A cada dia que passa a Rússia vê-se mais apertada com as sanções. Ontem, foi a vez do Fórum Económico Mundial – que se deverá realizar em maio, em Davos – decidir suspender as relações com o país.
“Na sequência da sua condenação do ataque em curso da Rússia à Ucrânia, o Fórum cumpre as sanções internacionais em evolução”, garantiram os organizadores do evento à AFP. E acrescentam: “Como resultado, o fórum está a congelar todas as relações com entidades russas e não se envolverá com quaisquer indivíduos ou instituições sancionadas”.
Mas os problemas para o Kremlin – que parecem cair em saco roto – não se ficam por aqui. Segundo o novo pacote de sanções aprovado ontem, o Conselho da União Europeia chegou a acordo para clarificar o enquadramento legal das sanções aplicadas à Rússia para incluir de forma clara os criptoativos – ativos digitais que maioritariamente estão à margem do sistema financeiro tradicional. Em causa está o facto de o bloqueio do sistema SWIFT – serviço que permite que as instituições financeiras troquem de forma rápida e eficiente as mensagens eletrónicas necessárias para levar a cabo transferências bancárias ou ordens de pagamento – estar até aqui a ser contornado, em grande parte, através das criptomoedas e do CIPS, um sistema chinês semelhante ao SWIFT.
Assim, as empresas do setor também terão de implementar as restrições em vigor na UE.
E os números são simples. De acordo com o Banco Carregosa, a bitcoin valorizou cerca de 15% desde a invasão da Ucrânia pela Rússia. “Trata-se de um comportamento atípico, visto que as criptomoedas são percecionadas como ativos de risco e, normalmente, têm tendências similares às ações e outros ativos que têm sido penalizados na última semana”, disse Paulo Rosa.
“O Conselho clarificou a noção de ‘valores mobiliários transferíveis’ para incluir de forma clara os criptoativos, e assim assegurar a implementação devida das restrições setoriais em vigor”, diz o Conselho da União Europeia, após uma reunião dos diplomatas dos 27 Estados-membros na Coreper II (organismo com representantes permanentes de cada Estado-Membro).
Desinformação Também esta quarta-feira o Parlamento Europeu instou a União Europeia a adotar uma estratégia comum contra a ingerência estrangeira e a desinformação. Para isso, deverão ser criadas sanções para punir este género de notícias e falsas propagandas.
Os eurodeputados lamentaram a “falta generalizada de sensibilização para a gravidade da ingerência estrangeira e da manipulação, predominantemente levadas a cabo pela Rússia e pela China” e apelaram ainda a um maior “envolvimento de organizações da sociedade civil na sensibilização do público e na divulgação de informações”.
Resposta e contra resposta Como resposta às sanções americanas e da União Europeia, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, assinou um decreto de “medidas especiais” com o principal objetivo de dar garantias à economia do seu país e que autoriza o Governo a proibir exportações de produtos e matérias-primas.
O decreto proíbe “a exportação para fora da Federação Russa” de produtos e/ou matérias-primas que serão depois detalhadas numa lista a ser aprovada pelo Governo russo nos próximos dois dias.
No entanto, as medidas não se aplicam a “produtos e (ou) matérias-primas exportadas da Rússia e/ou importadas para o país por cidadãos da Federação Russa, cidadãos estrangeiros e apátridas, para uso pessoal”.
Uma resposta ao facto de o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, ter prometido que serão proibidas “todas as importações de petróleo e gás da Rússia”, bem como energia. Isto significa que “o petróleo russo já não entrará nos portos americanos”. E prometeu: “Os americanos vão dar mais um duro golpe nesta máquina de guerra”.
Também a Ucrânia revelou que vai bloquear as exportações de centeio, cevada, trigo sarraceno, milho, açúcar, sal e carne até ao final deste ano. Uma questão que ganha maior revelo quando o país é o quarto maior exportador de alimentos do mundo e responsável por cerca de 20% das importações de trigo da União Europeia.
Ainda na semana passada, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia alertou que o país é “uma das mais importantes garantias de segurança alimentar no mundo” e que “defender a Ucrânia é também proteger o mundo da fome”.