Guerra. Rússia aperta o garrote

As tropas russas chegaram perto da Polónia, Mariupol está destruída, sem água e sem comida,  Meliotopol conta com uma nova autarca. Um jornalista americano foi morto e os refugiados ucranianos já são 2,69 milhões. Assim vai a invasão russa da Ucrânia.

À medida que os dias passam, o poder de fogo das investidas russas na Ucrânia torna-se cada vez maior. Este domingo, pelo menos 35 pessoas morreram num ataque à base de Yaroviv. Mais de 30 mísseis foram disparados pelas forças russas durante a madrugada contra um centro de treinos, usado pela NATO, que fica a 25 quilómetros da fronteira da Polónia.

O ataque foi depois confirmado pelo segundo porta-voz do Ministério da Defesa russo, o major-general Igor Konashenkov, que garantiu terem sido “eliminados” “180 mercenários estrangeiros e um grande carregamento de armas do exterior”.

A Polónia, que é membro da NATO, deixou entretanto um aviso à Rússia, com o Presidente Andrzej Duda a garantir que o uso de armas químicas é uma “linha vermelha” para a NATO. E se a Rússia recorrer a estas estratégias, haverá uma mudança das “regras do jogo” no conflito. “Se ele [Putin] usar armas de destruição maciça, vai mudar as regras do jogo”, disse o responsável em entrevista à BB, acrescentando que a NATO terá de “pensar seriamente” nas próximas ações.

Mariupol totalmente cercada A cidade de Mariupol encontrava-se este domingo, ao final do dia, totalmente cercada. A Câmara local informou que mais de 2100 habitantes foram mortos desde o início da ofensiva russa. “Os ocupantes atacam de forma cínica e deliberadamente edifícios residenciais, zonas densamente povoadas, destroem hospitais pediátricos e infraestruturas urbanas”, acusou a autarquia através do Telegram. “Até agora, 2.187 habitantes de Mariupol morreram em ataques russos”. E acrescentou que, “em 24 horas, tivemos conhecimento de 22 bombardeamentos numa cidade pacífica. Cerca de 100 bombas já foram lançadas sobre Mariupol”.

A cidade passa agora por grandes dificuldades, estando numa situação “quase desesperada” – sem comida, água, gás, eletricidade e comunicações.

O Presidente ucraniano prometeu que “está a ser feito tudo o que é possível para vencer a resistência dos ocupantes”, garantindo que a ajuda estava a chegar à cidade. “Estão a bloquear inclusivamente o trabalho dos sacerdotes da igreja ortodoxa que acompanham este carregamento com comida, água e medicamentos; a Ucrânia enviou 100 toneladas das coisas mais necessárias aos seus cidadãos”, avançou Zelensky, acrescentando que “estão a ser feitos todos os esforços diplomáticos para que este carregamento chegue ao seu destino. Veremos se Moscovo consegue ouvir”. 

Meliotopol ocupada e com novo autarca Entretanto, as tropas russas nomearam um novo autarca na cidade – também ocupada – de Melitopol, anúncio que acontece um dia depois de as autoridades ucranianas terem denunciado o rapto do presidente da Câmara eleito, Ivan Fedorov, por um grupo militar da Rússia. “Em Melitopol, os ocupantes nomearam o seu presidente da câmara. É uma deputada da oposição do conselho municipal, Galina Danilchenko”, garantiu a administração regional de Zaporizhzhia.

A nova autarca pediu aos habitantes que não resistam à ocupação russa para que a vida possa voltar ao normal. “Queridos habitantes de Melitopol e da sua região, agora a nossa principal tarefa é construir todos os mecanismos para nos adaptarmos à nova realidade, de maneira a que tão rapidamente quanto possível a cidade comece a viver de novo”, disse numa mensagem nas redes sociais, em russo.

Jornalista morto Ainda este domingo, Brent Reno, um fotojornalista de 51 anos, foi morto pelas forças russas em Irpin, perto de Kiev. Um outro jornalista norte-americano ficou ferido. Apesar de se ter noticiado que Reno trabalhava para o New York Times, para o qual fez trabalhos há alguns anos e cuja credencial transportava, o jornal veio desmentir.

Mas a morte do jornalista levou a que o presidente da Câmara de Irpin proibisse a entrada de jornalistas na cidade. “A partir de hoje, estamos a proibir a entrada de jornalistas em Irpin. Queremos salvar a vida tanto deles como dos nossos defensores”, disse Oleksandr Markushyn.

Refugiados vão crescendo Este domingo, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) informou que a guerra já levou à fuga de cerca de 2,69 milhões de ucranianos. O balanço revela que foi a Polónia que acolheu mais pessoas, recebendo mais de metade: 1,6 milhões.

A Hungria recebeu 246 mil, enquanto a Eslováquia deixou entrar 195 mil. Para a Rússia foram 105 mil, seguindo-se a Moldávia com 104 mil, a Roménia com 84 mil e a Bielorrússia com 900, entre outros países.

Os dados mostram ainda que mais de 300 mil refugiados ucranianos fugiram para outros países europeus não vizinhos da Ucrânia.

Papa pede fim do massacre Preocupado com a guerra, o Papa Francisco pediu também este domingo o fim do “massacre” na Ucrânia, onde considera estar a acontecer um “inaceitável ataque armado”. “Nunca guerra! Pensem acima de tudo nas crianças, cuja esperança de uma vida digna é tirada: crianças mortas, feridas, órfãs, crianças que têm resíduos de guerra como brinquedos. Em nome de Deus, parem!”, publicou o Sumo Pontífice no Twitter.

Esta não é a primeira vez que Francisco condena a guerra, tendo já confessado estar com “o coração partido” e apelado ao “silêncio das armas”.