Luta pela liderança dos liberais disputada a dois

Na IL já não se vislumbram hipóteses de uma terceira candidatura. Duelo terá apenas como protagonistas Rui Rocha, que tem como trunfo os apoios da ala Cotrim, e Carla Castro, que aposta no apoio das bases do partido. Voto individual vai ser decisivo.

Vão começando a dissipar-se as dúvidas de que a luta pela liderança da Iniciativa Liberal vai ser um duelo apenas entre Rui Rocha e Carla Castro. Já não se vislumbra qualquer possibilidade de Rodrigo Saraiva ou Carlos Guimarães Pinto, as escolhas mais naturais do partido, ainda irem a jogo, estando as hipóteses de uma terceira candidatura praticamente afastadas à partida.

A saída do ainda presidente liberal foi o tiro de partida para que o partido acabasse dividido entre dois elementos que aparentemente faziam parte da mesma equipa e eram próximos de João Cotrim Figueiredo. Mas neste momento, o processo eleitoral põe em confronto um caminho de continuidade em toda a linha e outro caminho de «continuidade nos valores, mas de rutura na forma de gerir o partido» (ver páginas 12 a 17).

A sucessão de acontecimentos do passado dia 23 de outubro antevia uma passagem de bastão sem grandes obstáculos: Cotrim anunciou a saída e não recandidatura à presidência da comissão executiva da IL, com Rui Rocha a chegar-se à frente como candidato de imediato e, pouco depois, o líder demissionário manifestava o seu apoio ao deputado como seu sucessor, sem se conhecer mais algum candidato na corrida.

Até aqui, as eleições pareciam simples, com um candidato que seguia a linha de sucessão, com o propósito de continuar o caminho seguido pelo antecessor. Um dia depois, o lugar vago à frente do partido transformou-se numa luta interna que opõe dois membros da Comissão Executiva e colegas de bancada parlamentar, com Carla Castro a apresentar uma candidatura para mostrar que há uma «alternativa».

Desde aí, as diferenças são claras entre os dois candidatos, quer no que se refere aos apoios que cada um reúne, quer no calendário para a realização das eleições internas. Rui Rocha quer adiar a Convenção para janeiro, já Carla Castro prefere que o assunto fique resolvido já em dezembro como estava inicialmente previsto, uma vez que tomou a decisão de avançar com a candidatura com base nesses dados.

Há ainda outro detalhe que torna a IL diferente dos demais partidos ditos tradicionais. Os liberais não podem contar com apoios de distritais, pois os núcleos são pequenos e não têm força suficiente para indicar o voto num dos candidatos. Ou seja, a disputa será feita voto por voto.

Contudo, há dois fatores que podem ser decisivos para cada candidatura: o apoio declarado por João Cotrim Figueiredo, no caso de Rui Rocha, e o trabalho desenvolvido por Carla Castro, desde os tempos em que foi assessora parlamentar e coordenadora do gabinete de estudos da IL.

O grande trunfo de Rui Rocha é o apoio de Cotrim Figueiredo e dos deputados Bernardo Blanco, Joana Cordeiro e Patrícia Gilvaz, que poderá ajudar a levar os indecisos do partido a cair para o lado do deputado eleito por Braga, pela confiança que depositam no ainda líder do partido e no projeto que catapultou a IL. Para todos os efeitos, foi em grande parte graças ao trabalho de Cotrim Figueiredo que os liberais passaram de um deputado único para uma bancada parlamentar de oito deputados.

 

Dificuldades para Rui Rocha

Ainda assim, Rui Rocha poderá ter dificuldades ao nível das bases do partido, principalmente entre os membros que não têm contacto com a direção e com os responsáveis dos núcleos. Apesar de ter ganho destaque no Twitter, onde cresceu muito rápido, grande parte dos membros não o conhecem e essa é a principal preocupação da equipa que o acompanha.

A necessidade de conquistar os militantes que ainda não se decidiram é, aliás, uma das razões que a ala adversária alega que tenha levado Rui Rocha a querer adiar as eleições para um mês mais tarde.

Ao contrário do seu opositor, Carla Castro tem do seu lado as bases do partido, que foi conquistando pelo seu percurso dentro da IL e que lhe permitiram conhecer os militantes e tornar-se um rosto identificável entre os liberais.

Prova disso mesmo foi a forma como foi aplaudida na Convenção de 2021, num aplauso que só rivaliza com aquele que recebeu Cotrim Figueiredo.

Tendo sido responsável pelo gabinete de estudos do partido, esteve encarregue de todo o trabalho de backoffice na elaboração de propostas e programas do partido, o que lhe confere mais bagagem.

A deputada reúne ainda grande parte dos membros que ultimamente se tinham manifestado descontentes com o rumo do partido, grande parte deles da ala mais conservadora do partido. É o caso da lista B, que se apresentou como candidata ao conselho nacional e que pretende chegar a uma plataforma de entendimento com a candidata. Nuno Simões de Melo encabeça o movimento e é um dos grandes críticos da atual direção do partido.

 

Não às negociações

Em entrevista ao Nascer do SOL, Carla Castro não fecha a porta a esta ala do partido, afirmando que a sua candidatura agrega todo o tipo de liberais, desde que estes «respeitem a matriz» que defende. E garante que «não está em negociações» com qualquer lista.

Ao seu lado tem ainda Miguel Ferreira da Silva, o primeiro presidente da IL, que foi das primeiras figuras do partido a manifestar apoio à sua candidatura, e ainda o antigo candidato dos liberais a Belém, Tiago Mayan Gonçalves, que também disse preferir Carla Castro, por ser a candidata que reúne melhores características.

Já Paulo Carmona, assessor parlamentar dos liberais, foi também anunciado como número dois na equipa que a deputada está a preparar e é igualmente diretor de campanha da candidata.