A TAP continua a viver uma situação atribulada e, depois de ter apresentado esta semana prejuízos superiores a 200 milhões de euros referentes aos primeiros seis meses do ano, foi alvo de um ciberataque. «A TAP foi alvo de um ciberataque na noite do dia 25 de agosto. Os mecanismos de segurança da TAP foram prontamente acionados e os acessos indevidos bloqueados», disse a companhia aérea.
De acordo com a empresa liderada por Christine Ourmières-Widener, as equipas avançaram com uma investigação a este ataque, garantindo que «não há qualquer risco» para a segurança dos voos. Por outro lado, acrescentou que não foi possível concluir que houve um «acesso indevido» aos dados pessoais dos clientes.
Mas esta é a gota de água na vida interna da empresa, que continua com um conflito entre a administração e os trabalhadores. Já na semana passada houve troca de acusações entre as duas partes, com as estruturas sindicais a acusarem a administração de despesismo – e que culminou com a entrega de uma carta ao ministro Pedro Nuno Santos – e com a TAP a falar em «tentativa de ataques à sua credibilidade e competência». O clima de tensão aumentou em torno dos resultados da empresa .
A TAP apresentou perdas de 202,1 milhões de euros no primeiro semestre do ano, o que, ainda assim, representa uma melhoria de 291,1 milhões de euros face ao mesmo período de 2021 . Números que levaram a CEO da TAP a defender que os resultados da companhia no primeiro semestre são melhores do que o previsto no plano de reestruturação. «Penso que estamos a apresentar bons resultados, […] espero que hoje não haja dúvidas que a gestão da TAP está a fazer um bom trabalho», afirmou Christine Ourmières-Widener durante a apresentação de resultados.
Da parte do Sindicato dos Trabalhadores da Aviação e Aeroportos (Sitava) a resposta não se fez esperar. Para esta estrutura sindical a melhoria nas perdas mostra que só o sacrifício dos trabalhadores contribuiu para a recuperação: «De acordo com a informação prestada, a única rubrica de custos que salta à vista, porque negativa, são os custos com pessoal que diminuíram 7,2%».
O Sitava disse ainda que a inflação já provocou um corte nos salários reais de 5%, o que, no seu entender, fica «muito claramente demonstrado por esta apresentação que são apenas os trabalhadores que estão, com o seu sacrifício, a contribuir para recuperar a companhia». A estrutura sindical lembrou ainda que os trabalhadores continuam com cortes salariais, no âmbito do plano de reestruturação da companhia aérea, apesar «de cargas de trabalho cada vez mais exigentes», o que acentua «um enorme sentimento de injustiça que roça a humilhação».
Relativamente à crise inflacionária, o Sitava disse que vai, brevemente, abordar a empresa, para discutir medidas que invertam a tendência de desvalorização dos salários.
Nova tranche no final do ano
A companhia de aviação disse também que esperava receber a última tranche de 990 milhões de euros de ajuda estatal no final do ano e está a preparar uma ida aos mercados para refinanciar dívida privada em 2023.
E lembra que a retoma de atividade prosseguiu durante o segundo trimestre com as receitas, o número de passageiros e o número de partidas mais do que duplicando em comparação com o segundo trimestre de 2021. «O número de passageiros e o número de partidas a alcançaram entre 81% e 92% dos níveis pré-crise de 2019, enquanto as receitas atingiram 99% do seu nível pré-crise no segundo trimestre de 2019».
De acordo com a CEO, «o segundo trimestre registou uma procura muito saudável e receitas por passageiro mais elevadas, o que nos permitiu compensar o aumento nos custos. O contexto continua difícil e as perspetivas de procura para o quarto trimestre e próximo ano mantém-se incertas. A execução do plano de restruturação continua a ser fundamental».
Passageiros quadruplicam
Numa análise às operações no segundo trimestre de 2022, verifica-se que o número de passageiros transportados quadruplicou, em comparação com o mesmo período de 2021, atingindo 82% dos níveis do segundo trimestre de 2019. Durante este período, a TAP operou mais do dobro do número de voos do que no segundo trimestre de 2021, ou 81% das partidas do segundo trimestre de 2019.
A empresa esclareceu ainda que as receitas operacionais foram quase quatro vezes superiores às do mesmo período do ano passado, aumentando em 597,4 milhões de euros, para 830,6 milhões, representando 99% das receitas operacionais do segundo trimestre de 2019. Já os custos operacionais recorrentes neste período ascenderam a 782,7 milhões, uma subida de 92,5% em comparação com o segundo trimestre de 2021, com a companhia aérea a esclarecer que «este aumento significativo reflete o maior nível de atividade», mas, em comparação com o mesmo período de 2019, os custos operacionais recorrentes foram 4,1% mais baixos, apesar do aumento do custo com combustível. «O custo com combustível aumentou em 217,5 milhões em relação ao segundo trimestre de 2021, ou perto de cinco vezes, para 277 milhões», disse.