Um dos grandes “pontos quentes” da governação socialista desde 2015 tem sido o tema da TAP e os debates televisivos que marcaram as primeiras duas semanas do ano foram o palco perfeito para os diferentes partidos expressarem as suas preocupações e os seus planos para com a companhia aérea.
Desde os primeiros dias de António Costa no poder que a companhia é tema de conversa, e a injeção de 3200 milhões de euros num plano de reestruturação, aprovado por Bruxelas, tem dado pano para mangas, tanto para os socialistas como para os seus críticos, especialmente ao longo das últimas semanas. Mas afinal, que propostas apresentam os diferentes partidos relativamente à empresa e ao seu futuro? As ideias variam da esquerda à direita.
PS 'SALVOU' TAP Os socialistas, guiados pela mão do Ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, são os “salvadores” da TAP, ou pelo menos, assim o afirmou António Costa no debate televisivo frente a Rui Rio, na passada quinta-feira (dia 13). “Primeiro, não nacionalizámos, nós comprámos. E comprámos para prevenir precisamente que aquele privado que lá estava e que não merecia confiança não daria cabo da TAP no dia em que fosse à falência. Em 2020, as empresas do senhor [David] Neeleman foram caindo em todo o mundo. A TAP salvou-se porque felizmente o Estado estava lá.”
Estas foram as palavras do primeiro-ministro durante o debate, que, ainda assim, não deu uma resposta concreta quando questionado sobre o que aconteceria se, após esta injeção de 3,2 mil milhões de euros, fosse necessária uma nova intervenção do Estado na companhia. A isso, Costa respondeu apenas estar confiante que o plano para a empresa não irá falhar.
PSD QUER VENDER No mesmo debate, Rui Rio não deixou dúvidas sobre a sua proposta para a TAP: vender sem olhar para trás. “A TAP não deveria ter sido nacionalizada”, começou por atacar o líder do PSD, garantindo que, se for primeiro-ministro, será privatizada “o mais depressa possível”. E acrescentou: “Não é amanhã, porque se não vende mal, não vou vender mal”, esclareceu, “mas isto não é sustentável, não é sério nem é competente”.
Isto ao mesmo tempo que, conforme se pode ler no programa eleitoral do PSD, o partido defende “uma solução de viabilização da empresa, mas em termos sustentáveis, europeus, de acordo com as boas práticas de gestão”.
A proposta social-democrata pretende criar um “programa de reestruturação empresarial à semelhança do modelo adotado na Caixa Geral de Depósitos, ou no Lloyds Bank, no Reino Unido: um plano estratégico robusto, não fantasioso, com intervenção bem delimitada por parte do poder político na aprovação e monitorização das linhas estratégicas e não no dia-a-dia como tem acontecido, de acordo com critérios e objetivos credíveis”.
IL E A TAP A Iniciativa Liberal menciona o nome da “TAP”, pelo menos, 45 vezes no seu programa eleitoral, e o título do capítulo que lhe dedica não deixa dúvidas sobre a posição do partido relativamente à companhia: “Nem mais um euro para a TAP!”
A proposta é direta: “Retirar o Estado da TAP o mais rapidamente possível para salvaguarda dos interesses dos contribuintes” e “solicitar ao Tribunal de Contas que realize uma auditoria ao processo de recomposição do capital social da TAP SGPS ocorrido em 2020”.
Em campanha, João Cotrim Figueiredo, líder da IL, abordou o assunto. Num almoço com a sua Comissão de Honra, ontem, Cotrim Figueiredo discursava sobre as necessidades do país, e atirou: “E já agora, porque isso me enerva, sair da TAP logo que possível.”
CDS E A VENDA Quem também se pronunciou sobre o futuro da TAP foi Francisco Rodrigues dos Santos, líder do CDS-PP, ainda em dezembro do ano passado.
“A TAP voltou a provar que é uma birra do ministro Pedro Nuno Santos, e que é um buraco negro para os contribuintes” atacou o líder centrista, na altura, numa nota onde disparou: “Com o CDS-PP no governo a TAP será privatizada no dia seguinte.”
A posição manteve-se durante o debate entre ‘Chicão’ e João Cotrim Figueiredo, onde ambos falaram sobre as privatizações da TAP, CGD e RTP. Francisco Rodrigues dos Santos mostrou-se a favor da privatização, mas avisou: “Nós não somos capitalistas selvagens, nem colocamos a economia à frente das pessoas como o João Cotrim Figueiredo.”
PCP E O PLANO Os comunistas, por sua vez, pretendem “assegurar o desempenho presente e futuro de empresas estratégicas para o País”, conforme se pode ler no seu compromisso eleitoral, e dão destaque a “opções urgentes” como o desenvolvimento da TAP enquanto empresa pública. Como? Através da “concretização de um plano de contingência liberto das pressões da UE”.
LIVRE QUER PLANO O próprio Livre tem também no seu programa uma proposta para a TAP, onde defende a criação de “um plano estratégico integrado para o futuro da TAP enquanto companhia pública nacional, que acompanhe o necessário decrescimento do setor aéreo”. Mais, o partido de Rui Tavares quer envolver os trabalhadores da TAP no desenho deste plano, exigindo também que dele conste ”o compromisso pela eficiência energética dos voos e da redução de emissões por parte da empresa”.