ao recente esforço dos portugueses.