por Joana Mourão Carvalho e José Miguel Pires
Volodymyr Zelensky falou, em direto, na Assembleia da República, e o seu discurso, tal como tem acontecido nos vários Parlamentos do mundo onde tem falado, dividiu-se em duas partes: uma a pedir apoio na defesa contra a invasão russa – seja através do envio de armamento, de apoio à candidatura à União Europeia, ou das sanções ao regime de Putin – e outra ‘personalizada’, conforme o país onde são transmitidas as suas palavras, apelando aos diferentes momentos históricos das respetivas nações que lhe serviram de palco. Em Portugal, não deixou de lado o 25 de Abril, argumentando: «O vosso povo vai daqui a nada celebrar o aniversário da Revolução dos Cravos e sabem perfeitamente o que estamos a sentir». Mas o ponto mais fulcral do discurso de Zelensky no Parlamento prendeu-se num ponto: o pedido a Portugal para que se junte ao boicote internacional ao embargo ao petróleo e ao gás da Rússia.
«Agradeço ao vosso Governo por todo o apoio, pelas sanções, é muito importante. Espero pela vossa decisão para que defendam o embargo do petróleo», pediu, acrescentando desejar que não haja um «único banco a funcionar na Europa pela Rússia». Mais, Zelensky apelou a Portugal para que apoie a candidatura ucraniana à União Europeia. «Vocês estão no Oeste, nós mais a Leste, mas as nossas visões são iguais e sabemos que regras, direitos e valores deve haver na Europa», argumentou.
O Presidente ucraniano tem desenhado os seus discursos conforme os seus públicos e Portugal não foi exceção. Além da referência ao 25 de Abril – que o PCP criticou de imediato –, Zelensky apelou também aos portugueses qpara ue façam uso das suas ligações aos países que têm a língua portuguesa como língua oficial para promover o apoio à Ucrânia entre os mesmos. «Sejamos livres e apoiemos os livres e civilizados. Acredito que nos vão apoiar porque a Ucrânia já vai a caminho da UE», pediu Zelensky, recordando os horrores vividos em Mariupol, uma cidade «tão grande como Lisboa e perto do mar», atualmente «toda incendiada» graças aos russos que «fizeram dela um inferno».
Volodymyr Zelensky recebeu os aplausos de pé de todas as bancadas – menos da do PCP, que não se encontrava presente, – e dos presidentes da República e do Parlamento, Marcelo Rebelo de Sousa e Augusto Santos Silva, bem como das altas individualidades que se encontravam nas galerias. O Governo, representado pelo primeiro-ministro e mais três ministros, manteve-se senteado e sem aplaudir, invocando um protocolo que nem sempre cumpriu no passado recente.