Os militantes do PS vão a votos no outono, com o partido a agendar eleições internas para 7 e 8 de outubro nas concelhias, e para os primeiros dias de novembro nas federações. Mas esta será sobretudo uma oportunidade para Pedro Nuno Santos aumentar o peso da corrente interna que lidera no partido e pelo menos posicionar-se, a tempo do próximo congresso socialista em 2023, na corrida à sucessão de António Costa.
Apesar de o partido querer transparecer que está unido e mobilizado, a realidade é outra. E a contagem de espingardas foi retomada logo depois do episódio sobre o novo aeroporto de Lisboa. As fricções entre o atual secretário-geral do PS e o seu putativo sucessor já se acumulam desde que Pedro Nuno Santos era secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, altura em que se assumiu como figura central nas negociações com os parceiros políticos do Governo.
Desde o plano de reestruturação da TAP à escolha de Miguel Frasquilho para a companhia aérea, passando pelo apoio a Ana Gomes nas eleições presidenciais, a relação tem-se mostrado turbulenta desde que Pedro Nuno Santos se posicionou como sucessor de António Costa no congresso do PS de 2018. E culminou na desautorização do ministro das Infraestruturas por parte do primeiro-ministro acerca da nova solução aeroportuária de Lisboa.
Nas últimas eleições federativas, em 2020, a consolidação interna de Costa sedimentou-se e Pedro Nuno Santos falhou o objetivo de conquistar mais federações. Os dois nomes que lhe eram mais próximos, ambos estreantes como candidatos à presidência de federações, João Paulo Rebelo e João Portugal, não foram eleitos.
Desta vez, quererá pelo menos garantir que Lisboa, Braga e Aveiro não lhe fogem por entre os dedos. Duarte Cordeiro, considerado a principal figura da sensibilidade interna liderada por Pedro Nuno Santos, conseguiu ser reeleito em 2020 presidente da Federação da Área Urbana de Lisboa (FAUL), com 95% dos votos.
Não é certo que o agora ministro do Ambiente se mantenha e, ao que o Nascer do SOL apurou, para dar continuidade poderá aparecer a presidente da Câmara Municipal da Amadora, Carla Tavares, como uma das caras para ocupar o lugar à frente da maior federação socialista. E sem adversários que se atravessem no seu caminho.
Já em Braga o cenário não é tão promissor. Joaquim Barreto, da ala pedro nunista, já não poderá recandidatar-se e o seu peso naquele distrito é reduzido. Em 2020, foi reeleito por pouco, com 2200 votos contra 1669 votos obtidos pelo seu desafiante, Ricardo Costa. Entre os pedro nunistas , teme-se que esta seja a federação a sofrer o maior assalto, fruto também de algumas guerras locais que acabam por se agrupar a outras tendências internas do partido.
Em Aveiro, a situação está mais controlada. Nascido em São João da Madeira, naquele distrito, Pedro Nuno Santos reúne aí a sua maior força. Além de ter sido presidente da Federação de Aveiro, ainda foi presidente da estrutura distrital de Aveiro do PS. A sua influência foi notória quando conseguiu que Jorge Sequeira lhe sucedesse em 2018 à frente da federação aveirense e depois em 2020 que este fosse reeleito, sem opositor e com 96% dos votos.
Mais a norte, o Porto é um caso à parte. Sempre palco de tensões, ainda é difícil de prever quem serão os protagonistas, mas certo é que a luta aí será mais dura. Há dois anos, o eurodeputado Manuel Pizarro assumiu o terceiro mandato à frente da federação do Porto, tendo ganho com 70% dos votos, a José Ribeiro, presidente da Câmara de Valongo, que deverá tentar novamente a sua sorte.
Já Setúbal é uma luta perdida. A força dos irmãos Mendes não deverá dar margem de manobra a Pedro Nuno. O secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, António Mendonça Mendes, irmão da ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes, conseguiu a reeleição como presidente daquela federação com 1116 votos, uma vitória larga sobre o seu opositor, Carlos Gordo, que obteve apenas 138 votos.
Combates onde não há continuidade
Entre as 19 federações socialistas, os maiores combates vão ter lugar onde não possa haver recondução. Isto porque cada presidente está limitado a três mandatos. Ou seja, onde houver mudanças a disputa tendencialmente será mais forte. Neste cenário, na frente de combate estará a ala que apoia Pedro Nuno Santos e a ala que apoia Ana Catarina Mendes – que também pertence ao leque das quatro figuras alinhadas para o futuro do PS.
Fora deste jogo, por não terem tropas suficientes, estão Fernando Medina e Mariana Vieira da Silva que completam a lista de potenciais candidatos à sucessão de António Costa, uma corrida que curiosamente, nesta última semana, parece ter ganhado mais um aspirante a líder do PS. Num discurso marcadamente político, coube ao ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, encerrar o debate do Estado de Nação.
A escolha de Costa não passou despercebida nos bastidores socialistas, onde já se comenta que o primeiro-ministro tenha encontrado um sucessor que não seja Pedro Nuno Santos, ainda que este já não seja militante do PS desde que Ferro Rodrigues deixou a liderança do partido, em 2004.