O Partido Socialista foi o grande vencedor da noite eleitoral, preparando-se para tomar as rédeas do país durante mais quatro anos, depois de ter chegado ao poder em 2015. E, desta vez, com maioria absoluta – a segunda na sua história, depois da vitória de José Sócrates em 2005.
É o adeus oficial à ‘geringonça’, às negociações e aos ‘debates’ de um Partido Socialista que conquistou a maioria absoluta dos lugares no Parlamento.
As projeções davam razões para sorrir no Hotel Altis, em Lisboa, onde estava montada a festa socialista – até porque a maioria absoluta tão desejada por António Costa no início da campanha eleitoral não estava longe das possibilidades, e acabou por se concretizar, uma vez revelados os resultados oficiais.
Desde o hotel lisboeta, Costa comandou as tropas socialistas ao longo da noite eleitoral, com Pedro Nuno Santos – ministro das Infraestruturas e até aqui forte candidato à sucessão na liderança do PS – à sua esquerda. Já Duarte Cordeiro, diretor de campanha socialista que ganha novo lugar na corrida pela sucessão socialista, surgia de sorriso rasgado frente aos vários militantes socialistas que se juntaram, celebrando uma “vitória da humildade, da confiança e pela estabilidade”.
No quartel socialista das eleições legislativas, juntava-se la créme de la créme do partido, esperando conquistar a tão esperada maioria absoluta. O ambiente mantinha-se inicialmente esperançoso mas ameno, até porque assim o tentava manter Costa, relembrando constantemente que a noite ainda seria longa – mas a temperatura foi subindo à medida que os resultados iam sendo revelados, mostrando uma vantagem folgada dos socialistas, que conseguiam cheirar a maioria absoluta a chegar.
Ouvia-se gritar por Costa, quando os resultados continuavam a debitar novos mandatos para o Partido Socialista a ‘torto e a direito’. E eis que o secretário-geral do PS surgiu perante os militantes sorridentes, junto da sua mulher, por entre gritos de alegria dos mesmos, ao som de música épica que fazia jus ao momento de glória vivida pelos socialistas.
Costa bem que queria começar com o seu discurso da vitória, mas os socialistas não evitaram mostrar efusivamente o seu apoio ao recém-eleito primeiro-ministro, que se mostrava emocionado enquanto fazia um compasso de espera para começar as suas declarações.
“Tenho de reconhecer que esta noite é muito especial para mim, seguramente para todos nós. Depois de seis anos como primeiro-ministro, dos últimos dois anos no combate sem precedentes contra uma pandemia, é com muita emoção que assumo esta responsabilidade que os portugueses me confiaram”, disparou inicialmente Costa.
Esta foi uma vitória “da humildade, da confiança e pela estabilidade”, garantiu o secretário-geral do PS, dirigindo os seus agradecimentos aos seus companheiros de partido pelo trabalho na campanha.
Costa teceu agradecimentos a várias figuras, entre elas a Carlos César, presidente do partido, que não pôde estar em Lisboa por motivos de saúde, e a Duarte Cordeiro, diretor de campanha e eleito deputado nestas eleições. “Tão simpatizante que parecia militante”, a mulher de Costa foi também alvo de agradecimentos.
“Os portugueses mostraram um cartão vermelho a qualquer crise política, e manifestaram o seu desejo de contarem com estabilidade, certeza e segurança no rumo certo para o nosso país”, afirmou o primeiro-ministro, que interpreta esta vitória como “um voto de confiança e uma enorme responsabilidade pessoal de promover os consensos necessários na Assembleia da República”, até porque “uma maioria absoluta não é um poder absoluto”.
Virar a página da pandemia e mobilizar as energias no progresso do país são as missões do PS, garantiu Costa, que acenou com um plano de investimentos e reformas para tornar Portugal num país “melhor”.
Apesar de, naquele momento, não estar assegurada oficialmente a maioria absoluta, Costa avançou com o número mágico: os socialistas elegeriam entre 117 e 118 deputados. Uma maioria “de diálogo”, garantiu Costa. “É nosso dever, agora acrescido, manter aberto este diálogo ao longo de toda a legislatura”, continuou o primeiro-ministro.
‘CAVAQUISTÃO’ JÁ ERA O país inteiro pintou-se de rosa, e uma das vitórias mais marcantes dos socialistas foi no distrito de Viseu, vulgo ‘Cavaquistão’.
Os socialistas conquistaram 41.55% dos votos em Viseu, ao passo que o PSD ficou-se pelos 36.81%. Significou isto um crescimento exponencial dos socialistas, que em 2019 não passaram dos 35.37%, conquistando assim o melhor resultado de sempre neste distrito ‘tipicamente’ social-democrata.
Socialistas e social-democratas elegeram igual número de deputados por este círculo eleitoral (quatro), mas o PS venceu em termos de votos concretos, conquistando 76.642 votos, contra 67.888 dos social-democratas.
Bragança por pouco Curiosa foi também a vitória socialista no distrito de Bragança, onde o PS venceu por uns curtos 15 votos de diferença, tornando-se, pela primeira vez, no partido maioritário neste círculo eleitoral. Em terras brigantinas, os socialistas conquistaram 40.30% dos votos, que se traduziram em dois deputados eleitos. O PSD, por sua vez, contabilizou 40.28% dos votos, elegendo apenas um deputado. Foram 26.495 votos socialistas contra 26.480 votos social-democratas, que fizeram do PS o partido com mais deputados eleitos por este círculo eleitoral, pela primeira vez na história.
Mudanças no Porto Os socialistas venceram no distrito do Porto, elegendo 19 deputados – mais dois do que em 2019. 42.53% dos votos foram para os socialistas, contra 32.33% para os social-democratas.
Os socialistas beneficiaram da ‘viagem’ dos votos do PSD para a IL e o Chega. Os liberais conquistaram dois mandatos neste círculo eleitoral, e o Chega mais dois.
Coimbra reforça PS Em Coimbra, onde o PS sofreu uma pesada derrota nas eleições autárquicas (na capital do distrito), os socialistas corrigiram o rumo e conquistaram mais um deputado. Se, em 2019, Coimbra elegeu cinco deputados socialistas, 2022 foi o ano em que o PS ganhou mais um deputado eleito por este círculo eleitoral, passando a seis. O reforço deu-se à custa do mau resultado eleitoral do BE neste distrito, onde José Manuel Pureza ficou, desta vez, de fora do Parlamento.