Num momento em que a Rússia tem 100 mil tropas estacionadas na fronteira com a Ucrânia, esse número “poderia ser duplicado relativamente rápido”, alertou o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, esta quarta-feira, após reunir com dirigentes ucranianos, incluindo o Presidente Volodymyr Zelensky. Até agora, as negociações para evitar uma guerra entre o Kremlin e Kiev parecem estar a ser infrutíferas. Blinken recusou sequer responder à principal exigência do regime de Vladimir Putin – nomeadamente, que a NATO se comprometa a nunca aceitar a Ucrânia como Estado membro – quando faltava uns meros dois dias para se reunir com o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, em Geneva.
Aliás, horas antes da conferência de imprensa de Blinken, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, frisou à agência estatal russa TASS que aguardavam esse compromisso por escrito. Já o secretário de Estado norte-americano considerou que essa possibilidade não estava sequer em cima da mesa de negociações, e que, como tal, “não é claro qual é a principal exigência da Rússia”.
Já o Presidente ucraniano fez questão de pôr o dedo na ferida, descrevendo o crescente auxílio militar americano ao seu país – nesse mesmo dia, a administração de Biden aprovou uns 200 milhões de dólares (o equivalente a mais de 175 milhões de euros) adicionais – como uma demonstração de que apoiavam os ”planos estratégico para o acesso da Ucrânia à aliança”. Para o regime russo, que se quer afirmar como uma espécie de protetor dos eslavos, que têm o seu berço histórico em Kiev, seria o mais grave insulto imaginável, a divisão “do que é essencialmente o mesmo espaço histórico e espiritual”, descreveu Putin num artigo de opinião, em julho deste ano.
Entretanto, de ambos os lados da fronteira, cada vez mais militares e milícias se preparam para o conflito. “É quase impossível imaginar o que acontece se tiver de deixar tudo e combater”, disse Marta Yuzkiv, uma funcionária de uma farmacêutica que, como tantos outros ucranianos, tem passado os seus fins de semana em treinos militares com as forças voluntárias, de maneira a fazer a vida negra a eventuais invasores russos. “Pode acontecer. Estou a tentar estar pronta para isso, porque não quero preservar o que tenho pagando o preço de viver sob ocupação”, explicou à DW.