Em política, uma derrota eleitoral pesada leva, normalmente, à dança das cadeiras nos partidos. É o que vai acontecer no PSD, uma vez que, logo após a hecatombe do passado domingo, Rui Rio apregoou não saber como «poderia ser útil ao partido» nos restantes quatro anos. O seu discurso foi, então, uma espécie de demissão protoanunciada – concretizada na quinta-feira à noite, quando confirmou a realização de diretas antecipadas nas quais não será candidato.
Aqui chegados, e tendo a era de Rio secado, para levar água à São Caetano está já na calha um principal nome: Luís Montenegro, líder parlamentar do PSD de Passos Coelho. Logo depois, surgem os de Paulo Rangel e de Miguel Pinto Luz. Entre si, os três comungam a experiência de terem sido derrotados por Rui Rio em diretas. Dentro do PSD, Rangel e Montenegro estarão, ideologicamente, mais à direita do que Pinto Luz. Ao que apurou o Nascer do SOL, todos sentem poder beneficiar de apoios da ala rioísta. Acontece que, sabe também o Nascer do SOL, parte significativa dessa ala não quer apoiar nenhum, demonstrando estar a resguardar-se para o próximo ciclo político interno no PSD. Além disso, importante também notar que, neste momento, Rangel só avançará no caso de Pinto Luz se ficar. Há ainda um quarto nome sobre o qual não se tem certezas: trata-se de Jorge Moreira da Silva, antigo ministro do Ambiente de Passos Coelho. Ao que apurou o Nascer do SOL, Moreira da Silva nunca avançará como terceira força, pelo que só o fará na iminência de Montenegro ir sozinho.
Quanto à eventual candidatura de Montenegro, a doutrina divide-se: se, por um lado, se diz que o espinhense não tem grande interesse nisso e que Salvador Malheiro só disse o que já disse – «Poucos reúnem as condições que Luís Montenegro reúne» – por uma questão de cortesia, outros afirmam que Malheiro apoiará, efetivamente, Montenegro para a liderança do partido. E fazem-no recuperando a aproximação entre os dois, que ficou pública e notória durante o último Congresso do partido (em Aveiro, distrito de ambos) e durante a campanha das legislativas. Há ainda quem note que as palavras de Malheiro cairam mal nos dois lados: nos rioístas porque pareceu que Malheiro ‘virou’ demasiado rápido, nos montenegristas porque não gostaram de ter visto um rioísta a anunciar uma sua eventual candidatura.
Rangel pede ‘renovação’, Pinto Luz está em reflexão
Depois, Rangel. O eurodeputado, que acabou de ser derrotado por Rio, escreveu no Público de quinta-feira um artigo de opinião em que notava a «renovação do partido» como um dos seus «grandes desafios». «Programática» e «de rostos», escreveu, sugerindo a ideia que estaria a lavrar a sua própria terra. Fala ainda na necessidade de «liderar a oposição de um modo visível, afirmativo, construtivo». Quanto a debates ideológicos ou de posicionamento político-partidário, põe-nos em segundo plano.
Fruto da ainda tão recente derrota com Rio, Paulo Rangel está politicamente desgastado. Por essa razão, Miguel Pinto Luz, que o apoiou em novembro encontra-se agora na mó de cima. E, se Luz avançar, Rangel fica no escuro – são mutuamente exclusivos. O vice-presidente de Cascais, que dissolveu a sua protocandidatura na de Rangel em novembro, está agora em reflexão acerca de uma eventual investida à liderança do PSD. O Nascer do SOL apurou que, ainda sem decisão tomada, e sendo pressionado por estruturas de norte a sul do país, Pinto Luz deverá revelar em breve quais as suas intenções.
O PSD ‘batata-quente’
Há ainda um dado em ter em conta nesta corrida à presidência do PSD: é que liderá-lo, neste momento e com uma legislatura de maioria absoluta, queima. E a ideia é consensual: quem quer ser primeiro-ministro depois de António Costa não deve avançar agora.
Recorda-se, aliás, que a última vez que o PSteve maioria absoluta, o PSD teve como líderes Marques Mendes, Luís Filipe Menezes e Manuela Ferreira Leite e foi Pedro Passos Coelho quem conseguiu chegar a primeiro-ministro e apear José Sócrates.
O facto número um é que faltam quase cinco anos para as próximas legislativas. O facto número dois é que esses cinco anos compreenderão três eleições diretas do partido (como Rio sublinhou na quinta-feira). Ou seja, quem for agora eleito, se quiser ser primeiro-ministro, terá que sobreviver a duas eleições internas, por um lado, e garantir que cinco anos na oposição não desgastarão em demasia, por outro. E se, por um lado, Pinto Luz não se importará de ser um líder-mártir só para reestruturar a casa durante este período, sabe o Nascer do SOL que, por outro, a ala de Rio está mais retraída, pretendendo apenas voltar em força daqui a quatro anos. Esta, aliás, até colhe simpatia pela ideia de nomes como Pinto Luz ou Moreira da Silva assumirem o partido desde já. Assim o é porque os veem com um perfil ‘necessário’ para arrumar a casa, mas não para serem primeiros-ministros.
Entretanto, há outro lugar em disputa: o de líder da bancada parlamentar do partido. Ao que o Nascer do SOL apurou, há três principais nomes apontados para o lugar: o de Adão Silva, que já o foi na última legislatura, o de André Coelho Lima, vice-presidente do partido, e o de Ricardo Baptista Leite, que encabeçou a lista por Lisboa e ganhou visibilidade durante a pandemia.