Cada vez mais isolado no panorama internacional devido à invasão à Ucrânia, o Presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou que pretende expandir os laços diplomáticos com a Coreia do Norte e o seu líder, Kim Jong-un.
Segundo a agência de notícias da Coreia do Norte, KCNA, os dois líderes trocaram cartas por ocasião do 77.º aniversário do fim da ocupação japonesa da península Coreana, onde abordaram o seu interesse em “expandir as relações bilaterais abrangentes e construtivas com esforços comuns”, escreveu o meio de comunicação, citando o Presidente russo.
Do ponto de vista de Putin, esta ligação é do interesse de ambos os países e irá ajudar a fortalecer a segurança e a estabilidade da península coreana e da região do nordeste da Ásia.
O “Líder Supremo” respondeu à carta do Presidente russo recordando que a amizade russo-norte-coreana foi forjada na Segunda Guerra Mundial com a vitória sobre o Japão. A “cooperação estratégica e tática, apoio e solidariedade” desde então atingiram um novo nível nos esforços comuns para frustrar ameaças e provocações de forças militares hostis, escreveu Jong Un na carta, citada pela Reuters.
Apesar de a KCNA não identificar em concreto as forças hostis, este é o termo usado para se referir aos Estados Unidos e os seus aliados.
O governante norte-coreano previu que a cooperação entre a Rússia e a Coreia do Norte crescerá com base num acordo assinado em 2019, quando se encontrou com Putin. Esta não é a primeira ligação diplomática entre estas nações, tendo a União Soviética sido uma das principais aliadas da Coreia do Norte, oferecendo cooperação económica, apoios e trocas culturais.
Contudo, depois da queda da União Soviética, estas relações sofreram uma quebra.
Em julho, a Coreia do Norte reconheceu duas “repúblicas populares” ocupadas pela Rússia no Leste da Ucrânia como estados independentes. A resposta da Ucrânia foi cortar os laços diplomáticos com Pyongyang.
O embaixador russo em Pyongyang, Alexander Matsegora, revelou ao jornal russo Izvestia que uma cooperação entre estas nações pode significar que trabalhadores norte-coreanos “altamente qualificados e diligentes” podem ajudar a reconstruir a infraestrutura danificada de Donetsk e Luhansk, controladas pelos russos, escreve a BBC.
Matsegora acrescentou ainda que a Coreia do Norte está com uma “grande vontade” de obter peças para substituir os equipamentos pesados da era soviética das suas fábricas e centrais nucleares através do este da Ucrânia, afirmando que que Slovyansk e Kramatorsk – cidades ainda controladas pelas forças ucranianas – são os principais centros de produção desse equipamento.
O jornalista do Al Jazeera, Rob McBride, disse que esta troca de cartas entre os líderes da Rússia e Coreia do Norte ocorre “num momento interessante” para ambos os líderes, com ambos a enfrentarem grande censura internacional, Jong Un pelo programa nuclear e de mísseis do seu país e Putin pela invasão russa na Ucrânia.
“Ambos esses líderes enfrentam isolamento da comunidade internacional. Para Kim Jong Un, é claro que é de longa data. Para Vladimir Putin, é muito mais recente. Mas não menos consequente”, explicou o jornalista. A aproximação dos dois líderes, escreveu ainda, “parece uma quase inevitabilidade”.