É verão, está calor e as temperaturas das últimas semanas – apesar de mais ameno nos últimos dias – fazem-nos desejar bebidas mais frescas. E, se não estiverem frescas o suficiente, o gelo é sempre um bom aliado. Mas o aumento exponencial da procura por gelo – não apenas a nível individual mas também por espaços de restauração – fez causar o pânico. Nos dias de maior calor, quem pedia um vinho branco ou rosé, ou até mesmo tinto, exigia o necessário balde de gelo para a garrafa ficar sempre fresca, além de que quase todas as outras bebidas, com exceção da cerveja, exigiam muito gelo no copo.
Atendendo a que muitas famílias estão de férias, logo fora das suas habitações, precisam de muito mais gelo nos dias de maior calor, pois os frigoríficos que, por norma, equipam as casas de férias são mais pequenos do que os da residência normal.
E foi esta mistura na procura entre restaurantes, bares e discotecas, com o consumo particular, que fez o gelo desaparecer de alguns supermercados algarvios, ou com a imposição de um limite por cliente noutras zonas do país.
Ao i, o proprietário de um restaurante explica a sua situação: “Nos dias de muito calor a nossa máquina de gelo não é suficiente, e compramos muitos sacos na grande superfície onde nos abastecemos, onde nunca faltou. O problema é quando precisamos de mais e temos de recorrer a outros supermercados ou bombas de gasolina e muitas vezes já não há. Só no dia seguinte. Este ano já houve dias que tivemos de racionar o gelo”.
Outro proprietário corrobora esta ideia. “Nem todos os dias o gelo tem muita saída, mas é claro que acontece nos dias de mais calor. Naqueles últimos dias de temperaturas quase nos 40 graus, tivemos que racionar e servir apenas um x por mesa para que chegasse para todos”.
Já as grandes superfícies garantem que não falta gelo, mas qualquer consumidor já se debateu com arcas vazias em determinados dias.
Ao i, a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), explica que face às condições climatéricas vividas nos últimos tempos “com dias excecionalmente quentes, verificou-se um aumento da procura por gelo”. No entanto, garante, “não se antevê qualquer falta de stock deste tipo de produto”.
E diz que é importante deixar uma nota de tranquilidade aos consumidores. “Não existe falta de produtos alimentares. Em alguns casos a indisponibilidade de algumas categorias de produtos deve-se apenas a falta de reposição ou demora pontual na entrega da mercadoria”, explica a associação liderada por Gonçalo Lobo Xavier.
Já a MC Sonae – dona do Continente – fala em grandes aumentos na procura: “O Continente confirma o aumento da procura por este produto, um crescimento (em volume) de 57% no acumulado do ano em comparação com igual período de 2021 e de 93% no mês de julho relativamente ao período homólogo”.
E confirma que, devido à elevada procura, “poderão existir ruturas pontuais em algumas lojas”, mas a cadeia está a trabalhar “em estreita colaboração com todos os parceiros para garantir que os nossos clientes sentem o mínimo impacto possível, sem previsão de racionamento ou limitação de quantidades por cliente”.
Para já, diz a MC Sonae, “ainda não houve qualquer redução na produção para as nossas lojas, nem aumento do preço de venda ao consumidor”.
Aumento “significativo” na procura que é confirmado ao nosso jornal também pelo Auchan Retail Portugal. E já existem algumas dificuldades. “O nosso fornecedor já manifesta alguma dificuldade de produção/entrega, mas, para já, não sentimos necessidade de racionamento”.
O mesmo acontece do lado do Lidl. Aumento de procura mas sem problemas de maior. “Dado o calor que se tem vindo a sentir de norte a sul do país nas últimas semanas e meses, confirmamos que o mesmo tem originado um aumento muito elevado no consumo de gelo”.
“Por enquanto, não consideramos que seja necessário limitar a venda de embalagens de gelo por cliente”.
E nem o Pingo Doce prevê qualquer tipo de restrição futura.
Se as grandes cadeias não mostram grandes dificuldades, o mesmo não podem dizer os minimercados ou as mercearias que, em muitos locais, já não têm conseguido gelo.
Apesar de alguns supermercados registarem ruturas de stock temporárias, há vários restaurantes que se debatem com a escassez de gelo, principalmente em zonas de grande procura como é o Algarve onde muitos restaurantes já começaram a racionar as quantidades de gelo servidas e tentam acorrer a vários supermercados diferentes ou até bombas de gasolina para conseguir este produto tão desejado no verão.
Espanha já raciona
E se em Portugal não existem problemas de maior para já, o mesmo não pode dizer-se do país vizinho onde os supermercados já estão a limitar o número de embalagens de gelo que vendem por cliente. Bares e restaurantes sofrem com este problema.
O aumento do preço da energia nos últimos meses, o aumento dos preços a nível geral e a elevada procura neste verão são os fatores por detrás deste problema.
As reservas detidas pelas empresas que fabricam o gelo já foram menores este ano devido aos altos custos de matérias-primas e energia. Os produtores, segundo a imprensa espanhola, explicam que tudo na cadeia falha: o preço do plástico, essencial para sua embalagem, disparou. Não menos importante é o aumento do combustível, usado para transporte, e da eletricidade, que envolve mais de 80% da produção de gelo. Face a esses altos custos, a maioria dos fabricantes achou quase impossível armazenar o produto nos meses frios.
E, além das reservas menores, as fábricas de gelo estão a sofrer com o aumento da procura. Recorde-se que Espanha passou recentemente por três ondas de calor.
Ora, uma vez que a procura superou a oferta, os espaços viram-se obrigados a racionar o consumo. E os supermercados espanhóis garantem que a procura aumentou até 30% desde a chegada das altas temperaturas no início do mês de junho. Em muitos supermercados espanhóis já nem existe gelo.
À EFE, o diretor-geral da Procubitos Europa – o maior produtor de cubos de gelo de Espanha – Fernando Plazas, revelou que a procura disparou para 8 milhões de quilos por dia e, quase sem gelo armazenado, só há capacidade para abastecer 2 milhões de quilos por dia, que é o que vai ser produzido.