Montenegro “regressa às origens” com novo pontal

A rentrée política do PSD arranca neste domingo, no Calçadão de Quarteira. É uma aposta de Luís Montenegro em aproximar o PSD dos militantes de base, e das suas ‘tradições’.

É verão e os partidos políticos, aos poucos, vão-se preparando para lançar publicamente aquelas que serão as linhas gerais do seu regresso à atividade política, uma vez findado o período de férias.

No domingo, a partir das 19h, o PSD regressa às  festas de rentrée, depois de dois anos de interrupção devido à pandemia da covid-19 que obrigaram a ajustes no formato das mesmas. E o regresso não podia ser mais simbólico: os ‘laranjas’ voltam a celebrar a tradicional Festa do ‘Pontal’ no Calçadão de Quarteira, no litoral algarvio, depois de Rui Rio ter deslocado a Festa para Querença (2018) e Monchique (2019).

Será a primeira rentrée política do partido com Luís Montenegro ao leme, e não é um ‘acaso’ a opção de voltar às praias algarvias: «Um emblemático convívio da família social-democrata» e «um evento especialmente difundido, assim constituindo uma ocasião privilegiada de contacto com os portugueses», como definiu o próprio Montenegro, que já disse pretender «reacender a chama e alma de um novo PPD».

«Vamos unir-nos e reunir-nos para ganhar o futuro», pediu o líder do PSD numa mensagem oficial sobre a festa de Quarteira e, contou ao Nascer do SOL um membro do partido, esta é precisamente a ideia do líder social-democrata ao regressar às praias algarvias, bem como à Universidade de Verão do PSD, outra iniciativa ‘tradicional’ do partido que tinha ficado esquecida nos últimos anos de Rio, e que agora regressará, entre 29 de agosto e 4 de setembro, em Castelo de Vide, distrito de Portalegre.

A Festa do Pontal teve a sua primeira edição em 1976, por iniciativa de Francisco Sá Carneiro e ganhou especial notoriedade com Cavaco Silva, que guardava sempre um discurso marcante para a festa dos sociais-democratas, que teve a sua última edição em 2019, e que agora regressa.

Animar as hostes

«Independente da ‘partidarite’, é uma festa com história, da qual os militantes do partido gostam por ser um regresso à base», conta ao Nascer do SOL o mesmo influente militante, defendendo tratar-se duma forma de «mostrar a diferença em relação à direção anterior». Uma questão de «rei morto, rei posto» em que «quem entra quer mostrar a diferença». 

O regresso destas duas ações, «das mais emblemáticas que havia», é uma «estratégia de aproximação da direção nacional às bases», isto porque «o universo de militantes que elegeu o presidente do Partido é, ainda assim, muito baixo». «Anda ali cerca dos 20 mil votos, o que é legitimador, mas pouco representativo».

Por isso mesmo, com esse pano de fundo em mente, esta estratégia a que Luís Montenegro «parece estar a dar uma prova de vida», está muito ligada a essa aproximação da direção às bases. Não é por acaso, aliás, que o presidente do PSD tem marcado presença em diferentes iniciativas desde o Congresso do partido em que tomou posse como seu líder.

Logo a seguir ao Congresso, Montenegro rumou a Pedrógão Grande, para fazer um balanço sobre a preparação para a época de incêndios, e pouco depois marcou presença na  Festa do Chão da Lagoa, na Madeira, onde se ‘estreou’ publicamente como líder social-democrata neste tipo de eventos. Depois, esteve na festa do Bodo, em Pombal; em Cantanhede na XXX Expofacic, e ainda passou na Viagem Medieval, em Santa Maria da Feira.

«Luís Montenegro está a fazer um esforço muito grande para ter todos os quadrantes do partido representados. Desde os deles: Rangel, Pinto Luz, até outras figuras que apoiaram Moreira da Silva e têm aqui um palco para aparecer e demonstrar essa mesma solidariedade política», diz a mesma fonte social-democrata ao Nascer do SOL, colocando um contraponto: «Agora, no entanto, vai ser mais do mesmo. O velho PSD aproveita sempre o Pontal para deixar a marca política e uma mensagem contra o Governo».

A Festa do Pontal aconteceu pela primeira vez, a 29 de agosto de 1976 «no pinhal do Pontal, junto ao aeroporto de Faro, e foi um sucesso para a social-democracia», conforme o partido conta num vídeo ilustrativo da história desta Festa.

A coincidência de o líder do PSD ser simultaneamente primeiro-ministro e algarvio – nos anos 80, durante a liderança de Anibal Cavaco Silva – «transforma a Festa do Pontal numa das primeiras marcas políticas do pós-25 de Abril», argumenta ainda o partido, para quem «a Festa do Pontal faz parte da história do PSD e do Algarve», sendo «uma das maiores iniciativas políticas realizadas no verão em Portugal e uma inovação na vida política nacional ao criar um ritual de ‘rentrée’ política das forças partidárias».

Regresso em bis

A rentrée política do PSD não é feita só, no entanto, de Pontal. O regresso da Universidade de Verão do partido é também uma marca desta política de aproximação às bases que Luís Montenegro tem promovido, dando nova vida a esta tradição do PSD que tinha ficado ‘esquecida’ nos últimos anos, devido à pandemia da covid-19.

A primeira edição deste evento social-democrata ocorreu em 2003, e está agora de regresso, «numa jornada de estudos intensivos, uma selecção de jovens quadros de elevado potencial e um naipe de formadores e oradores de grande qualidade trabalham em conjunto», conforme a organização da mesma prevê.

Todos os militantes com menos de 30 anos são convidados a este evento, que é promovido conjuntamente pelo PSD, pela JSD, pelo Instituto Francisco Sá Carneiro e pelo Partido Poupar Europeu (PPE).

A mesma fonte social-democrata aponta, no entanto, um ‘senão’: «É, no entanto, sempre a mesma coisa, o mesmo programa».

O regresso da Universidade, explica este social-democrata, está muito ligado a uma influência de Carlos Coelho, líder de campanha de Luís Montenegro. «O ano passado estavam também reunidas as condições para realizar a Universidade de Verão», diz, «mas mesmo assim a direção nacional decidiu não realizar». Agora, «esta direção quer deixar esta marca, embora o modelo esteja gasto», defende, ironizando: «O Miguel Poiares Maduro já esteve lá sete ou oito vezes. Não há novidade, não há um modelo que possa surpreender depois destes anos todos».

Uma forma de «chamar estes talentos que o partido forma para depois poder contar com eles no futuro».