Por Carlos Bonifácio, Mestre em Estratégia e João Barreiras Duarte, Consultor e Gestor de Empresas
Três meses após a agressão à Ucrânia, não se vê solução para esta guerra. No entanto, tal evidência não pode gerar em nós qualquer tipo de conformismo. Todos os dias, milhares de cidadãos indefesos são vítimas de ataques indiscriminados. Não há um único lugar na Ucrânia que esteja a salvo. Tudo é alvo para a brutalidade russa.
Decorridos três meses de guerra, importa elencar os objetivos definidos pelos russos. Apesar de sempre terem negado a intenção de invadir a Ucrânia, o tempo encarregou-se de confirmar que os russos fazem, quase sempre, o contrário daquilo que afirmam.
À cabeça foi invocada a ‘desnazificação’ da Ucrânia, argumento de difícil compreensão quando falamos de uma nação reconhecida como um Estado de Direito, com órgãos democraticamente eleitos e onde não foi eleito um único deputado neonazi para o Parlamento ucraniano. Na verdade, a ‘desnazificação’ não passa de uma panaceia russa para justificar a invasão ao arrepio do direito internacional.
Um segundo objetivo passava pelo desarmamento da Ucrânia e a eliminação de laboratórios químicos. Nunca a Ucrânia esteve tão armada como agora. Quantos aos laboratórios, estes passaram rapidamente ao esquecimento. O resultado é mais um fracasso nos chamados objetivos declarados.
Impedir a entrada da Ucrânia na NATO era outro dos objetivos. No imediato esse propósito foi atingido, só que os russos não imaginavam que a NATO, que estava em ‘morte cerebral’, tal como afirmou o Presidente Macron, viria a ressuscitar e ganharia uma nova vida com o reforço da coesão e com o presumível alargamento à Finlândia e à Suécia. Uma situação que era absolutamente inimaginável há três meses.
Num ápice aumentaram as fronteiras que separam a NATO e a Rússia, deixando as principais cidades russas as escassas centenas de quilómetros de território vigiado pela Aliança Atlântica. Nunca ninguém fez tanto pela NATO como Putin e a Rússia.
Ao mesmo tempo, outro dos objetivos, a tomada do Donbass, parece também estar a entrar numa fase de estagnação, a que não é alheia a forte resistência das forças ucranianas e o poder bélico disponibilizado pelo Ocidente. Desta forma, permanece incerto que este objetivo venha a ser atingido, com o risco elevado deste conflito se ‘eternizar’ dada a persistência russa.
O objetivo de tomar as principais cidades, para decapitar o poder ucraniano, parece ter ficado pelo caminho, tal o grau de incapacidade das forças russas que se revelam cada vez menos operacionais. Parece claro que a moral das tropas russas contrasta com o ânimo das forças armadas ucranianas que, a cada dia que passa, acreditam mais que é possível derrotar os invasores.
A tentativa russa de anexar regiões e cidades por via de referendos sem a participação da maioria da população que, entretanto, fugiu para o ocidente, são um ato de desespero para tentar justificar uma guerra que não tem sequer o apoio das populações russófonas.
Putin continua de mãos vazias e sem resultados para apresentar ao povo russo. Esta é uma fatura pesada que a Rússia terá que pagar a médio prazo. A única alternativa seria uma implosão do atual poder russo, mas tal não é crível que venha acontecer.