Rui Rio, que ficará na presidência do PSD até ao 40.º Congresso do partido, em julho, já tem sucessor, e está na hora de começar a trabalhar na nova direção do partido e nos seus novos projetos.
Sábado foi dia de eleições diretas no PSD, e Luís Montenegro, o candidato espinhense que liderou a bancada social-democrata durante os anos em que a Troika esteve em Portugal, venceu folgadamente, com 72.44% dos votos. Foi uma ‘abada’ frente ao seu rival, Jorge Moreira da Silva, que se ficou pelos 27.52%. Isto numas eleições em que, no entanto, foi de notar também a fraca adesão dos militantes do PSD, registando-se uma abstenção de 39.56%. Quase o dobro do valor registado nas diretas de 2021, em que a abstenção se situou nos 21,83%.
Ainda assim, esta foi uma indubitável vitória de Luís Montenegro, que, em termos absolutos, conquistou mais votos do que Rui Rio em 2020 (ano em que Montenegro foi também candidato) e em 2021, quando Rio enfrentou Paulo Rangel. No total, Montenegro conquistou 19.225 votos. Moreira da Silva ficou-se pelos 7.304, e não venceu uma única distrital. Na sua terra natal, Vila Nova de Famalicão, não foi além dos 207 votos, ao passo que Montenegro conquistou 695 votos nesta concelhia.
Agora, resta a Montenegro colocar mãos à obra relativamente às suas primeiras decisões como Presidente, cargo que ocupará oficialmente a partir do 40.º Congresso do PSD, que decorre nos primeiros dias do mês de julho. Primeira missão? ‘Pôr ordem na casa’. Significa isto dialogar com Paulo Mota Pinto, líder parlamentar eleito após as eleições legislativas de janeiro de 2022. Mota Pinto foi eleito em abril, com mais de 90% dos votos, mas paira no ar a dúvida sobre se se irá manter ao leme da bancada, ou se Montenegro irá procurar outra figura para esse papel. Mas o espinhense nunca disse se iria, ou não, afastar Mota Pinto. Ao Nascer do SOL, aliás, disse não ser ele quem “elege, escolhe ou mantém o líder parlamentar”. “São os deputados. O que é necessário é garantir uma articulação e coordenação do GP com a direção do partido e as suas orientações. Avaliaremos isso em conjunto”, continuou.
Outra das dúvidas prendia-se com um eventual lugar de Jorge Moreira da Silva na direção presidida por Luís Montenegro. No seu discurso de derrota, o candidato de Vila Nova de Famalicão, no entanto, colocou logo um ponto final na polémica, assegurando que não faria parte de qualquer direção presidida por Montenegro. “No plano executivo, não faz sentido. Temos divergências que são públicas. Não abdico das minhas ideias”, garantiu Moreira da Silva, afirmando também que este não será um ponto final na sua ambição de chegar a presidente do partido, mas sim uma vírgula. “Não perdi nenhum direito como militante. Não me peça com 51 anos que diga que não me volto a candidatar”, disse, atirando: “Acabei de perder as eleições. não vai querer que eu diga o que vou fazer daqui a dois, quatro ou seis anos. Não abdicarei de lutar pelo meu país”.
Mesmo antes das eleições, no entanto, Luís Montenegro já tinha assegurado, em declarações ao Nascer do SOL, que contaria com Moreira da Silva “e os seus apoiantes sem nenhuma reserva”. “Logo veremos em que posição. Mas eu não tenho adversários internos. O nosso adversário é o PS e o Governo de António Costa”, garantiu, numa série de respostas ao jornal em que se destacou uma curiosa proposta: quando questionado sobre se pretende ter um gabinete na Assembleia da República, Montenegro acenou positivamente, explicando: “Estarei no Parlamento quando for necessário, junto dos nossos deputados e da sua direção. Mas também andarei muito pelo país. Na rua, a falar com as pessoas e as instituições.”
O fantasma do Chega Há um elefante na sala cada vez que se fala do PSD e do seu futuro, e não há como fugir à questão quando o tema vem à baila. Vai, ou não, o partido laranja encontrar uma linha de comunicação com o Chega, de forma a ‘destronar’ a maioria absoluta do PS? Montenegro – que no seu discurso de vitória garantiu que este seria o tempo de acabar com a “hegemonia socialista” – foi sucinto sobre o assunto, garantindo, em discurso, em abril deste ano, que o partido liderado por André Ventura é uma “linha vermelha”, apesar de afastar a ideia de fazer uma ‘cerca sanitário’ ao mesmo.
“Recuso-me a fazer uma campanha em que o tema principal seja o Chega. É óbvio que nós, no PSD, temos uma linha vermelha que nunca ultrapassamos, que é a dos nossos valores e dos nossos princípios. Qual é a dificuldade em perceber isto? Isto já faz parte do nosso ADN. Não estou a pensar negociar nada com o Chega nem precisamos de negociar nada com o Chega”, garantiu.
Mas Montenegro não deixou, no entanto, de ressalvar um detalhe importante a que o PSD tem de ter atenção relativamente ao Chega. “Acredito, sobre os 400.000 portugueses que saíram de cá [do PSD] e foram para lá [no Chega], que temos a capacidade de os ir buscar e trazer de volta”, disse o Presidente eleito do PSD.