Por José Maria Matias, Aluno do mestrado de Ciência Política e Relações Internacionais na UNL
Com as eleições legislativas em janeiro de 2022 a determinar uma maioria absoluta do PS e com as presidenciais em janeiro de 2021 a reeleger Marcelo Rebelo de Sousa, o povo português vaticinou que a dupla Costa-Marcelo funcionaria em conjunto, se tudo correr dentro da normalidade, até 2026. Isto é, no fim dos seus mandatos poderemos falar de uma década, se enquadramos o espaço de 2016 a 2026. Os dois estão ligados ao desempenho político um do outro de forma irremediável.
Contrariamente ao que sugeriu há poucos dias, Marcelo começa por candidatar-se à Presidência da República afastando-se o máximo possível da sua área política e do seu partido. A razão foi simples, não quis carregar com ele o peso da governação no período da troika. António Costa quis igualmente afastar-se de Passos Coelho e apagar José Sócrates.
Ambos foram bem-sucedidos nos seus objetivos e a prova disso foi o sucesso eleitoral que tiveram.
10 anos é muito tempo, comparável por exemplo com Thatcher e Isabel II no Reino Unido. Não existindo dúvidas de que o Reino Unido que a Dama de Ferro encontrou em 1979 foi muito diferente daquele que deixou em 1990. Comparar Thatcher a António Costa, poderá parecer um escândalo e talvez o único fator que tenham em comum seja o tempo em que puderam governar, a estabilidade política que gozaram e o ter conseguido formar governo em 3 atos eleitorais diferentes. Mas também poderíamos falar da dupla Soares-Cavaco em Portugal, sobretudo dos governos de Cavaco Silva. Existia um país em 1995 completamente diferente do país de 1985.
Como tal, parece-me legítimo perguntar, que legado Marcelo e Costa irão deixar ao país? O que era o país em 2016 e o que será o país em 2026? Como avaliar Marcelo e António Costa, a quem o país deu tanto poder por via do voto? Até porque, entrámos numa fase da política nacional e internacional em que se perdeu esta noção de legado, de obra feita e de querer ser recordado no futuro pelos feitos do presente. A ideia de os pais deixarem aos seus filhos um país melhor do que aquele que encontraram. Pela primeira vez em muitas gerações, temos uma classe de governantes que claramente revoga isso. Então, Marcelo e Costa vivem de quê? Sobretudo do dia-a-dia, em formas diferentes, é certo.
Parece que ambos se conformaram com a ideia de que não irão ser lembrados no futuro, por isso sobra-lhes o presente, o instantâneo e o momento. Sendo duas pessoas inteligentes, creio que compreendem perfeitamente a realidade. Como tal, entendem que a História não terá coisas simpáticas a dizer de ambos. Costa ainda se compreende, na medida em que quer estender o máximo possível a influência do PS no aparelho de Estado, percebendo o país envelhecido, sem perspetivas demográficas e com a suas mentes mais capazes a saírem para o estrangeiro, viu aqui a oportunidade de perpetuar o PS no poder.
No entanto, não se consegue compreender Marcelo, se quis ser primeiro a direita social e do afeto para contrapor os anos de austeridade, agora sempre que aparece dá ideia de estar a encobrir a destruição socialista. Desligados do passado, sobrevivendo no presente, hipotecando o futuro, ambos parecem estar a gerir um país como se fosse uma conta de Instagram.
O Instagram é uma rede mundial com milhões de utilizadores, que se baseia na partilha de fotografias, que permite a aplicação de filtros nas imagens e deixa espaço à interação uns com os outros. Se ainda se percebe o que move Costa, no caso de Marcelo é inexplicável. O PS escolhe o filtro, cor-de-rosa ou não e Marcelo aparece na fotografia pelo país fora.