Um «sinal forte» deixado em Lisboa sobre a necessidade de agir «decisivamente e urgentemente» para melhorar a saúde e uso sustentável dos oceanos. Foi este o balanço feito ontem da Conferência dos Oceanos da ONU em Lisboa pelo o subsecretário-geral das Nações Unidas Miguel Serpa Soares, que representou António Guterres no encerramento.
Por unanimidade, os delegados dos estados-membros da ONU aprovaram o compromisso que ficará conhecido como Declaração de Lisboa, que já veio escrito de Nova Iorque. E que, sem medidas concretas, firma o objetivo de proteger os oceanos, saudando o compromisso de vários países para protegerem 30% das suas áreas marinhas (onde se inclui Portugal), encarar de frente a relação entre a saúde do mar e as alterações climáticas (quer o papel na mitigação, pelo sequestro de carbono nos ecossistemas marinhos, se conservados; quer os riscos crescentes, pela acidificação, poluição e risco de destruição de ecossistemas).
Se só o tempo poderá dizer o que avança de facto, houve contas feitas no encerramento daquela que foi a primeira grande cimeira da ONU organizada por Portugal, junto com o Quénia, e que trouxe ao país mais de 7 mil participantes e vários chefes de Estado, entre os quais Emmanuel Macron. No final do encontro, que teve como quartel-general o pavilhão Altice Arena, o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, adiantou que a estimativa é que a conferência tenha sido palco de compromissos financeiros na casa dos 10 mil milhões de euros. Deste montante, o maior esforço parece vir da União Europeia, sete mil milhões. Além disso, adiantou Gomes Cravinho, «o Banco de Desenvolvimento da América Latina tem um compromisso de [investir] 1,2 mil milhões de euros, a Fundação da Terra vai investir mil milhões de euros até 2030 e o Banco Europeu de Investimento anunciou apoios de projetos na ordem de 250 milhões de euros». Em Portugal, assinalou, «a EDP anunciou que vai investir 1.250 milhões de euros em projetos de energias renováveis no mar até 2025».
Foi a segunda conferência dos Oceanos da ONU, adiada desde 2020 por causa da pandemia, depois de uma primeira em 2017 em Nova Iorque. E foi muito maior, o que foi encarado como um bom sinal. Mas, entre delegados ouvidos pelo Nascer do SOL, esperam-se mais ações. «Temos grandes ideias tecnológicas, grandes planos, mas as pessoas estão a ser retiradas das suas casas», disse Peter Walpole, que trabalha em risco de inundações em Mindanau, no Sul das Filipinas. «Precisamos de ação e de um lobby de mudança e temos de vir ao primeiro mundo pedi-lo».