Mais de uma semana depois de Rui Rio ter confirmado a decisão de deixar a liderança do partido e declarado a vontade de ser substituído na presidência do PSD até julho, o clima que se vive no partido é de expectativa. Ou de espera. A corrida à liderança ainda se joga pelo mistério, sendo o único nome quase dado como certo o de Luís Montenegro, que vai somando apoios da ala passista, de onde provém, à ala rioísta.
Quanto a Miguel Pinto Luz, que concorreu contra Montenegro e Rui Rio nas antepenúltimas diretas, está tentado a avançar com uma candidatura, enquanto alternativa a Montenegro. E, se assim for, retirará todo o espaço a uma hipotética candidatura de Paulo Rangel, cuja pesada e recente derrota contra Rio, em novembro, não lhe permitirá grandes veleidades.
Já Jorge Moreira da Silva, outro dos nomes que têm gerado movimentações de bastidores e um dos mais apontados no aparelho partidário por representar um caminho de novos horizontes, continua sem abrir o jogo.
Ao que o Nascer do SOL apurou, a hipótese de o antigo ministro do Ambiente de Passos Coelho avançar com uma terceira candidatura (no caso de Montenegro e Pinto Luz ou Rangel confirmarem a ida a jogo) é carta fora do baralho.
A entrar na corrida, Moreira da Silva só o fará caso o antigo líder parlamentar de Passos Coelho não tiver opositor.
Passista, Moreira da Silva quererá tirar proveito da aproximação de Montenegro a Rui Rio, que começou nas últimas diretas e se confirmou na campanha para as legislativas.
Recorde-se que, dos quatro nomes falados, Moreira da Silva foi o único que não participou ao lado de Rui Rio em qualquer ação de campanha para as eleições legislativas de 30 de janeiro.
Além desse trunfo, Moreira da Silva, a avançar, espera ainda poder contar com o apoio de Salvador Malheiro, de quem é muito próximo desde os tempos em que liderou a JSD.
Malheiro foi o primeiro a lançar o nome de Luís Montenegro como melhor colocado para suceder a Rui Rio, na semana seguinte às eleições legislativas, mas uma entrada em campo de Moreira da Silva, dizem fontes próximas, poderia fazê-lo mudar de campo.
Acrescente-se que Emídio Sousa, presidente da Câmara de Santa Maria da Feira, vai ser candidato à distrital de Aveiro com o apoio de Salvador Malheiro, que fica agora impossibilitado de se recandidatar à liderança. E os dois estiveram sempre em lados opostos tanto a nível regional como interno — Emídio com Montenegro e Malheiro com Rio.
O encontro de ex-rivais
As peças no puzzle começaram a encaixar, com Rui Rio e Luís Montenegro, rivais nas diretas de 2020, a protagonizarem um encontro no Porto, um sinal claro de uma aproximação entre os dois, o que aumenta aumenta as hipóteses de vitória de Montenegro, tendo em conta que a reunião, que serviu para discutir o resultado das eleições legislativas, o calendário interno e o futuro do partido, está a ser encarada como mais uma tentativa de reunir apoios para uma candidatura única à liderança.
Aqui chegados, só um candidato igualmente blindado poderia fazer frente ao antigo líder parlamentar e disputar a ala que fica orfã de Rio.
Do outro lado da barricada
Paulo Rangel e Miguel Pinto Luz partilham também a experiência de terem sido derrotados por Rui Rio em diretas. E é mais aquilo que os une do que o que os separa. Nas últimas diretas, o vice-presidente da Câmara de Cascais foi uma peça fundamental da candidatura do eurodeputado. Só que às forças de Rangel juntou-se depois a base de apoio que tinha estado na origem da candidatura de Luís Montenegro, que se retirou da corrida. Foi aí que o peso de Pinto Luz se foi perdendo para outras figuras do passismo.
Desde aí, os laços entre Pinto Luz e Rangel romperam-se, o que abriu a porta a uma candidatura do vice da Câmara de Cascais e retirou espaço ao eurodeputado.
E, perante a recente aproximação de Montenegro a Rio, Pinto Luz aparece como uma das alternativas capazes de entusiasmar todos os que não se reveem no atual líder.
O que parece bem mais consensual é que, independentemente de quem ganhar, a questão da liderança do PSD não vai ficar resolvida por aqui.
Considerando que António Costa ficará à frente do Governo até 2026, quem vier agora a ser eleito terá quase cinco longos anos de oposição a uma maioria absoluta, o que desde logo não é animador. Além disso, terá de enfrentar pelo menos mais duas eleições diretas até 2026 e só aí escolher em definitivo o líder que vai disputar as próximas legislativas.
Parece, portanto, óbvio que o próximo presidente do PSD terá um papel de transição, destinado a durar pouco tempo, o que condiciona os potenciais candidatos. Quem se atrever a avançar tem de estar consciente as dificuldades vão ser muitas e que o cargo, neste momento, é talvez o menos atrativo no domínio da política nacional.
Da última vez que o PSD encontrou um cenário idêntico, foi com a maioria absoluta de José Sócrates. Em quatro anos, saíram em cinzas três presidentes: Marques Mendes, Luís Filipe Menezes e Manuela Ferreira Leite. A salvação só veio mais tarde com Pedro Passos Coelho.
Se a história explica, nada aponta para que o cenário não volte a repetir-se. E quem tiver aspirações de vir a ser primeiro-ministro não arriscaria tudo agora para acabar apenas como ex-líder do PSD.