Covid-19. Infeções estão a subir nos mais jovens

Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública considera que não há motivo para alarme e que devem ser mantidas “cautelas” no dia a dia.  

Os diagnósticos de covid-19 estão de novo a aumentar no país com uma subida mais notória das infeções entre adolescentes e jovens. Os dados desagregados por faixa etária da Direção Geral da Saúde mostram que esta segunda-feira houve um aumento de 66% nos diagnósticos entre adolescentes dos 10 aos 19 anos face ao início da semana passada, sendo a subida de 55% nos jovens entre os 20 e 29 anos, havendo no global uma subida de 37% nos diagnósticos face à segunda-feira da semana passada. Uma situação mais marcada em Lisboa, Alentejo e Algarve, sendo o Norte a única região do país onde se mantém uma descida das infeções. 

Depois da inversão na tendência de descida na semana passada, o aumento parece estar a ser transversal a todos os grupos etários, sendo as únicas exceções esta segunda-feira as crianças mais pequenas e os idosos com mais de 80 anos. Verifica-se no entanto um aumento de diagnósticos na população com mais de 60 e 70 anos, grupos mais vulneráveis.

Ao i, Gustavo Tato Borges, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública considera que um aumento de casos seria expectável com o levantamento de restrições e maior normalidade, o que admite que poderá explicar a subida mais acentuada na população mais jovem, nomeadamente pelo regresso a uma vida noturna sem limitações que vigoraram até 19 de fevereiro como testes negativos para a entrada em discotecas. “É a faixa etária com maior mobilidade social e maior propensão para contactos desprotegidos como festas, convívios, desporto, etc.”, explica.

 Para já, o médico considera que não existe motivo para alarme, mas sim para sensibilizar a população para o risco de contágio e para manter cuidados de higiene e atenção a sintomas e evitar “grandes aglomerados populacionais”.

O especialista considera que é cedo para se falar de uma nova vaga de covid-19: “Será preciso acompanhar a situação para perceber se existe um aumento sustentado ou uma estabilização”, diz, relembrando que a expectativa era que os casos de covid-19 viessem a estabilizar numa média de 10 mil diagnósticos por dia. “Caso nada mude, não se prevê um impacto significativo nos serviços hospitalares, pelo que ainda não há sinal de alarme. O importante é que cada cidadão continue a ser cauteloso no seu dia-a-dia, com o uso de máscara sempre que necessário, a desinfeção das mãos e evite situações de grandes aglomerações populacionais”.

O médico de saúde pública considera que, além do alívio restrições, o aumento de infeções estará ligado à maior circulação da variante BA.2 da Omicron, que se tornou dominante no país no fim de fevereiro, parece ser mais contagiosa mas até aqui sem indícios de maior severidade. Quanto às características dos casos que estão a ser reportados, admite que atualmente existe uma menor capacidade de análise dado que os inquéritos epidemiológicos passaram a assentar numa metodologia diferente, de auto reporte por parte dos doentes infetados.

Omicron 2 espalha-se De acordo com o relatório semanal do INSA sobre a diversidade genética do SARS-CoV-2, divulgado ontem, a variante BA.2 “já é claramente dominante em Portugal”, representando 76,2% das amostras positivas de 7 de março. Questionados, o INSA e a DGS não responderam ontem se esta subida de infeções motivou uma alteração das projeções nacionais. Atualmente o país regista uma média diária de 11 321 casos, contra 9620 nos sete dias anteriores. 

Depois de um mês de descida de infeções na Europa, a tendência inverteu-se também no Reino Unido e na Irlanda, nos Países Baixos, Suíça ou na Finlândia e também em Nova Iorque a maior circulação da BA.2 está a ser associada a um aumento de infeções à medida que têm sido levantadas restrições. Ontem, em conferência de imprensa, o diretor da Organização Mundial de Saúde para a Europa alertou para a guerra na Ucrânia e impactos na saúde, nomeadamente nos mais vulneráveis, sublinhando relativamente à covid-19 que apesar de tudo o país tem conseguido manter a vigilância da pandemia e notando o risco para os mais vulneráveis, já que apenas 30% dos ucranianos com mais de 60 anos estão vacinados. Sem assinalar as subidas de casos em alguns países, Hans Kluge disse que a descida das últimas semanas tem sido uma boa notícia, apelando aos países que “equilibrem otimismo com manutenção da vacinação e uma vigilância forte”.