Centeno faz balanço de 2021: “Não devemos ficar tão desapontados”

Governador do Banco de Portugal diz que apesar de a economia não ter sido totalmente protegida, o mercado de trabalho recuperou. Já OIT prevê que impacto das variantes atrase retoma do desemprego mundial. 

Para o governador do Banco de Portugal (BdP) não devemos ficar “tão desapontados” com 2021, uma vez que, apesar de a economia não ter sido totalmente protegida, o mercado de trabalho recuperou. “Não devemos ficar tão desapontados com 2021. Apesar de não termos conseguido proteger totalmente a economia, mesmo com a vacinação, em Portugal atingimos os níveis de emprego pré-pandemia e a recuperação de setores não afetados por ela. Nas nossas previsões para Portugal em 2022, o grande dinamismo vem dos setores que ainda não conseguiram recuperar, como o do turismo, serviços, restauração e hotelaria, que têm de ser apoiados até conseguirmos eliminar todos os impactos da pandemia. Não podemos penalizá-los em nome de uma crise que não é estrutural”, disse Mário Centeno, em entrevista ao El País. 

O antigo ministro das Finanças defende ainda que o “futuro dependerá muito do sucesso da transição climática e digital e aí os fundos europeus são cruciais”, acrescentando que a emissão de dívida comum para financiar os fundos é, na sua opinião, o “maior momento de integração europeia depois do euro”.

E foi mais longe: “2020 foi a primeira vez que as políticas monetárias e orçamentais na Europa agiram de forma coordenada. E como a crise não era estrutural, também não havia dúvidas sobre os riscos morais, que existem sempre na Europa, que alguns se comportam bem e outros não tão bem. Felizmente, conseguimos unir-nos, ao contrário de 2008 e 2011”.

OIT deixa alertas

As declarações de Mário Centeno surgem no mesmo dia em que Organização Internacional do Trabalho (OIT) lembrou que as várias variantes da covid-19 contribuíram para aumentar o desemprego mundial, ainda que a economia e o mercado laboral tenham crescido ligeiramente em 2021. Para este ano, o relatório, que faz as previsões sobre o mercado laboral para 2022, indica que haverá mais 52 milhões de desempregados no início deste ano em relação aos últimos quatro meses de 2019 (o último quadrimestre sem pandemia). Trata-se de uma revisão em baixa das previsões anteriores, que apontavam para mais 26 milhões de de desempregados em 2022 em relação ao mesmo período.

Em termos percentuais, isto significa que “a taxa de participação global da população ativa ficará 1,2 pontos percentuais acima da taxa de 2019”, conclui o relatório.

Para este ano, a organização prevê que , o desemprego a nível mundial desça dos 214 milhões registados em 2021 para 206 milhões. Em 2019, havia 186 milhões de desempregados.

Estas metas refletem “o impacto que as recentes variantes da covid-19, como a Delta e a Ómicron, têm tido no mundo do trabalho, assim, como [têm] criado incerteza no desenrolar da pandemia”, estimando que o número de desempregados só atingirá os níveis pré-pandemia em 2023.

A OIT chama ainda a atenção para o facto de existirem “diferenças acentuadas no impacto que a crise está a ter em vários grupos de trabalhadores e países”. E acrescenta: “Estas diferenças estão a aprofundar as desigualdades entre países e a enfraquecer o fabrico social, económico e financeiro de quase todas as nações, independentemente do seu estado de desenvolvimento. Estes danos demorarão anos a reparar, com consequências duradouras na participação da população ativa, nos rendimentos do agregado familiar e, possivelmente, na coesão política”.