Salvé dr. António Costa, sr. primeiro-ministro!

Por tudo isto, será fundamental termos um novo Governo ‘arejado’, com gente e mentalidades novas. Veremos se os políticos de carreira serão finalmente substituídos por quadros que trabalhem por objetivos concretos (resultados), conheçam a realidade empresarial e que sobreponham o país a ideologias, no fundo, termos um Governo amigo de Portugal.

Por Manuel Boto, economista

Escrever sobre umas eleições cerca de uma semana depois tem o inconveniente de quase tudo já ter sido dito. Depois de semanas de sondagens que nos levaram a acreditar que existia um empate técnico entre Costa e Rio com vantagem para o PS, a maioria silenciosa pronunciou-se e deu uma maioria absoluta a António Costa, acreditando nos benefícios da estabilidade e que as suas políticas nos conduzirão a todos a um Portugal melhor! Salvé sr. primeiro-ministro!

Devo dizer que, tal como muitos comentadores, também fui bem enganado pelas sondagens, nunca acreditando na possibilidade de uma maioria absoluta. Mas, as coisas são como são e perante os factos, procuremos ver as possíveis vantagens para o país desta nova e inesperada composição da Assembleia.

Para já, Marcelo conseguiu a estabilidade que há muito reclamava, mesmo que desta resulte uma óbvia perda de influência política. Outra realidade insofismável é que, se o PS e Costa assim o quiserem, esta maioria absoluta tem condições para alterar o rumo dos últimos anos, ou seja, substituir os caminhos de sistemáticas cedências à esquerda revolucionária por reformas absolutamente essenciais.

Em particular, refiro-me à modernização do aparelho do Estado e a intervenções urgentes em setores vitais como a Saúde, Educação e/ou Justiça, sem esquecer a Economia, sabendo conviver com os privados, englobando políticas amigas do investimento que contribuam para o crescimento económico que Portugal precisa.

Todos temos consciência que os próximos anos serão muito difíceis, dado que os cenários económicos que se perspetivam, mesmo com o PRR, nada auguram de bom. A subida do preço da energia, as ameaças internacionais de guerra envolvendo países produtores, tudo aponta para dificuldades adicionais. A forte probabilidade de uma inflação duradoura irá ter múltiplos reflexos em todos os setores, mas poderão ser particularmente gravosos na subida das taxas de juros. 

Por tudo isto, será fundamental termos um novo Governo ‘arejado’, com gente e mentalidades novas. Veremos se os políticos de carreira serão finalmente substituídos por quadros que trabalhem por objetivos concretos (resultados), conheçam a realidade empresarial e que sobreponham o país a ideologias, no fundo, termos um Governo amigo de Portugal.

Falemos um pouco do PSD, refém de Rio e das suas políticas de vistas curtas. Não aceitou a coligação com CDS nem conversar sequer com a IL. Qualquer contabilista sabia que somar votos neste sistema eleitoral por via de coligações teria impacto certo no acréscimo do número de deputados. Como vimos pelos resultados das eleições, bastaria a coligação com o CDS para o PS não ter a maioria absoluta. Mas Rio terá tido qualquer visão premonitória e preferiu seguir sozinho. Hoje está mesmo sozinho!

O PSD vai agora conseguir um líder para quatro anos de oposição? Alguém com esperanças de vir a ser líder do partido vai aceitar percorrer nestas circunstâncias um longo caminho de pedras e de ‘seca’ prolongada? Rio disse na noite das eleições, entre preocupações de «contas certinhas» e frases em alemão, que pouco pode ser útil ao PSD nos próximos quatro anos. Para já, vimos que foi muito útil ao PS nestes anos de submissão e colaboração, bem como ao Chega e IL que aproveitaram bem para se afirmarem como oposição, dado que Rio nunca emergiu como tal. Veremos quem irá liderar o PSD porque não se vislumbra qualquer mártir para segurar a travessia do deserto.

Chega e IL são André Ventura e um partido de quadros respetivamente. Um cresceu pela imagem de oposição a Costa granjeada por Ventura e o outro porque capta uma enorme faixa de juventude e uma larga maioria de quadros que deixou de se rever no PSD e acredita na liberalização da economia como fator do seu crescimento. As futuras intervenções de Cotrim no Parlamento só irão consolidar a IL e ajudar a esvaziar um PSD sem liderança carismática que arrisca um triste ocaso.

Umas palavras para Chicão, um líder de uma Juventude Centrista, que ascendeu precocemente a um lugar para o qual, nos tempos atuais, não tinha preparação. Mas, sinceramente, também me chocou ver militantes de topo do CDS a anunciar irem votar na IL. Não foi apenas uma derrota preanunciada – foi também um frio assassinato político por quem foi derrotado no Congresso que o elegeu.

Catarina e Jerónimo passaram à história. No Bloco, nomes consagrados do partido já ‘leram a sentença’ a Catarina, mas esta, como boa militante da esquerda revolucionária, entende que eleições ‘burguesas’ são irrelevantes para determinar quem devem ser os líderes da revolução. Jerónimo, inspirado nas revoluções marxistas e sempre falando em nome de um povo que não o reconhece, fez um apelo dramático aos sindicatos para conseguirem na rua o que não se consegue nas urnas. Por mim, deixem-se estar nas respetivas lideranças.

O PAN implodiu há muito e Inês Sousa Real nunca o percebeu até à noite das eleições e a sua entrada no Parlamento deverá ser o ‘requiem’ do partido. O Livre confunde-se com Rui Tavares que, saindo do Bloco e tendo agora a visibilidade parlamentar que nunca antes teve, irá contribuir para o martírio de Catarina ou de quem lhe suceder.
Em resumo, Costa tem finalmente a oportunidade sonhada de uma maioria absoluta na qual verdadeiramente nunca acreditou. Serão quatro anos para inserir o seu nome na plêiade dos grandes líderes políticos nacionais do século XXI, mas, para isso, terá de demonstrar que sabe construir e não apenas distribuir!