1. Senta-se um tipo à frente da TV à espera de ver Portugal derrotar a Espanha… sim, derrotar – qual empatar? Somos muito melhores, até demos 4-0 à Chéquia e os ‘nuestros hermanos’ já nem nomes sonantes na Seleção possuem… Alguém se compara com CR (o melhor do Mundo!) ou com Bruno Fernandes, Bernardo Silva e mais não sei quantos que dariam para fazer duas seleções candidatas a campeãs do mundo?
A realidade foi dura. Aos 88’, a coroar a supremacia da Espanha desde o intervalo, uma jogada simples e lá voltámos nós ao triste fado das vitórias ‘quase-quase’, do ‘se aquela bola do CR tem entrado e a do Bruno não fosse ao lado e mais não sei quantos ‘ses’… tínhamos ganho! Afinal foi o Fernando Santos que não serve, mais as substituições que todos faríamos e eram tão evidentes que ninguém percebe porque não se fizeram, mais a atitude que os jogadores não tiveram… As explicações habituais dos derrotados! O que vale é que o Mundial está à porta e dizem uns quantos ‘experts’ que somos candidatos…
2. Como se não bastasse a derrota no futebol de Portugal face à Espanha, ficámos a saber que os espanhóis querem impor reduções de 10% aos caudais de diversos rios transnacionais como o Douro ou o Tejo, cedendo à pressão dos seus agricultores (cerca de 3000 sobretudo de Leon, Zamora e Salamanca), alegando impossibilidade de cumprimento da Convenção de Albufeira (de 2000) e, até referem acordos com entidades governativas portuguesas.
Para já, em declarações que têm sido reproduzidas, parece que o Ministro do Ambiente (Duarte Cordeiro) já reconheceu que a seca se está a tornar um problema estrutural e a causar dificuldades dos dois lados da fronteira. Se a isto somarmos a necessidade incontornável de se ter utilizado a água das barragens, sobretudo no Norte de Portugal, para se produzir energia elétrica, em parte devido ao encerramento das centrais a carvão, o problema pode, neste inverno, tornar-se dramático, quer pela falta de ambas quer também pelos impactos nos ecossistemas.
3. Viramo-nos para a política e há muito que este Governo de maioria absoluta tem dificuldade em acertar o passo, tantos os casos e descasos que semanalmente vêm surgindo, minando a credibilidade governativa e a competência do nosso primeiro-ministro para meter ordem ‘no balneário’, perdão – nos seus ministros. Desta feita, uma ministra (Ana Abrunhosa) a tutelar fundos europeus e, segundo se afirmou, uma empresa com percentagem de capital do seu marido terá recebido alguns desses fundos.
Tudo se terá passado, certamente, de forma indiscutivelmente legal (conforme garante a PGR), mas suscitando dúvidas claras (e seguramente escusadas) do ponto de vista ético, dado o grau de parentesco entre ambos. Parece-me indiscutível que ninguém pode ser prejudicado pelas ligações familiares a elementos governativos, pelo que, num caso como este, não se poderia ter salvaguardado a vertente ética, nomeadamente transferindo responsabilidades para terceiros independentes? Havia necessidade de mais um autogolo?
Discutia-se este tema no grupo parlamentar quando uma deputada completamente anónima do PS (Isabel Guerreiro) lembrou-se de ter o seu momento ‘de glória’ e sugerir que as gravações das declarações do deputado da IL, Carlos Guimarães Pinto, sobre o tema dos subsídios que suprarreferi fossem apagadas e não constassem da ata por estarem fora da ‘Ordem de Trabalhos’. Dificilmente será esquecido o nome da deputada e, nos anais, ficará indelevelmente ligada como exemplo de censura.
Saíram à liça, em uníssono, toda a oposição, a própria ministra visada (Ana Abrunhosa) e o PS pela voz do seu vice-presidente da bancada Pedro Delgado Alves, repudiando de forma veemente a ideia que fez lembrar o célebre ‘lápis azul’ que a deputada, agora famosa, Isabel Guerreiro quis reintroduzir. O tema seria risível se não se desse o caso deste triste exemplo suscitar umas perguntas aos eleitores, por exemplo (i) como são escolhidos os representantes dos partidos e em quem o povo confia? ou (ii) qual o nível de preparação que têm para nos representar? Uma coisa é certa: este autogolo da deputada do PS dificilmente será perdoado, tamanha a derrota infligida.
4. António Costa bem prometeu que apesar da maioria absoluta, o seu Governo iria respeitar a Assembleia da República e aceitaria o escrutínio como prova suprema do respeito pelo Parlamento. Palavras, leva-as o vento… digo eu, quando se verifica que, segundo continhas feitas pela SIC, já são 16 vezes em que o PS recusou a ida de elementos do Governo, dos quais 9 ministros. Tudo isto a propósito de mais um veto do PS à ida de Manuel Pizarro (Ministro da Saúde), instado a comparecer no Parlamento para apresentar justificações sobre temas tão sensíveis como os encerramentos de maternidades e/ou urgências.
Bem pode o PS apresentar estatísticas referindo que as não-comparências representam, no seu todo, apenas 15% dos membros chamados. O que fica é a ideia que o PS quer proteger os seus ministros dos apertos possíveis, tal o medo de que saiam do Parlamento humilhados. Foi apenas mais um caso, mas o que fica destas proibições (porque é disso que se trata) é que a democracia vai sofrendo pesadas derrotas.
PS – com pompa e circunstância, tentando trilhar novos caminhos (como que a relembrar o que é verdadeiramente importante), o Governo de Costa e Pedro Nuno Santos anunciou, com pompa e circunstância, um comboio de alta velocidade (TGV) a encurtar distâncias entre o Lisboa e Porto, com ligação a Vigo. O anúncio teve ainda dois momentos a culminar o evento: (i) referiu um investimento colossal – cerca de Eur 4 MM que nos deixa a pensar como será financiado; (ii) a duração da viagem – cerca de 1h15m! Só falhou uma coisa: em 1999, já se tinha anunciado exatamente o mesmo projeto e já lá vão 23 anos à espera, quiçá por falta de dinheiro… mas como o aeroporto já vai em 50, podemos ter esperança!