De doença desconhecida a segunda causa de morte em Portugal. O Instituto Nacional de Estatística publicou esta segunda-feira a análise das causas de morte no país no primeiro ano da pandemia, um trabalho que resulta da revisão das causas declaradas pelos médicos nos certificados de óbito. Confirma-se o peso da covid-19: diagnosticada pela primeira vez em março de 2020, foi declarada como causa principal de 7 125 mortes, representando 5,8% dos óbitos, indicou o INE, configurando a segunda causa de morte isolada no país.
Cruzando com os boletins da DGS, percebe-se que no primeiro ano da pandemia houve mais 153 mortes atribuídas à covid-19 do que o balanço feito no final do ano, que na altura dava conta de 6 972 mortes – balanço que seria largamente ultrapassado em 2021 e logo nos primeiros meses, os mais negros da pandemia em Portugal, quando a covid-19 vitimou só em janeiro e fevereiro quase 10 mil pessoas.
Os dados do INE detalham agora, como costuma acontecer sempre com um desfasamento de mais de um ano, todas as causas de morte no primeiro ano da pandemia. E se a covid-19 aparece em 2020 codificada pela primeira vez, como já tinha acontecido em 2009 com a gripe A, verificou-se também um aumento das mortes por doenças do aparelho circulatório. Isoladamente, as doenças cérebro vasculares, o AVC, continua a ser a principal causa de morte no país, com 11 439 mortes em 2020, 9,2% do total – 31 mortes por dia. E aumentaram os desfechos fatais.
No global, as doenças do aparelho circulatório, que incluem ainda enfartes e outros problemas cardíacos, foram responsáveis por 34 593 mortes, 28% das mortes em Portugal. Vitimaram mais 969 portugueses do que em 2019, onde se destaca a subida das mortes por AVC (+464).
Os tumores malignos vitimaram 28 393 portugueses, representando 23% das mortes em 2020. Ainda assim, verificou-se em 2020 uma ligeira diminuição do número de óbitos em que o cancro foi considerada a causa principal, tendo sido o primeiro ano em que isso aconteceu, o que sendo expectável o aumento da incidência à medida que a população envelhece poderá contemplar alguns casos em que a covid-19 foi registada como o principal motivo.
Mortes por demência duplicaram em cinco anos Analisando os dados integrais publicados pelo INE, destaca-se ainda o aumento das mortes por demência, que surge agora entre as principais causas de morte isoladas, representando 6 074 óbitos em 2020. As mortes atribuídas a demência registam mesmo o maior aumento nos últimos anos, tendo duplicado desde 2015, quando foram pela primeira vez mais de 3 mil.
Mais mortes por quedas Acidentes e sequelas vitimaram 3 048 portugueses, mais 521 do que no ano anterior. Num ano marcado pelo primeiro confinamento, diminuíram de 847 para 667 as mortes relacionadas com acidentes de transporte e sequelas. Em contrapartida, aumentaram de 886 para 1046 as mortes provocadas por quedas acidentais e impactos causados por objetos, tendo sido pela primeira vez nos últimos anos mais de mil. O i já tinha dado nota de um estudo feito pelo Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, que revelou que em 2020 aumentaram as idas às urgências de idosos devido a quedas em casa, mais de 45 mil casos no primeiro ano da pandemia.
Os suicídios, casos em que as mortes resultaram de lesões auto provocadas intencionalmente e sequelas, vitimaram 945 portugueses, um pouco menos do que as 993 mortes em que essa foi a causa declarada em 2019 mas ainda causando mais mortes do que por exemplo os acidentes rodoviários.
Os cancros que mais matam Entre os cancros, nos homens os tumores malignos da traqueia, brônquios e pulmão são responsáveis pelo maior número de mortes (3 210), seguindo-se os tumores do cólon, reto e ânus (2 234). Nas mulheres, tumores da mama levaram a 1 787 mortes, seguindo-se o cancro do cólon, reto e ânus (1 576).
Apesar do elevado número de mortes associado à covid-19, no cômputo geral as doenças respiratórias mataram menos do que em anos anteriores – causaram, no total, 11 243 mortes, quase menos mil do que nos anos anteriores, de que se destaca a diminuição de mortes por pneumonia que não associada ao SARS-CoV-2 e também de gripe. Foram declaradas 126 mortes comprovadamente ligadas ao vírus influenza, quando no ano anterior tinham sido codificadas como tal 334 mortes. Recorde-se que todos os anos o impacto da gripe era calculado em função do excesso da mortalidade no inverno e não apenas dos certificados de óbito.
Em 2020 registaram-se 123 720 mortes, mais 10% do que no ano anterior. Sabe-se já que em 2021 o número de mortes foi ainda superior (125 185), mas as causas de morte só serão divulgadas em 2023.
Já este ano, a plataforma nacional de vigilância da mortalidade (EVM), em tempo real, revela que até 15 de maio morreram em Portugal 48 334 pessoas, menos do que no ano passado no mesmo período mas mais do que em 2020.
Este mês, cruzando os dados do EVM com a informação da DGS, a covid-19 tem estado a representar 6,9% das mortes, com 340 óbitos atribuídos à doença nos primeiros 15 dias de maio, em 4 898 no total.