António Furtado, antigo ‘homem-forte’ de Fernando Medina na Câmara Municipal de Lisboa, que foi diretor do Património da autarquia lisboeta, foi nomeado pelo atual ministro das Finanças para presidir à Estamo, a empresa responsável pela gestão do património do Estado – avaliado em cerca de mil milhões de euros, segundo avançou inicialmente o Jornal Económico. Uma nomeação da qual não há qualquer referência na lista de concursos fechados no website da Comissão de Recrutamento e Seleção para a Administração Pública, como é habitual na seleção de gestores públicos.
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O nome de António Furtado já surge no website da Estamo, como Presidente Executivo, na secção dos Órgãos Sociais, mas o despacho de nomeação não foi ainda tornado público.
Furtado que, depois de deixar a Câmara de Lisboa, foi Diretor Municipal de Economia, Inovação e Comunicação na Câmara Municipal de Almada, e que é um dos nomes que surge numa investigação que incluiu também os antigos vereadores do Urbanismo na CML, Ricardo Veludo e Manuel Salgado. Informação avançada inicialmente pelo Correio da Manhã, que revelava que Furtado foi apanhado em escutas pela Polícia Judiciária, não tendo, no entanto, sido constituído arguido.
Ao que o i apurou, o processo corre termos no DIAP de Lisboa, em segredo de justiça, e levou a novas diligências recentemente na CM de Lisboa. Num direito de resposta publicado por esse mesmo jornal diário, no entanto, Veludo negava que as investigações do Ministério Público em questão fossem dirigidas a si mesmo.
Aparelhismo
“A nomeação de António Furtado é o triunfo do aparelhismo sobre a integridade das instituições”, considera João Paulo Batalha, vice-presidente da associação Frente Cívica. “Trata-se de alguém que fez a carreira em nomeações políticas, e esta é mais uma”, continua, defendendo que “legalmente, nada o impede de ser nomeado por este cargo, já que nem é arguido nas suspeitas sob investigação na Câmara de Lisboa”. “Mas não ser arguido hoje não significa que não venha a ser amanhã”, dispara Batalha, em declarações ao i. “É óbvio que, enquanto a investigação aos negócios imobiliários em Lisboa não estiver concluída, há um risco reputacional nesta nomeação. O Governo devia ter-se poupado a este risco, mas a lógica de aparelho falou mais alto”, conclui ainda o especialista em Transparência.
Ao Nascer do SOL, o próprio António Furtado garante estar de consciência tranquila. “Se em consciência entendesse não ter, no plano jurídico ou meramente ético, condições para exercer as funções que atualmente ocupo, certamente não teria aceitado o convite que para o efeito me foi dirigido”, revela, em resposta escrita às questões do jornal. Isto depois de dizer que nunca foi constituído arguido, “neste ou em qualquer outro processo”. “Nem nunca me foi sequer solicitada participação em qualquer diligência, pelo que desconheço se o processo referido existe e em que fase se possa encontrar”, continua o mesmo, assegurando: “Com exceção do dia em que foram realizadas diligências na Câmara Municipal de Lisboa (abril de 2021), nunca fui contactado pelas autoridades competentes a tal propósito”.