O pirata informático Rui Pinto voltou a tribunal, esta segunda-feira, para prestar mais declarações na segunda sessão para o caso Football Leaks, depois de ter iniciado o julgamento na semana passada. O principal assunto desta sessão foi o acesso às contas de fundo de investimento da Doyen.
Rui Pinto foi questionado ponto a ponto sobre a informação que consta na acusação. Segundo este documento, foi o alegado hacker quem acedeu às contas da Doyen, contudo Rui Pinto negou.
“Um dos nossos amigos do Football Leaks tinha realizado uma viagem a Londres por motivos pessoais. Ficou combinado que nessa ida à Londres tentaria aceder pela rede da Doyen Capital, perto das instalações da Doyen Capital. No último dia, passou a noite num hotel perto das instalações da Doyen Capital, comprou um equipamento específico para captação de rede a longas distâncias”, explicou, citado pelo jornal online Observador.
As primeiras tentativas de acesso não correram bem, disse Rui Pinto, que frisou que esses acessos iniciais não terão sido feitos por si. O hacker afirmou várias vezes que não originou a entrada na rede, mas que apenas tinha conhecimento. “Não, não foi o arguido Rui Pinto. Eu tinha conhecimento”, apontou o próprio.
Quanto à tentativa da extorção à Doyen, Rui Pinto contou que inicialmente tudo começou "como uma provocação".
Embora o foco da segunda sessão seja o dossiê Doyen, o pirata informático quis explicar, antes de abordar esse assunto, alguns pontos que foram tocados na semana passada, como a divulgação do contrato de Jorge Jesus, quando o treinador trocou o Benfica pelo Sporting, em 2015.
Por várias vezes, o coletivo de juízes perguntou qual era o interesse de expor o contrato e o Rui Pinto explicou que o propósito “não era única e exclusivamente mostrar irregularidades”, mas também “mostrar curiosidades”. Porém, tinha detalhes que seriam de importância pública: “O contrato de Jorge Jesus levanta a questão da data em que foi assinado. Havia determinados pontos no contrato que eram de interesse público”.
Na primeira sessão que ocorreu na passada segunda-feira, o hacker português revelou que estava a trabalhar com os serviços secretos ucranianos e apontou alguns momentos que deram origem ao Football Leaks. Assumiu que teve acesso a contas de e-mail de vários trabalhadores do Sporting, mas não identificou quem trabalhava consigo.
Olhando agora para o passado, Rui Pinto admitiu que “o crime, mesmo com boas intenções, não compensa”. “Sabendo o que sei hoje, não voltaria a meter-me numa destas. A minha vida está de pernas para o ar. A minha família tem sofrido bastante”, disse Rui Pinto, depois de falar sobre a experiência na prisão da Hungria, quando foi detido naquele país devido a este caso.
O pirata informático está a responder por 90 crimes associados com o acesso aos sistemas informáticos e e-mails de pessoas com ligações ao Sporting, à Federação Portuguesa de Futebol, ao fundo de investimento Doyen, à sociedade de advogados PLMJ, à Procuradoria-geral da República e à Ordem dos Advogados.
Amadeu Guerra, antigo diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, José Miguel Júdice, advogado, Jorge Jesus, treinador, e Bruno de Carvalho, antigo presidente do Sporting, são alguns dos visados neste caso.