Marco Galinha vai intentar ação cível e apresentar queixa-crime contra Mariana Mortágua, depois da deputada do BE, num espaço de comentário da SIC Notícias sobre a invasão russa à Ucrânia, ter acusado, na segunda-feira, o presidente do Conselho de Administração do Grupo Bel e do Global Media Group (GMG), que detém o Jornal de Notícias, Diário de Notícias, TSF e outras publicações, de ter ligações com um oligarca russo.
Marco Galinha acusa a bloquista de «uma campanha persecutória com recurso à insinuação», que considera que serve para «escamotear a ausência de posição de condenação por parte do Bloco de Esquerda, relativamente aos bárbaros atos de Putin e dos dirigentes russos contra o sofrido e bravo povo Ucraniano».
«Repudio veementemente as afirmações da deputada Mariana Mortágua, que pretendem associar-me à identificada ‘oligarquia’ russa, recusando qualquer tentativa de colagem e aproveitamento político da minha relação familiar. Não tenho, nem nunca tive, qualquer relação com homens e mulheres próximos do poder russo, empresas russas ou denominados ‘oligarcas’ russos», lê-se numa nota enviada às redações.
A bloquista insiste que o empresário português será sócio em vários negócios de Mark Leivikov, um empresário próximo de Vladimir Putin e proprietário de empresas em Portugal e que, segundo Mortágua, «enriqueceu com empresas industriais e de energia na Rússia que entretanto foi desfazendo para construir um império offshore».
Ora, o administrador do GMG garante que o seu sogro, Markos Leivikov, não está ligado a qualquer processo de Vistos Gold, não é sócio ou acionista ou titular de qualquer interesse do Global Media Group e também não é sócio ou acionista do Grupo Bel.
A revista Visão, em julho de 2021, escreveu que o «tubarão dos média» teria negócios com a Rússia. O artigo em causa motivou a intervenção da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) e a obrigação de publicação de um direito de resposta, no qual Marco Galinha garante que conduz os seus negócios de forma transparente.
Mas as suspeitas que Mortágua levanta sobre as ligações de Galinha à oligarquia russa implicam também… a própria deputada bloquista, uma vez que esta tem desde 2015 uma coluna de opinião que assina no JN (detido pela Global Media), colaboração pela qual garante que continua a ser paga, apesar de em junho de 2021 Marco Galinha ter determinado o fim do pagamento a políticos por artigos de opinião.
Ou seja, a deputada, que tem exclusividade na AR, admite receber dinheiro de uma empresa que, segundo a própria, será financiada por um oligarca russo?
Comentadores da SIC atacam concorrência
Além de Mariana Mortágua, outras caras da SIC têm protagonizado outros violentos ataques a figuras de órgãos de comunicação concorrentes. Esta semana, Ricardo Araújo Pereira fez uso do seu programa Isto é gozar com quem trabalha para desferir um duro golpe ao jornalista Francisco Penim. Na emissão do passado domingo, o humorista ridicularizou o enviado especial da CMTV em Kiev, num segmento em que foram exibidos excertos das reportagens de Francisco Penim. «Ele não sabe nada do que se passa na Ucrânia», assim resumiu o humorista da SIC.
O momento mereceu a condenação de Carlos Rodrigues, diretor-geral do Correio da Manhã e CMTV, que lembrou que o repórter de guerra é um profissional numa situação muito difícil, criticando «o gozo», «a valentia seletiva» e o «ataque descontextualizado, feroz e até indigno» feito por Ricardo Araújo Pereira em torno do trabalho dos profissionais do canal que estiveram na Ucrânia.
O ataque ganha outros contornos uma vez que foi Francisco Penim, na altura em que era diretor de programas da SIC Radical, o responsável por lançar, em 2003, os Gato Fedorento, grupo humorístico de Ricardo Araújo Pereira, José Diogo Quintela e Miguel Góis, sendo que estes dois últimos também integram a equipa do Isto é gozar com quem trabalha.
Ao Nascer do SOL, Penim recusou responder a RAP, limitando-se a dizer: «Os atos ficam com quem os pratica».
Também a palavra «escroque» valeu a Ana Gomes, igualmente comentadora da SIC, uma acusação por difamação do empresário Mário Ferreira (acionista de referência da TVI), na sequência de um longo contencioso, estando o julgamento a decorrer no Tribunal da Comarca do Porto.
A acusação deduzida por Mário Ferreira pede a condenação de Ana Gomes depois das considerações sobre o empresário do grupo Mystic Invest/Douro Azul e da TVI, produzidas pela antiga embaixadora na estação de televisão SIC Noticias e na rede social Twitter, na sequência de investigações e buscas relacionadas com a subconcessão do Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC) e de negócios de navios.
Em reação a um tweet de António Costa após ter participado no baptismo do MS World Explorer (paquete construído por iniciativa do grupo Mystic Invest), a ex-candidata presidencial lamentou que o chefe de Governo tratasse como grande empresário um «notório escroque/criminoso fiscal», além de classificar a venda do «ferryboat» Atlântida como «uma vigarice».