Há muito tempo que não se assistia a uma expectativa tão elevada em relação ao possível resultado que o PSD poderia vir a obter. No seio do partido, mas também entre os comentadores e na opinião pública foi crescendo a perspetiva de que o PSD poderia mesmo vencer as eleições.
O que estava em causa era uma mudança substancial ou a continuidade das políticas implementadas em Portugal.
O desafio que foi colocado aos portugueses teve origem no desentendimento entre o Governo de António Costa e os partidos de esquerda que o apoiavam até então. Esta circunstância propiciava, desde logo, pela reprovação da atitude e pelo risco de a esquerda perder o poder, o favorecimento da concentração do voto à esquerda no Partido Socialista.
Por outro lado, as sondagens e as respetivas interpretações, umas vezes ligeiras e precipitadas, outras vezes intencionais, permitiram que o PS as utilizasse em seu benefício, ora acenando com o regresso da austeridade, ora assustando com a chegada ao poder da extrema-direita, mas sempre provocando a mobilização e concentração do voto à esquerda, depois de ter aprendido com as consequências das sondagens para as eleições autárquicas em Lisboa.
Também o ambiente de incerteza decorrente do estado de pandemia que o país e o mundo atravessam condicionou estas eleições. O receio face ao futuro favoreceu o PS que – umas vezes mal, outras vezes bem – conseguiu conduzir o país durante este período tão difícil para todos. A ironia é que o PS beneficiou de uma atitude responsável do PSD que sempre recusou, e bem, fazer combate político com a pandemia, optando pelo apoio perante a grave situação que os portugueses viveram.
Este conjunto de circunstâncias condicionou decisivamente o resultado eleitoral.
Acresceu a este ambiente, um ataque bem planeado ao PSD com acusações infundadas e dúvidas artificialmente criadas sobre as suas posições em relação a questões socialmente relevantes como o SNS, o salário mínimo ou a condescendência perante a extrema-direita. Esta ofensiva acabou por conseguir lançar receios e incerteza, não obstante a clareza do programa eleitoral do PSD e o posicionamento político do seu líder.
O PSD apresentou um programa eleitoral muito consistente, resultante de reflexão e contributos muito alargados. A confiança e concentração nas propostas desguarneceu a resposta aos danos causados pelos ataques ocorridos e pela dinâmica da campanha eleitoral através da criação de um ambiente de dúvida e de incerteza quanto à estabilidade – que, no final, veio a ser um fator determinante na reposta dos eleitores.
Perante o resultado, Rui Rio tomou a decisão que já tinha antecipado para este cenário. Podia demitir-se de imediato – provavelmente mais confortável do ponto de vista pessoal –, mas optou, e bem, por uma transição sem precipitações, permitindo a necessária reflexão prévia sobre o futuro do PSD. Também por esta atitude merece respeito.
A propósito de respeito e de precipitação, importa que o PSD não tenha a tentação de perder a sua identidade social-democrata e que, internamente, mude de atitude, deixando de viver em permanente guerra civil declarada ou latente. O PSD só voltará a ganhar eleições quando todos quiserem a vitória.
Entretanto, o PS está de parabéns pela vitória eleitoral e tem todas as condições para não falhar. Não terá desculpas.