“Há ofertas e serviços que podem nem abrir”

A falta de mão-de-obra continua a afetar o setor do turismo. Presidente da AHETA conta que apesar das várias tentativas e salários acima da média, pessoas recusam os trabalhos apresentados.

por Daniela Soares Ferreira e Sónia Peres Pinto

A falta de mão-de-obra no setor da hotelaria poderá comprometer a oferta de serviços e este parece ser um problema sem fim à vista. Para o presidente da AHETA (Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve) não há margem para dúvidas. «Não queremos comprometer a qualidade, o que vai acontecer é que  hotéis que tenham, por exemplo, dois ou três restaurantes vão ter de fechar um deles e um hotel que tem x quartos se calhar vai ter fechar alguns porque não vai ter capacidade para os limpar. E isso é lamentável», confessa ao Nascer do SOL, Hélder Martins

E lembra que o turismo é a primeira atividade a entrar em crise, mas também é a primeira a sair e agora perante boas perspetivas vê-se a braços com um problema que está a ser difícil de resolver. «Temos uma perspetiva boa, a guerra da Ucrânia contribuiu com uma pequena percentagem de razão deste aumento expectável, agora não podemos abrir as portas a todos aqueles que nos querem visitar porque não temos recursos humanos».

O presidente da AHETA diz ainda que o Instituto do Emprego há três semanas deu a indicação que tinha seis mil pessoas inscritas na área do turismo, em que só cozinheiros eram 500 e fizemos um projeto piloto com 20 empresas no Algarve, «mas não chegámos a uma dezena de pessoas que foram colocadas». E foi mais longe: «Mesmo os que chegaram a ir à entrevista e que a empresa disse que ‘estava tudo bem vamos trabalhar’, uns diziam que não porque não queriam trabalhar à noite ou não queriam turnos, mesmo com salários muito acima do que se praticava há dois anos: 15, 20, 25, 30% acima do que se contratava. É a lei da oferta e da procura, há menos oferta e os preços sobem consideravelmente». E dá mais exemplos: «Foram selecionadas 60 pessoas para a limpeza de quartos e apareceram 10 e nenhuma aceitou».

 

‘É a principal dificuldade’

Também João Fernandes, presidente do Turismo do Algarve, não tem dúvidas: «A nossa principal dificuldade neste momento é recrutar recursos humanos». Mas não é o único problema. «Temos uma realidade estrutural que tem a ver com o bom desempenho de turismo noutras regiões onde nós, no Algarve, íamos muitas vezes recrutar pessoas», ao Alentejo, Centro e no Norte. «Felizmente, nessas regiões hoje já há turismo e, portanto, essas pessoas fixam-se e já não vêm trabalhar muitas vezes para o Algarve».

O responsável lembra o acordo de mobilidade com a CPLP que já foi subscrito por oito países. No entanto, diz que «é preciso que esta subscrição encontre igual rapidez na regulação que cada país produz para que este acordo se possa tornar efetivo». E não é o único acordo. João Fernandes recorda os acordos bilaterais com a Índia e com Marrocos que defende que «são boas oportunidades» mas que, «no curto prazo, ainda não produziram os efeitos que gostaríamos».

Também Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo Português (CTP), defende que este é um problema «que se coloca em todo o país e é transversal a muitos setores da economia e, claro, também atinge o turismo». E diz que na CTP esse é um tema que preocupa. «Mas estamos atentos e temos como prioridade agilizar o quanto antes as melhores soluções que permitam encontrar para o turismo a mão-de-obra suficiente e de qualidade para responder à elevada procura de turistas que teremos este verão».

Já para Cristina Siza Vieira, presidente executiva da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) não há dúvidas que «estamos neste momento a verificar um problema muito sério de escassez de recursos humanos, particularmente para a nossa indústria». E vai mais longe: «Estamos numa situação em que a escassez de recursos humanos pode prejudicar a qualidade de serviço e esse é um ponto crítico».