A procura de empréstimos por empresas e particulares aumentou ligeiramente no segundo trimestre deste ano. A conclusão é de um inquérito feito aos bancos sobre o Mercado de Crédito do Banco de Portugal (BdP). De acordo com a entidade liderada por Mário Centeno, “o financiamento de existências e de necessidades de fundo de maneio contribuiu ligeiramente para aumentar a procura por parte das empresas”. E face a esse cenário, garante que a procura de empréstimos por parte de particulares também apresentou um ligeiro aumento para a habitação e ao consumo e outros fins .
No entanto, para o terceiro trimestre, o BdP prevê o aumento da procura de empréstimos de curto prazo, sobretudo por PME, e uma ligeira diminuição da procura de empréstimos por particulares, sobretudo para habitação.
Ainda assim, o banco central admite que os critérios de concessão de crédito tornaram-se mais restritivos no segundo trimestre no caso de empréstimos a longo prazo a pequenas e médias empresas (PME), enquanto para os particulares não houve alterações ao crédito à habitação e foram menos restritivos no crédito ao consumo e outros fins. Já nos termos e condições de crédito, as comissões e outros encargos não relacionados com taxas de juro, garantias e condições contratuais não pecuniárias ficaram mais restritivas em novos empréstimos a PME, e mantiveram-se inalteradas no crédito a particulares.
Na proporção de pedidos de empréstimo rejeitados, esta ficou praticamente inalterada no caso das empresas, tendo havido um ligeiro aumento entre os particulares.
Cerco mais restrito
No segmento da oferta, as expectativas do BdP apontam para critérios de concessão de crédito a PME ligeiramente mais restritivos, sobretudo a longo prazo, no terceiro trimestre, tendência que deverá ser verificada, igualmente, no crédito a particulares.
Recorde-se que, desde 2018, o banco central adotou uma recomendação macro prudencial para que os bancos e outras instituições financeiras passassem a seguir critérios mais prudentes de concessão de crédito aos seus clientes, evitando assim situações de incumprimento.
Esta recomendação aplica-se assim aos novos contratos de crédito à habitação, crédito ao consumo e crédito com garantia hipotecária ou equivalente, e pretende garantir a resiliência dos bancos e a sua capacidade para absorver possíveis choques adversos, bem como permitir que as famílias obtenham empréstimos que podem pagar, minimizando assim o risco de incumprimento.
Os bancos que não cumpram a recomendação, devem apresentar uma justificação adequada, mas caso o Banco de Portugal não ache a justificação válida, pode emitir outro tipo de medidas.
Existem também exceções a esta recomendação, como créditos de montante igual ou inferior a 10 vezes o salário mínimo, empréstimos bonificados há habitação destinados a pessoas com deficiência, ou créditos concedidos para regularizar situações de incumprimento.
Dividendos em alerta
Tanto o Banco Central Europeu como o Banco de Portugal estão atentos à capacidade dos bancos em resistir a uma eventual recessão causada pela alta inflação e pela guerra na Ucrânia. E não descartam impor novamente limites aos dividendos, revelou o Dinheiro Vivo.
Em causa está a incerteza económica por causa da alta inflação, assim como a crise energética causada pela guerra na Ucrânia, que podem levar os supervisores a pedir a alguns bancos para aumentar capital ou a limitar a distribuição de dividendos de forma a terem capacidade de resposta no caso de uma possível recessão. E, face a essa possibilidade, o regulador está pronto para intervir caso seja necessário.