Em sintonia ideológica quase perfeita, Catarina Martins e Rui Tavares sentaram-se, ontem, às 18h00, para discutir as legislativas. Não tinham vontade disso: não tivesse a moderadora feito bem o seu papel, a coordenadora do Bloco de Esquerda e o líder do Livre talvez tivessem ficado o tempo todo a servir “simpatia” ao outro, apenas faltando as xícaras para completar a moldura. É precisamente este tom de “simpatia” que importa reter do debate: quando, por exemplo, Catarina Martins foi encostada à parede pela moderadora para (finalmente) apontar uma linha de divergência com o Livre, a líder do Bloco fê-lo salvaguardando que o fazia “com toda a simpatia”. Antes desta simpatia, a líder do Bloco já havia servido outra: “enorme” e pelo “programa do Livre”.
O mesmo tom de “simpatia” esteve presente no lado de Tavares, que não foi aos estúdios da SIC, em Oeiras, provocar o mais pequeno terramoto. Tavares gastou o seu primeiro minuto e meio a evidenciar a união que existe entre o seu partido e o de Catarina (união essa que está consagrada numa vereação naquele município). “É importante que se entenda que o Livre e o Bloco estão a trabalhar juntos aqui”, afirmou.
Politicamente, uma mensagem ficou clara para o eleitor: tirando algumas considerações sobre o SNS e sobre a Europa, votar Livre ou BE parece ser praticamente idêntico. Apesar dessa proximidade, há algumas diferenças a notar: o Livre é mais europeísta, sendo que corporiza aquela Esquerda moderna, cosmopolita, ecológica e desconstrutivista. O Bloco é igualmente desconstrutivista, mas menos moderno e cosmopolita – focando-se mais nos trabalhadores e no país real.
Uma troca de palavras que tornou evidente essa maior proximidade de Catarina com a realidade deu-se num debate sobre Europa. Catarina acusou a União Europeia de “pagar a Erdogan para manter os migrantes e refugiados no outro lado, na Turquia”. Perante isto, Tavares explicou-lhe que não se tratava da União Europeia mas sim de um conjunto de tratados bilaterais que os países europeus têm com a Turquia, ao que Catarina respondeu que essas diferenças entre tratados não interessam ao português comum, afirmando que “quando se começa com formalismos sobre a Europa às vezes parece que podemos perder o horizonte”.
Catarina e Tavares divergiram também em questões relacionadas com a saúde, sendo o segundo a favor dos contratos de exclusividade e Catarina contra. Ambos se demonstraram disponíveis para acordos de governação à esquerda.