Há três semanas, um canal televisivo noticiava que Putin tinha sido operado de urgência. A informação não teve sequência, pelo que se presumiu ser falsa.
Há oito dias, porém, surgiram novas notícias de que Putin está doente – confirmadas por fonte dos serviços secretos ucranianos. E estas notícias foram acompanhadas de mais pormenores. Disse-se que padece de cancro no sangue e tem manchas na cara – que nas aparições televisivas serão disfarçadas por espessa camada de maquilhagem.
É verdade que Putin parece ter a cara inchada e a sua pele é estranhamente lisa, como se fosse celuloide. E isso dá-lhe um ar de personagem de ficção científica. Parece um marciano.
O desejo de que o líder russo desapareça deste mundo é muito forte – e as especulações sobre a sua saúde sucedem-se. No meio desta nebulosa, será cada vez mais difícil discernir a verdade.
Nas ditaduras e nos regimes autocráticos, estas situações são frequentes. Como o poder é opaco, e o regime assenta normalmente sobre um homem forte, o seu estado de saúde é recorrentemente objeto de falatório. Para não ir mais longe, recordo José Eduardo dos Santos – que, quando era Presidente de Angola, se dizia padecer de um cancro, falando-se de regulares viagens ao estrangeiro para tratamento. Ora, passaram anos, Eduardo dos Santos já saiu do poder, e continua a andar por aí. Se tinha uma doença grave, curou-a ou habituou-se a conviver com ela.
Do mesmo modo, se Putin está ou não doente, só o futuro o poderá confirmar. Mas, mesmo que não esteja, está certamente de rastos. Nesta altura já percebeu que a invasão da Ucrânia foi um monstruoso erro. A Rússia está metida num vespeiro donde não sabe como sair. Em três meses de guerra já perdeu o triplo dos homens que Portugal perdeu em 13 anos de guerra colonial, em três frentes de combate. Está a ter baixas a um ritmo 150 vezes superior!
E, mesmo assim, não só não vai conseguir o que queria como vai perder muito do que tinha.
Queixava-se de que a NATO avançara sobre as suas fronteiras e era forçoso fazê-la recuar; pois bem: a NATO vai previsivelmente avançar ainda mais, com a entrada da Suécia e da Finlândia.
Queixava-se de que a Ucrânia era governada por nazis anti-russos, sendo forçoso domesticá-la; pois bem: a Ucrânia vai ser ainda mais anti-russa e mais ligada ao Ocidente.
Queixava-se de que os Estados Unidos a ameaçavam; pois bem: os EUA vão constituir uma ameaça muito maior, pois a sua presença na Europa aumentou e as alianças com países europeus fortaleceram-se.
Podíamos continuar a enumerar aquilo que a Rússia perdeu ou vai perder com a invasão da Ucrânia, mas não vale a pena: já se percebeu que foi um gigantesco tiro pela culatra. Só é de estranhar que Putin não o tenha visto antes de tomar a decisão de avançar.
Deixando de parte as teorias da conspiração, talvez a explicação para este enorme erro seja bem mais fácil do que parece.
Pouco tempo depois da subida de Estaline ao poder na URSS, os líderes de determinada república foram dar-lhe conta dos resultados da campanha do trigo. Ele ouviu-os – e no fim explodiu: não podia ser! Aquelas terras, com aquelas dimensões e aquele clima, tinham de dar uma produção três vezes superior!
Os responsáveis regressaram a suas casas e no ano seguinte apresentaram resultados três vezes maiores. E nos outros anos a mesma coisa.
A partir de certa altura, não só no trigo como noutros setores, Estaline trabalhava com números falsos – porque os responsáveis tinham medo de lhe apresentarem os verdadeiros, A URSS tornou-se uma imensa ficção. Todas as estatísticas eram falseadas.
Com Putin deve passar-se um pouco o mesmo.
Trabalha com dados errados.
Quando meteu na cabeça invadir a Ucrânia, ninguém teve coragem de lhe dizer a verdade. De lhe dizer que seria difícil. Algum general que ousasse falar-lhe de eventuais problemas colocar-se-ia em cheque. De que havia que ter medo? Pois não tinha a Rússia um dos maiores exércitos do mundo? A existirem dificuldades, elas resultariam da incompetência dos próprios generais…
Não sabendo ninguém ao certo o que se passou dentro das paredes do Kremlin, uma coisa é incontestável: quando mandou invadir a Ucrânia, Putin não tinha na mão as informações certas. Putin não está louco. É um carniceiro, um homem sem escrúpulos, um monstro, mas não é um louco. Nem um inconsciente. Assim, um erro tão clamoroso só pode ser explicado por deficiente informação.
Para a invasão ser um êxito, o Exército russo tinha de ocupar rapidamente Kiev e trocar o poder político por um Governo amigo. E a partir daí tudo seria fácil: o controlo do Donbass e a eventual ligação à Crimeia.
Putin faria isto sem disparar um tiro, ou seja, sem sujar as mãos de sangue.
Ora, saiu tudo ao contrário. O Governo ‘nazi’ não caiu, a destruição é maciça, há dezenas de milhares de mortos dos dois lados.
Putin, além de falso e mentiroso, tem hoje a imagem de um criminoso internacional.
E, se não está doente, dificilmente resistirá com saúde a esta catástrofe.