Um alívio “progressivo e em segurança” das restrições da pandemia: a visão foi deixada ontem pela diretora-geral da Saúde como antecâmara da reunião do Infarmed que esta quarta-feira será à distância. É a ideia que vem sendo partilhada publicamente por vários especialistas ouvidos regularmente pelo Governo e que hoje darão o seu parecer ‘oficial’.
A situação epidemiológica é favorável e será apresentada no Infarmed como tal: os diagnósticos de covid-19 em Portugal têm vindo a baixar desde que se atingiu um pico na última semana de janeiro, tendo começado por descer na população mais nova, que representou a maioria das infeções, e descedendo agora também nos mais velhos. O impacto hospitalar foi menor e os números de janeiro e fevereiro em nada se comparam com a situação vivida em 2021.
Mas há alguns sinais de estabilização nesta descida de infeções e o vírus continua a circular com intensidade elevada (17 vezes acima do que no passado se considerou como limitar de alerta, os 240 casos por 100 mil habitantes a 14 dias). Por outro lado, revelou ontem o Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, a segunda linhagem da Omicron (BA.2) aumentou o seu peso nos diagnósticos de covid-19 feitos nos últimos dias, representando agora 24,3% dos novos casos.
Omicron 2 mais em Lisboa A circulação desta segunda linhagem da Omicron parece ser maior na região de Lisboa e Vale do Tejo, indicou o INSA. No Reino Unido, onde as reinfeções já estão a ser monitorizadas diariamente (em Portugal, sabe o i, a Direção Geral da Saúde está a preparar um relatório mas ontem ainda não tinha dados para apresentar), confirma-se que esta vaga da Omicron se registou uma subida nas reinfeções, que se até 16 de novembro representaram 1,4% dos casos de covid-19 no país, agora representam cerca de 10%.
A incógnita é perceber o que se passa a seguir: até ao final da semana passada, embora apenas uma proporção dos casos sejam sequenciados geneticamente, a Agência para a Segurança em Saúde do Reino Unido (UKHSA) não tinha confirmado nenhum caso de reinfeção pela Omicron 2 após uma infeção com a linhagem da Omicron (BA.1) que se tornou dominante no final do ano, mas esse é um cenário em aberto. Por outro lado, o país confirmou que está a investigar casos de recombinação da variante Delta com a variante Omicron, cujos primeiros relatos há três semanas em Chipre não foram na altura confirmados.
Em relação à Omicron 2 (BA.2), a UKHSA indica que ter um período de incubação ligeiramente mais curto (uma média de 3,27 dias até ao início de sintomas em vez de 3,72 dias da BA.1 e 4,09 dias da Delta) mas em termos de proteção vacinal os resultados parecem ser semelhantes para quem fez o reforço, sendo agora preciso perceber o que acontece à medida que a proteção conferida pelo reforço desvanece, notam os peritos britânicos.
A discussão sobre a necessidade de uma quarta dose da vacina, nomeadamente para idosos, deverá estar também em cima da mesa na reunião do Infarmed, dado que tendo iniciado o reforço a 18 de outubro, os mais velhos que receberam a 3ª dose em outubro/novembro estão agora a completar quatro meses após a vacina, o que no esquema inicial foi apontada como a linha a partir da qual a proteção específica decai mais.
Por outro lado, foram menos expostos a infeções nesta vaga da Omicron, em que a maioria dos diagnósticos foram em pessoas mais novas. Para já, não existe qualquer recomendação a nível europeu nesse sentido e a Suécia foi o único país a avançar, recomendando a quarta dose para maiores de 80 anos, nomeadamente nos lares, recomendando um intervalo mínimo de quatro meses.
Ponto de situação e o risco do carnaval Segundo o i apurou, embora haja uma situação epidemiológica favorável, e de ter havido um muito menor impacto hospitalar na atual vaga, esta circulação da BA.2 e o carnaval a 1 de março são outros fatores equacionados pelos peritos na hora de aconselhar o Governo sobre a estratégia a seguir no curto prazo, com ideias como alívio do uso de máscara no exterior e de certificados em algumas circunstâncias a serem consensuais, mas mantendo-se o apelo a cuidados e isolamento de pessoas infetadas e contactos de maior risco sem reforço vacinal.
Esta terça-feira, calculou o i a partir dos dados da Direção Geral da Saúde, Portugal registava uma incidência a 14 dias 4089 casos por 100 mil habitantes, quando no pico chegou a registar-se uma incidência superior a 7 mil casos por 100 mil habitantes. Nos últimos sete dias, os diagnósticos baixaram 54%.
Na semana passada, o país passou a barreira dos 3 milhões de infeções, mais de 1,6 milhões desde o início do ano, o que significa que pelo menos 16% da população teve um teste positivo. Pensando que pelo menos metade das infeções ficarão por diagnosticar, a estimativa feita por algumas equipas, pelo menos um terço da população portuguesa já terá estado infetada este ano, podendo o número ser superior.