Turistas recuperam. Mas problema do aeroporto de Lisboa fala mais alto

Depois de uma pandemia, o turismo nacional volta a dar cartas e ainda bem uma vez que sempre foi uma das tábuas de salvação do país. No entanto, há um calcanhar de Aquiles por resolver: a localização do novo aeroporto de Lisboa.

Por Daniela Soares Ferreira e Sónia Peres Pinto

O número de turistas a chegar a Portugal está a regressar aos números de pré-pandemia. Mas estes recordes voltam a levantar o véu ao problema das restrições no que diz respeito ao aeroporto de Lisboa.

O impasse em torno da infraestrutura continua e ganha maior relevo no dia em que se comemora o Dia Mundial do Turismo e depois de Vítor Costa, diretor-geral da Associação de Turismo de Lisboa (ATL) ter revelado ao i que, “a questão de discutir aeroportos é quase um desporto nacional”. Há muito que se fala que a Portela está esgotada e as soluções continuam a multiplicar-se e já vão desde Santarém, passando por Alcochete e Montijo, até Beja ou Leiria. 

E o episódio entre Pedro Nuno Santos e António Costa não está esquecido. Recorde-se que o ministro das Infraestruturas revelou que o novo plano aeroportuário passaria pela construção do aeroporto complementar do Montijo e, a prazo, com o novo aeroporto em Alcochete em substituição da Portela. Ou seja, implicaria, dois novos aeroportos. A decisão acabou por ser revogada em despacho pelo primeiro-ministro, remetendo uma decisão, após acordo com o PSD.

Já esta terça-feira, António Costa garantiu que vai aprovar esta quinta-feira o conjunto inicial de diplomas do processo para a decisão do novo aeroporto de Lisboa, alterando os poderes dos municípios sobre aeródromos de interesse nacional. 

“Não posso responder pelo líder da oposição, mas tenho a certeza que, de facto, será possível entendermo-nos sobre a metodologia. Será o primeiro passo decisivo para termos uma decisão final”, disse António Costa esta terça-feira, durante a VI Cimeira do Turismo Português. “Nestes meses verifiquei sempre vontade do líder da oposição de conseguir um acordo”, afirmou.

Mas acrescentou: “Se vamos conseguir um acordo não sei, mas é o desejo de ambos”, disse dias depois de ter estado reunido com Luís Montenegro para discutir a questão do novo aeroporto de Lisboa, num encontro que terminou com a possibilidade de Santarém vir a ser a localização escolhida.

E deixou um alerta: Na impossibilidade de chegar a acordo com a oposição, António Costa vai decidir sozinho. “Se não houver acordo [com o PSD] é a vida. Quem tem maioria [absoluta] tem de usar a maioria [absoluta]”, disse, notando, contudo, que tudo fará para que haja um entendimento, porque “é bom para o país que assim seja” e que “seja tomada uma decisão de uma vez por todas”.

O presidente da Câmara de Lisboa tem sido poupado nas suas declarações em relação ao futuro da nova infraestrutura, ao defender que o novo aeroporto deve estar “próximo” da cidade. No entanto, garante que, mais do que a sua localização, é importante que haja uma decisão o mais rapidamente possível. “Todas as discussões sobre o turismo não existem sem um novo aeroporto”, disse Carlos Moedas, acenando que, sem essa infraestrutura, “não temos futuro”.

Nesse sentido, deixou ao Governo dois “pedidos”: Por um lado, “os lisboetas querem rapidez”. “Precisamos de uma decisão em 2023. Façam-se os estudos necessários, mas não podemos esperar mais tempo”. Por outro, a localização também é importante. “O aeroporto de Lisboa é o aeroporto internacional de Lisboa e tem de estar em proximidade de Lisboa, para estar próximo dos lisboetas e dos empresários. Não estou a medir quilómetros, mas sim proximidade, e isso é extremamente importante”, referiu. 

Confederação deixa apelo Mais crítico é o presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP) ao afirmar que o Governo se “esqueceu” do turismo, que é o “motor da economia”. Francisco Calheiros pede “apoios estruturais e não paliativos pontuais” para o turismo e menos linhas de crédito que endividam as empresas do setor.

“Atualmente, o Governo poderia e deveria ir muito mais longe” nas medidas pensadas para ajudar o setor turístico, disse o presidente da CTP esta terça-feira, na VI Cimeira do Turismo Português. “Boa parte das medidas ainda não se concretizaram e não chegaram efetivamente à economia ou são insuficientes”, acrescentou, notando que estes são “tempos desafiantes”.

E quanto ao Governo diz apenas: “Congratulamo-nos por uma maioria absoluta. A CTP pede que, tendo esta maioria absoluta, use-a”, disse Calheiros, dirigindo-se ao primeiro-ministro. E lembrou os números resultantes deste problema: “Não fazer um novo aeroporto significa perder sete mil milhões de euros, ter menos 28 mil empregos”. 

Raio-x É certo que o turismo tem vindo a crescer e os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) comprovam isso mesmo. Os dados mais recentes mostram que o setor do alojamento turístico registou três milhões de hóspedes e 8,6 milhões de dormidas em julho, valores que significam aumentos de 85,4% e 90,1%, respetivamente. E até face a julho de 2019, registaram-se aumentos de 6,3% e 4,8%, respetivamente.

Nesse mês, o mercado interno contribuiu com 2,9 milhões de dormidas (+9,1%) e os mercados externos totalizaram 5,7 milhões (+205,2%). Valores que aumentaram também face a julho de 2019: o mercado interno cresceu 15,8% e os mercados externos atingiram o mesmo nível de 2019.

Já os proveitos totais aumentaram 131,9% para 682,1 milhões de euros e os proveitos de aposento atingiram 535 milhões de euros, um crescimento de 138,8%. Comparando com julho de 2019, registaram-se aumentos de 27,6% em ambos. 

O rendimento médio por quarto disponível (RevPAR) situou-se em 86,1 euros em julho e o rendimento médio por quarto ocupado (ADR) atingiu 127,2 euros. Em relação a julho de 2019, o RevPAR aumentou 23,0% e o ADR cresceu 19%. 

No conjunto dos primeiros sete meses de 2022, as dormidas aumentaram 194,3% (+58,5% nos residentes e +406,2% nos não residentes). Comparando com o mesmo período de 2019, as dormidas decresceram 4,4%, consequência da diminuição das dormidas de não residentes (-9,4%), dado que as de residentes cresceram 7,8%. 

Lacunas Apesar do setor estar a recuperar terreno foi dos que mais postos de trabalho perdeu durante a pandemia”, garantiu Ana Mendes Godinho. Esta atividade terá perdido cerca de 100 mil pessoas no decorrer da covid-19, que se recolocaram para outros trabalhos e já terá recuperado cerca de 40 mil – faltam 60 mil, um problema que urge resolver até porque “o turismo vive de pessoas”, frisou. 

E qual a solução? De acordo com a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança, o Governo está a operacionalizar a vinda de trabalhadores dos PALOP para o nosso país com a facilidade de obtenção de vistos. Mas para todos os que trabalham no setor, a governante diz que é preciso manter salários e condições atrativas.

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