Por Carlos Bonifácio, Mestre em Estratégia e João Barreiras Duarte, Consultor e Gestor de Empresas
Nada mudou, ‘apenas’ mais destruição, mais sofrimento e um país à beira da rotura, com milhares de vítimas e milhões de deslocados. Não houve como se perspetivava nenhuma vitória russa e temos fortes dúvidas se acontecerá, a menos que os invasores despejem todo seu arsenal na martirizada Ucrânia.
Nestas quatro semanas de agressão e massacre não se vêm ucranianos a fugir para a Rússia, mas uma fuga em massa para o Ocidente para fugirem aos bombardeamentos indiscriminados sobre civis. Afinal o Putin não é o salvador da russofonia que afirmava ser.
Nenhum de nós pode prever quando este terror vai ter fim, mas já todos temos a noção que esta guerra está para durar e é diferente das outras. Não é um conflito confinado entre o agressor e o agredido, é muito mais. Representa uma disputa à escala global entre conceitos diferentes e assente numa visão imperial russa, oca de ideologia, suportada por um poder absoluto e dinheiro sujo. Putin, quer a todo custo ficar na história do séc. XXI pelas piores razões e infelizmente pode muito bem ficar, dado o grau de desumanidade que vem demonstrando perante as perdas humanas que para ele são muito menos importantes que as conquistas territoriais.
A narrativa de Putin para esta agressão vai mudando em funções do curso dos acontecimentos, começou pela defesa de Donbass, depois passou aos fundamentos históricos por entender que os Eslavos são um povo com uma única Pátria, a seguir passou ao impedimento da Ucrânia em aderir à Nato, posteriormente levantou a hipótese de existência de laboratórios químicos, depois argumentou com a necessidade da ‘desnazificação’ da Ucrânia, conceito absurdo e inconsistente, para no fim vir evocar o derradeiro argumento – reabilitar o império soviético sem os ‘sovietes’.
Putin é um filho do comunismo, mas nada quer com o comunismo, aliás, a sociedade capitalista sem regras e corrupta que construiu na Rússia, tem como objetivo, concentrar a riqueza do país em dezenas oligarcas, onde ele se incluiu e dessa forma controlar toda a sociedade, projetando um país grandioso economicamente, mas que não deixa na realidade de ser uma nação débil com um PIB inferior à Califórnia e semelhante a Itália.
É nestes tempos de incerteza quanto ao futuro que o Presidente Zelensky afirma convictamente que se a Ucrânia capitular outras nações se seguirão, como pode ser o caso da Moldávia e da Finlândia dentro do espírito expansionista de Putin, o que não é de excluir.
O atual poder russo é indiferente neste conflito ao número de baixas quer sejam civis ou militares, nem preocupação demonstra na recuperação dos seus soldados mortos em combate.
Perante a tragédia anunciada após a anexação da Crimeia, mas desvalorizada na altura, não resta alternativa para nos protegermos de um mal maior, senão a NATO continuar a dar um apoio militar forte à Ucrânia para que não caía em mãos russas. Temos consciência destes riscos e custos, mas não há recuo possível, sob pena dos valores do humanismo e da democracia saírem derrotados.
Em função deste quadro, resta saber quando a paz chegar, se será possível no futuro ver algum líder ocidental sentar-se à mesa e negociar algum acordo de parceria com Putin?
Se ainda há futuro neste mundo para este aventureiro militar, então o mundo está mesmo perdido!