As empresas portuguesas têm mais de duas mil vagas de emprego para refugiados provenientes da Ucrânia. A garantia foi dada pela ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, que remete para a plataforma criada para reunir ofertas de trabalho de empresas nacionais. Um número que, de acordo com Ana Mendes Godinho, “mostra bem a dinâmica das empresas que estão a aderir”.
O Governo aprovou ontem um mecanismo simplificado para a obtenção de proteção temporária por parte de refugiados ucranianos, prevendo que os cidadãos que cheguem a Portugal tenham a garantia de ficar em situação regular, sendo-lhes atribuído de forma automática Número de Identificação Fiscal (NIF), Número de Identificação da Segurança Social (NISS) e número de utente do Serviço Nacional e Saúde (SNS). “Há momentos na vida em que o que se impõe é uma resposta global a esta situação humanitária. Não temos estimativas de custos”, disse a ministra de Estado e da Presidência, quando questionada sobre quanto poderá custar este acolhimento.
De acordo com Mariana Vieira da Silva, o Governo está a trabalhar “numa situação que possa ser de plena integração”. E acrescentou: “Sabemos que ter um trabalho é sempre um dos elementos fundamentais dessa integração e também algo que permite que as pessoas possam viver a sua vida de forma autónoma. Estamos preparados para as respostas sociais que sejam necessárias e este é mesmo o momento de dar esta resposta”. E afirmou que já há capacidade para acolher 1245 pessoas. “É uma evolução muito significativa. O Governo está a trabalhar com diversas instituições, com as câmaras e com a sociedade civil para ter uma lista de alojamentos já disponível», considerando que este é um processo semelhante ao que aconteceu com a situação do Afeganistão.
É certo que este vinda de ucranianos para o nosso país poderá ajudar a resolver o problema que as empresas têm em relação à falta de mão-de-obra. Esta lacuna é transversal a todos os setores. E a opinião é unânime de acordo com vários empresários e economistas já contactados pelo i. Há falta de pessoas para trabalhar e muitos apontavam a imigração como solução para resolver o problema.
De acordo com as contas feitas pela Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) faltam 40 mil trabalhadores no setor. “Antes da pandemia fizemos um debate de um dia inteiro sobre o mercado de trabalho, sobre as dificuldades que estávamos a sentir e, na altura, chegámos à conclusão que se tivéssemos 40 mil pessoas teríamos dado emprego a essas 40 mil. Já estávamos a falar, nessa altura, de uma grande carência de mão-de-obra no setor, até porque estava a crescer. A situação não só não se resolveu como até se agravou”, disse Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP.
Uma opinião partilhada por Daniel Serra. O presidente da Pro.Var confirma que há escassez de mão-de-obra no setor da restauração. “O Governo deve rever urgentemente as políticas relacionadas com o incentivo ao emprego, do ponto de vista da procura e da oferta”, apelou o responsável. Daniel Serra afirmou ainda que “é preciso implementar novas regras de incentivo ao emprego”.
Pedidos multiplicam-se O cenário repete-se na construção. De acordo com o presidente do Sindicato da Construção de Portugal, Albano Ribeiro, só este setor precisa de 80 mil trabalhadores. Uma escassez que poderá pôr em causa vários projetos que estão em cima da mesa – nomeadamente as obras no Metro em Lisboa, obrigando “muitas obras públicas e privadas a não avançarem”.
Os dados também não são animadores na distribuição. Gonçalo Lobo Xavier, secretário-geral da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), chegou a admitir que há dificuldade em recrutar pessoas. “Tem sido uma matéria que pode causar surpresa a muita gente mas é transversal a todos os setores”.
No setor dos vinhos a realidade ganha maiores contornos na altura da vindima. “Temos um problema estrutural da falta de mão-de-obra que se está a agravar em algumas regiões, um bocadinho mais do interior. Têm que ser encontradas soluções e, claramente, ir buscar mão-de-obra fora. Trazer mão-de-obra de fora nestas épocas torna-se cada vez mais essencial. Mas é um problema que nós temos, estrutural, e que vai continuar a agravar-se”, referiu ao nosso jornal.
Também o presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP) reconhece que esta está a ser uma verdadeira dor de cabeça junto dos empresários. No entanto, o patrão dos patrões garante que a crise pandémica veio despertar “a perceção de todos em relação à maneira de estar e depois houve o abandono de muita gente que trabalhava, até porque alguns se reformaram mais cedo”, acrescentando que “há uma postura diferente na forma de estar do trabalho que sociologicamente deve ter alguma leitura e deve ser avaliado. Mas não é só um problema nosso, os trabalhadores americanos estão-se a despedir em massa desde a pandemia”. *Com Daniela Soares Ferreira