Organizada pela Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, personalidades como o antigo primeiro-ministro e presidente da Comissão Europeia entre 2004 e 2014, Durão Barroso, o ministro da Defesa Nacional, João Gomes Cravinho e a antiga alta representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, Catherine Ashton participaram na conferência “A Invasão da Ucrânia”. Marcelo Rebelo de Sousa não passou ao lado, deixando uma mensagem de força e de apoio ao papel da União Europeia neste conflito.
Com recurso a uma mensagem pré-gravada, o Presidente da República apelou ao reforço e ao investimento na União Europeia, especialmente nas áreas da energia, do comércio eda segurança alimentar, deixando também claro que é necessário fortalecer o papel da UE na competição industrial e tecnológica.
A invasão russa da Ucrânia, considerou Marcelo Rebelo de Sousa, foi o golpe que expôs várias vulnerabilidades da federação europeia, cujo reforço agora pede.
“A invasão russa da Ucrânia constitui o maior abalo sistémico na arquitetura da segurança europeia desde o final da Guerra Fria, por ter enterrado a premissa da impossibilidade da guerra convencional entre Estados numa Europa economicamente interdependente e regulada por acordos escritos”, começou por referir o chefe de Estado, defendendo que este conflito armado expôs “os limites da vulnerabilidade energética europeia, cuja segurança nos abastecimentos e diversificação das fontes andaram excessivamente devagar nas últimas décadas perante, por um lado, os crescentes imperativos climáticos e, por outro, a dependência da Federação Russa”. Isto, para além da “fragilidade de um modelo de integração política, jurídica, económica, comercial, financeira, social, sem o necessário reforço do seu pilar de segurança e defesa, enquanto retaguarda vital ao sucesso da sua diplomacia”.
medidas De forma concreta, neste apelo pelo reforço do papel da UE, Marcelo Rebelo de Sousa exigiu que esta não esmoreça, tanto na manutenção das sanções aplicadas à Federação Russa, como na manutenção da “unidade”, entenda-se a ‘fraternidade’ com os Estados Unidos da América “e outros aliados cruciais, desde logo o Reino Unido e outros Estados europeus”.
Uma unidade cuja manutenção “é fundamental e é particularmente sensível, sabendo nós que há atos eleitorais na Europa e atos eleitorais nos Estados Unidos da América”, disse, fazendo referência às eleições presidenciais na França, que se realizam a 10 de abril (primeira volta), bem como às próprias eleições intercalares nos Estados Unidos, que deverão acontecer em novembro deste ano.
“Para além dos micro-horizontes que temos mais próximos de nós”, continuou Marcelo Rebelo de Sousa, o que se pretende construir é uma solução “duradoura e sustentada”.
diplomacia Falando concretamente sobre o conflito armado na Ucrânia, Marcelo Rebelo de Sousa abordou o futuro das relações diplomáticas com a Rússia, e foi claro: os “canais de diálogo” são para ficar abertos, especialmente “ao seu mais alto nível”, onde é possível “influenciar as suas decisões”. Isto, no entanto, mantendo cabeça fria no julgamento que se faz “das suas ações, todas elas penalizadoras da soberania ucraniana, da paz europeia e da economia russa”.
“Para assegurarmos o rápido final da guerra, evitando qualquer escalada indesejada e perigosíssima, tudo devemos fazer, naquilo que está ao nosso alcance, para que a diplomacia reconquiste o seu espaço e determine os termos futuros da paz na Europa, indissociável na paz do mundo”, concluiu o chefe de Estado, classificando a guerra em curso como “uma tragédia para o povo ucraniano”.
Ao mesmo tempo que pede a manutenção da abertura dos canais de debate com a Federação Russa, Marcelo Rebelo de Sousa não deixa o regime de Vladimir Putin sair impune das críticas, pedindo, para as negociações que estão a ser levadas a cabo entre Ucrânia e Rússia, uma “mediação à altura”, bem como “uma disponibilidade diferente da parte russa”, já que Putin tem, no dia a dia, garante Marcelo Rebelo de Sousa, “colocado exigências que objetivamente inviabilizam soluções”.
As negociações, pede o PR, devem ser “eficazes e sérias”, e não “manobras de diversão para ganhar tempo, ou enfraquecer, ou dividir a outra parte envolvida no conflito”.