A notícia, como é bom de ver, não mereceu comentários indignados da rapaziada do politicamente correto e, numa pesquisa rápida no Google, não encontrei reação alguma. Melhor retrato do país não pode haver.
Há um ano e meio o Governo criou um grupo de trabalho – a grande especialidade portuguesa – que tinha como função fazer um livro branco. Descobriu-se agora, através do Público de sábado passado, que há vários meses que ninguém se reúne para dar seguimento ao pedido governamental.
Apesar dos membros do grupo trabalharem pro bono, segundo o jornal, estes já fizeram chegar à nova secretária de Estado a necessidade de darem andamento ao que já foi feito. Na mesma notícia, ficámos a saber que a secretária de Estado da Igualdade e Migração determinou um novo prazo para a conclusão do Livro Branco: agosto de 2023.
E o que se pretende com o Livro Branco? Imaginemos um país onde o Estado não consegue impor a lei – e não estou a ser demagogo com histórias como o tráfico de droga ou a prostituição –, e pensamos nalguma República das Bananas, mas não. É de Portugal que falamos. É neste país que crianças menores – e estamos a falar de meninas com menos de 14 anos – são obrigadas a casar-se e, se a sua família se recusar, sabe-se que pode haver tiroteios e mortes. Mas o Estado pouco se importa com isso.
Segundo a notícia em questão, os membros do grupo tinham como obrigação dar sugestões para se combater os casamentos infantis, precoces e forçados, mas o Governo, como já sabemos, ‘chutou’ a questão para o próximo ano. «Fizemos muita coisa, mas oficialmente não foi publicado nada», disse ao Público Alexandra Alves Luís, presidente da Associação Mulheres Sem Fronteiras.
Não é segredo para ninguém que estes fenómenos acontecem maioritariamente nas comunidades ciganas e talvez seja essa a razão para o Governo estar com tantos receios de não querer ser acusado de xenofobia. Mas que raios, onde é que existe xenofobia quando se pretende acabar com casamentos forçados de meninas com 12 ou 14 anos? Já estamos no Afeganistão?
Se às histórias dos casamentos forçados aliarmos os problemas de mutilação genital feminina, percebemos que este país não é bom para as mulheres. O Expresso noticiou recentemente que só no hospital da Amadora foram identificadas 52 crianças e mulheres vítimas de mutilação genital. O Hospital que dá pelo nome de Fernando da Fonseca funciona como um barómetro do fenómeno, pois é na zona onde está inserido que vivem as comunidades onde mais se pratica este crime: Guiné-Bissau, Cabo Verde e Senegal, entre outros.
Os carniceiros que praticam este ato hediondo pretendem que as mulheres não tenham uma vida sexual ativa, logo que não tenham prazer. A história é ainda mais arrepiante, pois das 52 vítimas que entraram no Hospital da Amadora, entre janeiro e julho último, havia bebés de três anos e algumas mulheres com 48. No resto do país contabilizaram-se mais 53 casos. É claro que estes temas não merecem comentários esganiçados da rapaziada que se preocupa tanto com o x, em vez dela ou dele. É lá com eles. Que o Estado não pode fechar os olhos a estas atrocidades, é uma verdade inquestionável.
P. S. Ao ver a polémica com a primeira-ministra finlandesa lembrei-me dos tempos em que Margaret Thatcher bebia uns valentes copos nos bastidores de Downing Street e que ninguém se importava com isso. Ou que a falecida Rainha-mãe bebia uma garrafa de gin por dia. Ou de Churchill que não prescindia do seu copo de whisky e do seu charuto. Ou de Boris Johnson que é danadinho por uma boa festa. Este mundo está mesmo uma chatice incrível.