Realizou-se durante este fim de semana o XXXIX congresso do PSD, no Europarque em Santa Maria da Feira. O congresso não foi muito mais do que uma entronização de Rio e de uma cristalização de quem é o seu grande opositor interno, de seu nome Miguel Pinto Luz. Destaque ainda para a derrota de Rio no Conselho Nacional de Jurisdição (CNJ), que continuará nas mãos de Paulo Colaço – capitulando assim a investida de Rio em conquistá-lo via Nuno Morais Sarmento – e para a entrada de dois novos vice-presidentes.
Rio conquista Conselho Nacional Ao Conselho Nacional concorreram onze listas. A de Rio, encabeçada por Pedro Roseta, foi a mais votada, com 187 votos Seguiu-se-lhe a de Pinto Luz, com 161, tornando-se este – que está, politicamente, à sua direita – no seu opositor interno oficial. Em terceiro lugar, com 147 votos, ficou Pedro Calado, autarca no Funchal, que representa a ala montenegrista.
Não se pense, contudo, que Rio não ficou com maioria no Conselho Nacional: é que, ao lado da sua lista, concorrem três que lhe são afetas: a de Carlos Eduardo Reis – que, com 97 votos, ficou em quarto lugar –, a de Catarina Rocha Ferreira, com 70 votos, e a de Lina Lopes, com 17. Também as listas lideradas por José Manuel Meireles, Luís Rodrigues, Nuno Ezequiel, Duarte Marques ou André Neves conseguiram eleger conselheiros, sendo que os últimos dois apoiaram Rangel nas diretas.
Reeleições no ‘Tribunal’ e na Mesa do Congresso Paulo Colaço, que era já Presidente do CNJ do PSD, foi reeleito para o cargo. Nuno Morais Sarmento representava a ala rioista nesse sufrágio, tendo perdido com 390 face aos 442 de Colaço. Quanto à mesa do Congresso, foi vencida por Paulo Mota Pinto – que, batendo o rangelista Pedro Rodrigues por mais de 100 votos, foi reeleito presidente do órgão.
Algumas mudanças na CPN Apesar de ter havido algumas mudanças na CPN – que, encabeçada por Rio, foi aprovada por 67,6% dos congressistas – poder-se-á dizer que o líder manteve a sua estrutura. Do núcleo mais duro, caíram dois vice-presidentes (um já era sabido) e entraram outros dois: sai Isabel Meirelles – que vai para a Mesa do Congresso – e Morais Sarmento, e entram Ana Paula Martins e João Pais de Moura – ambos professores universitários ligados à Farmacêutica, sendo que Moura foi Presidente da Câmara de Cantanhede por três mandatos. André Coelho Lima, Salvador Malheiro, David Justino e Isaura Morais mantêm-se no lugar de vice-presidentes.
Sobem ainda à CPN Filipa Roseta, vereadora da habitação e do desenvolvimento local em Lisboa, Isabel Cruz, antiga vice-presidente da Mesa do Congresso, António Marciano Lopes, de Beja, José Miguel Ramos, de Miranda do Corvo, e Pedro Coelho, da Madeira.
Rio quer “cumprir Portugal” Foi perto da hora de almoço que Rio fez o discurso de encerramento do Congresso. Neste, o destaque vai para a tónica de rejeitar maniqueísmo partidário. “Encaro como fundamental para o futuro de Portugal o diálogo político”, dizia aos congressistas, de gravata azul-bebé-sóbria ao peito. “Inventar diferenças para lá das que existem é inútil para quem coloca os interesses do país à frente dos do seu próprio partido”, insistia no arranque da declaração. Arranque esse com um cheiro ao sentido de Estado que viria a carimbar no fim do discurso – notando que, caso governasse, não iria fazer “nenhuma revolução ou desfazer tudo o que os outros fizeram”. Um Rio igual a si mesmo: sem grande estridência ou disrupção política, apelando ao bem-comum dos portugueses e ao diálogo inter-partidário. Uma descrição que poderá levar o leitor à crítica corrente de que Rio “não faz oposição”. Acontece que, desta vez, fez – ou pelo menos tentou.
Num discurso pouco galvanizante e algo monocórdico, Rio procurou distanciar o PSD do PS. Para isso, criticou a governação socialista: “em tempos de Covid-19 fomos dos países que menos apoiou as empresas e as pessoas, mas não faltou dinheiro para o Novo Banco, TAP, ou perdões fiscais à EDP”. E continuou a insistir na questão dos impostos: “realmente indigna qualquer um pagar tanto impostos e depois ver a leviandade de como são gastos. A TAP é também um exemplo da governação socialista – meteu o Estado num buraco que parece não ter fundo”. Culatra puxada atrás para, por fim, disparar com o seu típico sotaque do Norte: “tudo mau, pior era impossível”.
Aproveitou também para criticar o sistema educativo. Segundo Rio, em 2015, “havia grandes resultados” dos alunos portugueses a nível internacional – algo que, diz, “já não há” –, sendo por isso “obra conseguir tanto mal em tão pouco tempo”. Rio criticou o facto de os Ministros socialistas, quando tomaram o poder, terem “destruído a obra do antecessor independentemente da qualidade que este possa ter tido”. Estas reformas socialista, explica, resultaram em “facilitismo” e redução do “nível de exigência” nas escolas. Ainda neste mundo, aproveitou para afirmar que quer “devolver a dignidade” aos professores – “uma das profissões mais importantes e mais decisiva da sociedade”.
Debruçou-se sobre temas atuais, como a necessidade de aumentar a taxa de natalidade, a importância de promover estilos de vida e nutrição saudáveis ou a urgência nos “incentivos a jovens agricultores”. Concentrou-se, todavia, num: o das alterações climáticas. Algo que “o mundo todo enfrenta”, e que, “por ser global, tem de ser local”. Chamando a atenção para a sustentabilidade, Rio notou que a “a economia circular tem de sair dos PowerPoint e dar lugar a medidas concretas e públicas”.
Na altura de despedida, correndo-lhe a histórica valentia portuguesa pelas veias, um Rio pessoano pede para que se “cumpra Portugal”. Tal é possível, garante, se se “criarem condições”. Assim, o “Portugal do século XXI poderá voltar a ser grande: tão grande quanto a sua história” – concluiu.
“Temos um governo de direita para construir” É o ‘toca e foge’ entre Ventura e Rio. Se há três semanas Ventura acusava o PSD de socialismo e, por consequência, assumia não querer grandes conversas com este partido, parece que, após ontem, Ventura voltou a mudar de opinião. Agora, o líder do Chega, mostra, de novo, o sorriso ao PSD.
Ao i, André Ventura revela que, após este discurso, Rio “mostra já abertura para se fazer algum caminho à direita”. Apesar de continuar a mostrar-se “um líder demasiado subserviente com o PS e com António Costa”, Ventura nota que “gostou” de ouvir Rio a falar, “finalmente”, da “luta contra a subsidiodependência” e contra os “privilégios de algumas minorias que não querem trabalhar”. Por isso, se “Rio estiver disposto, como disse no encerramento do congresso, a convergir como força anti-sistema e a lutar verdadeiramente para acabar com a subsidiodependência e a corrupção, então temos caminho para fazer e um governo de direita para construir”, contou ao i.
Quem também notou esta aproximação mas, por outro lado, não lhe ficou grande fã foi José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto do PS. Carneiro, após assistir à sessão de encerramento do Congresso do PSD, considerou o partido liderado por Rio estar a aproximar-se da “extrema-direita”. No entender de Carneiro, o PSD fê-lo em dois momentos: “quando aceitou o acordo com o Chega nos Açores” e “quando chegou a este congresso e disse que era um partido contra o sistema”. A seu ver, o PSD de Rio “está a aproximar-se da extrema-direita e não do posicionamento político ao centro como o país precisa”. O dirigente socialista entendeu que o líder do PSD, no seu discurso de enceramento, utilizou “atoardas populistas” que são “injustas” relativamente ao recente esforço dos portugueses.