Finalmente, o PSD tem um líder que parece poder agregar os seus militantes e simpatizantes em torno de uma missão: derrotar o PS, numa versão socialista que vem sistematicamente empobrecendo o país, sobretudo pela escassez de investimento estruturante. As estatísticas europeias que demonstram a queda comparativa do PIB face aos restantes países europeus são irrefutáveis e, ouvindo Costa no seu mais recente discurso na Feira Industrial de Hannover, percebemos que o PS está a cair na realidade, encetando um louvável esforço internacional de captação de investimento.
No entanto, este nosso Portugal enferma de alguns problemas que afugentam investidores internacionais, sempre criteriosos nas suas opções, entre as alternativas possíveis. Nem falo dos discursos esquerdistas de diversos governantes, porque esses, se fossem acompanhados de políticas atrativas de investimento e agilidade nas decisões estratégicas, ninguém os teria em consideração.
Falo de temas tão simples mas tão relevantes como (i) a pesada fiscalidade, direta e indireta, que atrofia as empresas (e os cidadãos); (ii) a morosidade da justiça em que os processos, qualquer que seja a sua complexidade, demoram anos a terem decisões transitadas em julgado; (iii) a crescente contestação laboral facilitada pela realidade da perda de compra dos trabalhadores e visando sistematicamente alterações na respetiva legislação; (iv) a pesada burocracia com que os investidores se confrontam, quantas vezes sem respostas atempadas aos pedidos formulados.
Estamos geograficamente e monetariamente na Europa, mas estamo-nos a afastar dessa Europa em todas estas matérias. Montenegro herda um PSD que, mesmo nestes cenários atuais de deterioração do poder de compra, não consegue minimamente atrair duas importantes classes do eleitorado (i) o funcionalismo público que, na sua maioria, vê o PS como garante do seu emprego e ordenado certinho, e (ii) os reformados que, pela sua avançada idade, já perderam a visão do futuro e que apenas desejam receber integralmente as suas reformas. Neste último caso, com o anátema do PS ter habilidosamente colado o Governo de Passos Coelho aos cortes das pensões, como se estes não decorressem de imposições da Troika, precisamente chamada pelo PS.
Afinal que pode fazer Montenegro de diferente de Rio? Se Rio era ideologicamente um Social-democrata que, se calhar, até se encontrava à esquerda da ala moderada do PS, Montenegro tem de ser um conservador que marque as diferenças para o atual modelo de governação socialista. O seu discurso deverá ser primordialmente dirigido a todos os que descreram da capacidade do PSD ser oposição, muitos dos quais não tiveram qualquer pejo em votar IL ou mesmo no Chega. Se possível, igualmente orientado a penetrar entre os simpatizantes moderados do PS que, mais esclarecidos, percecionem a necessidades de mudanças na economia nacional e reconhecem ser fundamental a complementaridade entre o setor público e privado para a resolução dos nossos desafios.
Se Rio era pessoa de gabinete, Montenegro tem de ser um líder de visibilidade nacional, começando por ter disponibilidade em aparecer publicamente de forma quotidiana, ocupar espaço a criticar e dizer como faria diferente, questionar as políticas do PS e de Costa, apresentando soluções e demonstrando que se pode fazer diferente e melhor, sem demagogias bacocas, com credibilidade.
Para isso, Montenegro tem de ter a clareza de propor reformas nacionais como na Saúde (em particular, o SNS) ou na Educação. Tem de pugnar por soluções exequíveis que defendam melhor os cidadãos, porque os portugueses merecem melhores serviços e as ideologias cerceadoras das liberdades de escolha só empobrecem a qualidade da saúde e do ensino.
Tem de dizer como reformularia a fiscalidade onde os impostos diretos e indiretos atingem níveis tais que só incentivam a fraude fiscal. Deveria ser claro sobre a Justiça, propondo-se dotá-la de meios que acelere a resolução de processos. Tem de ter a coragem de abordar os dossiers escaldantes como da TAP (ou da CP), quiçá sugerindo alternativas a este queimar asfixiante dos impostos dos trabalhadores e empresas, tal como arde a palha seca no verão.
Porque hoje em dia, o PSD não tem apenas a responsabilidade histórica de combater o PS. Também a sua história exige que lidere a oposição, ameaçada pelo populismo do Chega e o liberalismo inteligente de Cotrim de Figueiredo. Em particular, a IL, com a sagacidade e sentido de oportunidade dos seus líderes, procurará certamente tomar a liderança na discussão de todos os temas que acima referi. Se o PSD for a reboque da IL, a trânsfuga de votos para a sua direita é a maior certeza com que Montenegro pode contar.
Em suma, Montenegro terá de ser abrangente e discursar para todos, porque o país não pode continuar dividido, a radicalizar-se entre uma esquerda reivindicativa e uma direita que, até aqui, só tem essencialmente produzido diagnósticos com escassas soluções. Estamos no Verão, a rentrée política vem aí, e não há duas oportunidades para causar uma primeira boa impressão.
P.S. – Cavaco Silva esperou pela eleição de Montenegro para lhe dar ‘uma mãozinha’ ao escrever um sibilino artigo, cheio de mensagens e ironia, todo ele dirigido a Costa e à sua maioria absoluta. O mote para a oposição ficou dado, a união do PSD recebeu mais um empurrão. Agora, competirá a Montenegro saber agregar, assegurando que a mais-valia intrínseca de Moreira da Silva será incorporada no seu programa e nas suas ações, bem como garantir a continuidade (e elevada competência) de Paulo Mota Pinto, na chefia do seu grupo parlamentar, demonstrando, assim, a grandeza da sua liderança.