Tânia Ribas de Oliveira: “Eu não sou escrava da imagem, nunca fui e nunca serei”

Foi ainda antes de dar as boas-vindas ao novo ano que a apresentadora falou sobre os seus 45 anos de vida e mais de 20 de carreira. Do estágio na RTP, à data com sede na Avenida 5 de Outubro, onde começou como jornalista do departamento de teletexto, à apresentação de programas de entretenimento, brilha…

Tânia. Mãe do Tomás e do Pedro. Apaixonada pelo João. Apresentadora de televisão». Estas frases podem ser encontradas na sua biografia do Instagram. É a prova de que em cerca de 70 carateres consegue colocar tudo o que lhe dá sentido à vida?

Faltam algumas coisas para estar tudo o que me dá sentido à vida, mas pode dizer-se que é o essencial e que a ordem de prioridades também está correta, ou seja, a minha família está sempre em primeiro lugar e eu nunca escondi isso. Acho que é essa estabilidade e esse amor que me permitem ser a profissional que eu sou, mas também tenho a sorte de ser muito apaixonada pelo meu trabalho e de adorar aquilo que faço. E o facto de adorar aquilo que faço tendo uma família que se ama, com todos os problemas que todas as famílias têm, mas essencialmente que se ama, é fundamental para ter uma vida muito equilibrada e maioritariamente muito feliz.

Para uma pessoa que vê a família como a base da vida, como foi viver mais um Natal condicionada pela pandemia? Há um ano esteve infetada com covid-19 e este último esteve em isolamento devido a um contacto de risco…

Este ano foi muito diferente do ano passado. Em 2020 estava positiva e este ano [2021] não estava. Este ano estava vacinada e o ano passado não havia vacinas. Depois, este ano estou muito mais informada e o ano passado nenhum de nós sabia nada de nada. Estávamos todos com medo e não sabíamos. Com uma máscara as coisas resolvem-se com outra facilidade, não estive propriamente no isolamento que tinha tido, tenho dois filhos pequeninos e, portanto, isso não fiz. De qualquer forma, tudo o que acontece no Natal tem sempre um peso diferente, mas cabe-nos a nós, enquanto adultos, aligeirar isto mesmo para as crianças e é o que nós fazemos sempre lá em casa.

A dois dias de dar as boas-vindas ao novo ano [entrevista realizada a 29 de dezembro], é aquela pessoa que vai consultar a lista das metas definidas e ver as que falharam e as que foram cumpridas neste último ano?

Não, eu não sou nada essa pessoa! Até porque, na verdade, eu tenho sempre um objetivo de manutenção, daquilo que digo e daquilo que tenho vindo a conquistar, não tenho propriamente o objetivo de conquistar coisas extraordinariamente diferentes. Eu não sou assim. Eu peço sempre aquilo que toda a gente pede: saúde, amor, estabilidade, que continue a trabalhar naquilo que mais gosto de fazer, que os meus filhos continuem bem, os meus pais, os meus sogros, o João… São mais objetivos deste género. ‘Adorava que isto ou aquilo me acontecesse’, não tenho esse tipo de pedidos…

Este mês [dezembro] é também marcado pelo aniversário do seu filho mais velho, o Tomás. Escreveu nas suas redes que é sempre uma altura em que fica muito emocionada durante dois ou três dias. Isso deve-se ao facto de reviver as memórias dos últimos 9 anos, levando-a ao dia em que foi mãe pela primeira vez?

Quando um filho faz anos e quando um filho nasce uma mãe nasce, e a minha vida e a do João mudou radicalmente. O Tomás é o nosso primeiro filho. Nós vivíamos os dois com o Bauer, que era o nosso Golden Retriever – que faleceu em maio – e, portanto, tínhamos uma vida muito mais desafogada, com responsabilidades completamente diferentes. Quando o Tomás nasceu virou a nossa vida de pernas para o ar e foi a melhor coisa que nos aconteceu [risos]. Cada vez que ele e o Pedro fazem anos revivo sempre essas memórias dos últimos dias de gravidez, das questões que punha, se seria parecido com o pai ou com a mãe, se teria saúde, como é que a nossa vida iria ficar… Fico sempre super emocionada com aquilo que ele [Tomás] vai conquistando, já está no 4º ano e é o menino mais novo da turma e é super querido, justo, desportista e amigo do seu amigo. Aquilo emociona-me imenso, sou muito mãe babada. Basicamente bato palminhas interiores: ‘Ai que lindo que é o meu menino!’ [risos].

Ser mãe tornou a vida numa ginástica constante? Modalidade que, de resto, tinha praticado dos 5 aos 28 anos…

Não, eu acho que a vida já é uma ginástica constante, com ou sem filhos. A vida das pessoas é uma ginástica constante com os horários que têm de ser cumpridos, as obrigações, as responsabilidades e, depois, é encaixar nessa ginástica os momentos de prazer, os amigos… É fundamental ter um bocadinho de tudo dentro da nossa vida porque ninguém vive feliz só a trabalhar nem só a olhar para a família, nem só a divertir-se com os amigos, tem que ser um bocadinho de tudo. É um cocktail e é fundamental que não nos esqueçamos daquilo que nos dá prazer.

Ter filhos é também uma oportunidade de se reviverem algumas fases da vida, mas com outro olhar e agora de forma consciente?

Sim, sim. Por exemplo, os Natais. Hoje em dia olho para os Natais e lembro-me sempre de como eram os da minha infância, ou olho para os meus filhos a pedirem mousse de chocolate à minha mãe e torta de chocolate à minha sogra e lembro-me das iguarias que eu pedia à minha avó para fazer. Acho que voltamos a ver nos nossos filhos as nossas crianças interiores, as crianças que fomos e que continuam a viver em nós. Acho que sim e isso é muito bonito.

E quais são as outras recordações de infância que tem?

São sempre as férias que eram maravilhosas. A minha mãe trabalhava na TAP e eu tive a possibilidade de andar de avião muito cedo e ia muitas vezes para o Brasil, que era uma coisa que os meus colegas não faziam, tinha esse privilégio de conhecer outros países desde muito cedo, eu e o meu irmão. Tinha as férias com os meus avós no Vimeiro que eram extraordinárias. Nunca me hei de esquecer de que passava lá quase dois meses do verão, nas piscinas do Vimeiro, na Praia de Santa Rita, a apanhar pedrinhas, a andar de bicicleta, a apanhar amoras e figos diretamente das árvores – e a minha avó tinha um baldinho com água, lavávamos ali e comíamos. Acho que essas são as memórias que nos alimentam muito essa magia, que ficam durante toda a nossa vida. E é essa magia que pretendo passar aos meus filhos que, às vezes, parte de coisas muito pequeninas, não é preciso nada de extraordinário para tornar os momentos mágicos, especiais, importantes e que os acalentem quando forem adultos, porque aquilo tudo que nós vivemos em crianças é que vai fazer os adultos que depois seremos. Todos os pais deviam ter consciência disso na educação dos seus filhos.

E costuma revisitar esses lugares com os seus filhos?

Vamos para lugares diferentes, mas fazemos muito daquilo que eu fazia na minha infância. Passamos a maior parte do verão na costa vicentina: eles andam de bicicleta, fazem até coisas que eu não fazia, como surf e andar de skate. Eu tenho dois rapazes e é tudo um bocadinho mais radical, mas o conforto da casa, as mantas, os filmes, a lareira… Essas coisas crescem connosco. Tenho muito o sentido daquilo que era confortável quando era pequenina e passo isso aos meus filhos, acho que eles também são muito parecidos e vão herdando isso, tanto de mim como do pai.

Falou do facto de a profissão da sua mãe lhe ter dado mundo, mas, por outro lado, cresceu também numa família de professores. Isso significa que a disciplina foi sempre um ingrediente muito presente?

Nós tínhamos muita liberdade e responsabilidade, sempre foi assim. Mas, essencialmente, eram todos professores de português e daí este cuidado que eu tenho com a língua, tanto na escrita como no exercício da minha profissão, porque trabalho em direto e tenho perfeita consciência de que tenho uma responsabilidade muito grande em cada palavra que digo e as coisas não estão escritas. Tenho que saber criar um discurso e tentar não dar erros de português. Esse cuidado enorme que eu tenho do peso da responsabilidade de uma língua acho que o devo ao facto de o meu pai, os meus avós, o meu tio, a minha tia serem professores de português.

 

E, de repente, já são mais de 20 anos de carreira. Ainda se consegue lembrar de como se sentia a menina que entrou para um estágio na RTP e se já nessa altura sonhava tornar-se apresentadora de televisão?

Sim. Lembro-me perfeitamente do primeiro dia em que entrei para o estágio da RTP, era ainda na Avenida 5 de outubro e eu era jornalista do departamento de teletexto, escrevia as notícias no teletexto, eu e uma equipa que trabalhava lá, naturalmente. Aí começou o meu estágio, e tive muitos na RTP, mas o meu sonho na altura era ser jornalista. Consegui depois ir para a RTP África, RTP Internacional, mais tarde fui para o Telejornal, depois Bom dia Portugal, e houve ali um crescimento grande até ter posto, em 2003, os pés no entretenimento, através da Operação Triunfo. Nunca mais voltei para a informação, fiquei sempre no entretenimento. Mas o sonho era exatamente esse e lembro-me da miúda que eu era e tinha a certeza absoluta de que iria conseguir e que ia correr bem. Não tinha por que correr mal, eu não tinha medo de trabalhar, achava que tinha algum jeito, que queria muito aprender e que, com estes três ingredientes juntos, mais alguma imaturidade fruto da idade, era capaz de tudo e a verdade é que, subindo uns degraus e descendo outros, cheguei onde cheguei e estou muito feliz com isso.

No programa Conta-me, da TVI, disse com graça que chegou a autointitular-se Tânia ‘Plateias’ de Oliveira: por estar sempre, lá está, na ‘plateia’, ou porque basicamente era sempre chamada quando era preciso? Em algum momento sentiu que estar no ‘palco principal’ ou ter um programa seu pudesse ser uma miragem?

Não, não. Eu sabia que iria acontecer, mas nessa altura nem sequer era um objetivo. Nunca fiz reportagem a pensar que ia ser apresentadora, eu fazia reportagem porque adorava fazer reportagem. Nunca cheguei a um ponto em que disse: ‘Agora acabou-se isto da reportagem porque quero crescer e ser apresentadora de televisão’. Eu era repórter e muito orgulhosa do meu trabalho enquanto repórter. Fui repórter anos a fio na RTP, em projetos completamente diferentes: no Só Visto, no Euro2004, na Praça da Alegria, numa série de especiais… E o ‘Plateias’ de Oliveira tinha até a ver com isso, porque havia sempre um repórter na plateia e os apresentadores no palco e eu fazia quase sempre a plateia. E fazia com muito orgulho.

Até que…

Até que me desafiaram… O Nuno Santos, na altura… Penso que a primeira coisa foi para fazer as férias da Sónia Araújo e do Jorge Gabriel, na Praça da Alegria. Ia eu com o Hélder Reis. A partir daí seguiu-se o programa A Herança de Verão, nas férias do José Carlos Malato, que já foi uma responsabilidade grande porque era em horário nobre.

Apesar de todos os desafios que já abraçou, profissionalmente ainda há algum programa que gostasse de fazer?

Sim, eu gosto de falar com pessoas. E isso, na realidade, é aquilo que eu faço. A Nossa Tarde é um programa que é feito mais à minha medida. Em abril vai fazer três anos e é um programa que é feito também com a minha personalidade lá dentro – e há lá muita coisa que sou efetivamente eu. Mas um dia, mais tarde, quem sabe, talvez eu possa ter um programa olhos nos olhos com uma só pessoa. Isso pode vir a acontecer ou não, se acontecer deixa-me muito feliz porque eu gosto de falar com pessoas e gosto de as ouvir, essencialmente. Gosto de as ouvir. E os silêncios são extraordinariamente reveladores, valem muitas vezes mais do que muitas palavras… E eu acho que sou uma boa ouvinte.

O facto de gostar de ouvir faz com que custe mais estar no papel de entrevistada?

Prefiro estar desse lado [risos]. Prefiro estar sempre do lado de quem tem as rédeas da situação e faz as perguntas do que responder, assim sinto-me menos à vontade [risos], mas também é bom sinal estarmos a dar entrevistas, está tudo certo, não é [risos]? Se eu gosto de receber pessoas também tenho de perceber que os meus colegas também gostem de fazê-lo, temos de ser uns para os outros.

Por falar em colegas, uma das grandes duplas televisivas é Tânias Ribas de Oliveira-João Baião. Num meio em que muitas vezes se fala da dificuldade em estreitar relações de amizade e cumplicidade, esta amizade vem provar o contrário, já que o João Baião é também padrinho do seu filho mais velho?

Acho que as pessoas são amigas quando têm que o ser. Podem até nem sequer trabalhar juntas, têm de se encontrar. Eu e o João tínhamos de nos encontrar na vida, algures. Apesar da nossa diferença de idades, que ainda é alguma, temos 13 anos de diferença. Não tenho bem a certeza, mas quando comecei a trabalhar havia ali uma diferença grande, se bem que ele é muito mais novo do que eu, como é muito fácil perceber [risos]. Acho que não há ninguém com uma criança interior tão ativa como o João Baião. Com tudo o que isso tem de bom: generosidade, alegria e partilha com os outros, e isso é extraordinário. Crescemos muito juntos. Ele ensinou-me muita coisa e eu acho que lhe ensinei alguma coisa também, passámos por alguns momentos difíceis, de perdas familiares, e, por outro lado, de uniões. Ele estava presente no dia do meu casamento, acompanhou toda a minha gravidez, trabalhámos juntos diariamente… eu enjoava, ele enjoava. Ligava-me à noite e perguntava: «Estás enjoada?» e eu respondia-lhe: «Estou», e ele dizia: «Opa, eu também». E eu: «Ó João, tem juízo, tu não estás grávido» [risos], e ele dizia-me que também estava, ele era maravilhoso. Esta simbiose é única. Nós podemos ter muitos amigos na vida, e devemos ter bons amigos essencialmente, mas quando duas pessoas têm de se encontrar elas vão encontrar-se. Eu e o João tínhamos de nos encontrar e isso também é válido para a separação. Ou seja, nós separámo-nos fisicamente, o João foi para a SIC já há bastantes anos, eu estou na RTP, e estou feliz, e a nossa amizade não esmoreceu nada, absolutamente nada, é exatamente a mesma coisa. Continuamos a dizer «Bom dia, amor» e «Dorme bem, amor, muitos beijinhos» todos os dias, desde 2007, e isso nunca mudou.

Já lá vão 14 anos…

Exatamente. E nunca mudou.

É um dos nomes mais consensuais da televisão portuguesa e mesmo quando se pesquisa pelo seu nome os adjetivos encontrados são sempre amigáveis. É obra ou feitio?

Eu também faço por isso, não é?! Todo o nosso caminho e tudo o que nós… Às vezes não, às vezes vamos colhendo frutos que não procuramos e que nem sequer merecemos, há doenças que aparecem na vida das pessoas e ninguém as merece, é horrível. Mas acho que, no fundo, tudo aquilo que vamos adquirindo… Eu trabalho para o público e trabalho com entrega, com amor, com carinho, com verdade, e sinto que esse reconhecimento que me dão, esses elogios, esses ‘Taninha’, ‘Tanocas’, como me chamam às vezes quando me encontram na rua, essa proximidade, eu construí-a todos os dias ao longo de muitos anos de trabalho. Estou há 14 anos no ar todos os dias em direto, duas horas e meia a três horas por dia. É muito tempo a fazer companhia às pessoas, é natural que já faça parte da família e das rotinas das famílias portuguesas e que esse carinho exista. Eu sinto-me muitas vezes parte da família de pessoas que não conheço e isso é muito bom e muito bonito.

Aos 45 anos já olha para a televisão de outra maneira? Há o medo da tal ditadura da imagem?

Eu não sou escrava da imagem, nunca fui, nunca serei. No entanto, sou, como todas as mulheres, vaidosa. Eu tenho é de olhar para o espelho e sentir-me bem. Nunca fiz nenhuma operação plástica na vida, nunca pus sequer um bocadinho de botox, nunca fiz uma única correção, nunca. Agora… eu não digo desta água não beberei e se houver um dia em que me olhe ao espelho e pense que se calhar devia corrigir alguma coisa, porque a minha vida também é a imagem, desde que ela se mantenha saudável e que eu olhe e me reconheça – é a Tânia – eu serei igual, mas corrigi aqui algumas coisas. Nunca digo desta água não beberei, mas, até agora, aos 45 anos, isso nunca aconteceu. Se me sinto um bocadinho mais gordinha fecho a boca e tento fazer dieta, se me sinto um bocado mais stressada pego em mim e faço ioga ou meditação. Eu procuro o meu bem-estar olhando para mim própria todos os dias e percebendo se me sinto bem ou mal. Também já me aconteceu estar um bocadinho mais gordinha e sentir-me muito melhor do que quando estava mais magrinha e nesse caso não faço nada, deixo-me estar, porque o que me interessa a mim é estar feliz e sentir-me bem. Não me interessa nada o que os outros pensam nem se a minha balança deve ir até não sei onde, interessa-me é sentir-me feliz, estar bem e com uma imagem que seja obviamente simpática no ar. Nunca deixo ultrapassar determinados limites, mas não sou nada escrava da imagem, há coisas muito mais importantes.

Quem a vê reconhece de imediato algumas características, como a alegria, a boa disposição e o espírito positivo. Mas o que é que é capaz de tirá-la do sério?

Pessoas que cobram atenção é uma coisa que me irrita profundamente – mas que não a dão sequer. Pessoas que cobram naturalmente telefonemas ou atenção tiram-me do sério, partirem do princípio que é mais fácil esperar do que agir. A mentira também me tira do sério, o tentarem fazer-me de parva, a injustiça, a fragilidade dos outros e as pessoas que espezinham os outros sabendo que são mais frágeis e exatamente por isso aproveitam o seu poder para o fazer. Isto são coisas que me tiram do sério com facilidade. Eu também não sou sempre fofinha [risos], quando me tiram do sério eu falo e defendo as pessoas que precisam de ser defendidas. E faço isso com muita naturalidade, não deixo nada por dizer.

Como se protege das histórias mais complicadas e por vezes difíceis de digerir que acaba por ter que escutar diariamente há tantos anos? Influencia o seu estado de espírito?

Influenciam naturalmente o estado de espírito, mas nós temos que seguir em frente sempre senão às vezes é muito complicado fazer este tipo de programas. Eu prefiro encarar as conversas mais duras como conversas de força e inspiradoras, de pessoas que conseguem de facto dar a volta a muitos problemas muito complicados. Há convidados que não me saem da cabeça e que ficam durante algum tempo e com os quais estabeleço uma relação de entreajuda – e se pudermos fazer alguma coisa pelas pessoas fazemos. Agora… eu faço uma coisa: eu saio da RTP, se não for a correr buscar os meus filhos à escola, desmaquilho-me e a partir dali é a Tânia que está no carro, a ir para a sua vida. Não posso viver a vida das outras pessoas, falei com elas e tenho de passar uma borracha sobre o assunto e preparar o programa do dia seguinte. Com o tempo e com a experiência consegue-se fazer isso, mas há histórias demasiado duras que ficam a remoer no coração, mas, na esmagadora maioria, chego a casa e acabou. Acabou o programa e só volto a pensar no programa quando entro na RTP no dia seguinte.

Por outro lado, recorda-se de histórias mais caricatas que lhe tenham acontecido? Ainda há pouco tempo houve um momento particularmente divertido com o Gilmário (Vieira) Vemba [em que trocou o nome]. Quais são aquelas três situações mais insólitas que costuma relembrar sempre entre família e amigos?

Eu tinha muitos ataques de riso com o João Baião, aquilo era péssimo. Nós somos muito amigos e já sabíamos ler quase o olhar um do outro e às vezes era trágico, começávamos a rir em direto e não conseguíamos parar. Mas, normalmente, é precisamente a troca de nomes… E é uma coisa que me dá muita vontade de rir porque são tantos convidados, tantos convidados, que, ao final de um tempo, em vez de Gilmário já vai Gervásio, se não é Gervásio é outra coisa qualquer… e digo aquilo com a maior sobriedade, como se estivesse a dizer a coisa mais certa do mundo e isso depois acaba por ter alguma graça. A maior parte das minhas histórias caricatas têm a ver com enganos, quando trabalhamos em direto não conseguimos controlar tudo e tem mais a ver com isso.

Fora da televisão tem também um blogue, ‘O nosso T2’, um projeto mais voltado para a maternidade, que surgiu em 2014, tempos depois do nascimento do Tomás…

Tinha muitas dúvidas e procurava na internet, mas às vezes não encontrava… Senti que se conseguisse reunir ali algumas histórias caricatas para as pessoas terem um processo de identificação… Tínhamos também uma médica, uma pediatra que respondia às questões, tínhamos nutrição… Na altura, em 2014, parece que não foi há muito tempo, mas não havia tantos blogues de mães e crianças como há hoje em dia. Já havia alguns, mas não tantos como hoje, e nessa altura fazia sentido porque também não queria estar no Facebook – ainda nem tinha Instagram – a partilhar todas as coisas engraçadas que iam surgindo…

Como referiu, hoje parece ter havido uma explosão de blogues relacionados com maternidade…

Cada pessoa deve viver a maternidade como quer, não gosto nada de rotular ninguém. Acho é que há muito mais informação e hoje em dia, se as pessoas quiserem procurar, encontram. Não se deve é estar completamente focado na forma como as outras pessoas educam os seus filhos, não é? Até porque podem fazer coisas que eu nunca faria; há outras coisas que se calhar é boa ideia e vou passar a fazer, mas sobretudo cada um de nós tem de ter consciência de que a vida das pessoas das redes sociais não é a nossa. Há influencers muito divertidas, com graça, de facto, com filhos muito giros, mas aqueles filhos não são os meus filhos. Eu não vou tentar transformar os meus filhos nos filhos dos outros porque as outras pessoas têm piada. Acho que essa distância é importante que se crie, cada um de nós tem a sua vida, pode olhar para outras coisas e absorver algumas, mas perceber que aquilo são redes sociais, blogues e que a realidade é outra coisa, é o dia-a-dia em casa, isso é que é a realidade.

A adaptação às redes sociais foi para si algo fácil ou mais forçado pelo trabalho, que também exige essa exposição e proximidade com o público?

Foi fácil porque eu também tenho, como na vida, uma noção muito exata daquilo que devem ser as minhas redes sociais e aquilo que eu quero que sejam. Nunca partilhei a cara dos meus filhos nas redes e quero que continue assim. Pusemos agora uma fotografia do meu filho Tomás quando tinha 1 ano, ele agora tem 9, está muito diferente [risos]. A questão aqui é que sei perfeitamente que as minhas redes sociais são também uma maneira de estar próxima das pessoas que me seguem, servem-me também de conteúdos comerciais, ponho fotografias do programa, da indumentária que vou vestindo – porque também há muitas pessoas que me estão sempre a perguntar de onde é aquele vestido ou o outro – e, assim, está ali tudo, partilho alguns momentos do meu dia-a-dia, notícias com as quais concordo e às quais gostava que as pessoas dessem especial atenção porque se calhar não seguem esses sites de notícias e assim ficam a saber… Tenho uma relação muito tranquila com as redes sociais.

Relativamente aos haters, deve também ser das pessoas que tem menos comentários mais desagradáveis… Mas quando aparecem, bloqueia?

Ai, quando recebo é muito fácil: apago e bloqueio. A rede social é minha, está lá quem eu quiser, era o que mais faltava. Portanto, quem vier por mal vai para casa!

Já falámos do programa que apresenta atualmente, A Nossa Tarde, mas quando é que precisa que a tarde seja só sua?

[Risos] Às vezes precisava, de facto. De segunda a sexta-feira é um desafio, para não dizer outra coisa, mas é um desafio [risos]. Muitas vezes não tenho a tarde como sendo minha, mas tenho a manhã. Agora os miúdos estão de férias de Natal, mas normalmente estão na escola às 8h30 da manhã e, por isso, muitas vezes tento rentabilizar a minha manhã fazendo coisas que preciso efetivamente de fazer, todos nós precisamos, mas noutras vezes para estar ‘na minha’ e fazer o que eu quiser, seja ioga, dar uma volta, passear, ver o mar, infelizmente menos vezes do que eu gostaria mas de vez em quando ainda consigo. Se a tarde não é totalmente minha – A Tarde é Nossa – a manhã às vezes é minha.

Para terminar, 2021 numa palavra.

Inesquecível, o que não significa que seja sempre uma coisa extraordinária, mas aconteceram muitas coisas em 2021 que o tornaram um ano que eu não vou esquecer.

E o que espera de 2022?

Tenho muita esperança no ano 2022, acho que vamos todos saber lidar melhor com a pandemia, se ela continuar. Todos. Acho que este número incrível de casos que está a acontecer, e tendo nós percebido que esta variante pode ser muito contagiosa, mas menos perigosa, nos pode ajudar a perceber que é o que é e que vai ter que ser. Estamos todos vacinados e, se não estamos todos, na minha opinião, deveríamos estar. Somos o país mais vacinado do mundo, temos que aprender a viver com este vírus de outra forma para não perdermos as nossas vidas, os nossos contactos, os abraços de quem amamos. Que protejamos os mais frágeis mas que não os isolemos, isso é fundamental que aconteça em 2022.