Grandes empresas tecnológicas, como é o caso do Facebook ou do Twitter, têm anunciado despedimentos e algumas mudanças. Mark Zuckerberg, diretor do Facebook, vai demitir mais de 11 000 dos seus funcionários numa das «mudanças mais difíceis da história do Meta». E também Elon Musk falou em «tempos difíceis» para o Twitter. Mas a que se devem e que mudanças podem trazer para o futuro?
Guilherme Amorim, analista da XTB, diz que «basta olhar para a desvalorização em bolsa para entender que os despedimentos que temos verificado, tanto a nível do Twitter como da Meta são fruto de otimização e controlo de custos, num período de inflação elevada e menor fulgor económico».
No entanto, diz, para os mais atentos, «resulta ainda de alterações do modelo de negócio». E explica: «O investimento no metaverso na Meta e a aquisição do Twitter por Elon Musk resultaram numa necessária afinação na estrutura. As empresas que mudam a maneira como trabalham causam incerteza e podem demorar até estarem novamente adaptadas e prontas para prestar serviço».
Mas, tendo em conta que estamos a falar de empresas de multimilionários, era expectável este tipo de solução? Guilherme Amorim diz que, «de certa forma sim», acrescentando que «quando a gestão não é bem feita, ou por simplesmente o mercado é menos favorável e os resultados começam a diminuir, é normal que as empresas queiram entrar em ‘cortes’ de modo a conseguir recuperar gradualmente. Estes cortes passam maioritariamente pela redução de despesas e consequentemente redução do número de trabalhadores».
O Facebook justifica os cortes com o investimento no metaverso, que ainda não teve retorno. Questionado sobre se esta desculpa é plausível, o analista explica: «Devemos notar que na altura da pandemia tivemos o chamado ‘boom tecnológico’ em que vimos o mundo físico mudar muito rapidamente para o mundo digital. Era de esperar que este crescimento digital continuasse, mas não é isso que está a acontecer».
Como consequência, acrescenta, o facto do metaverso ainda não ter dado retornos «fez com que a empresa apresentasse resultados muito negativos, o que a obrigou a reduzir o número de funcionários».
Sobre o Twitter, comprado recentemente pelo conhecido rigoroso Elon Musk, Gulherme Amorim diz que o «aperto monetário e a desaceleração económica são uma preocupação evidente para qualquer gestor. Musk têm-se mostrado preocupado com a economia», diz ao Nascer do SOL, defendendo que «a introdução de planos pagos e otimização (despedimentos) vão balançar as contas rapidamente». Mas defende que os despedimentos do Twitter «estiveram mais relacionados com toda a pressão social existente na aquisição desta rede social por parte do Elon Musk. Esta compra causou grandes variações e incertezas a nível da empresa, fazendo com que o valor da mesma diminuísse drasticamente. Podemos esperar que piore um pouco antes de melhorar».
Dores de crescimento?
Para o analista da XTB é certo que todos os negócios «passam por uma fase de reinvenção e quando o contexto macroeconómico é deprimente tudo parece muito negativo, no entanto, como investidor estaria mais preocupado se não existisse esta otimização. Este investimento em R&D, tornar as máquinas mais magras ( despedimentos) não são uma surpresa nesta fase, nem são uma preocupação para o futuro. Quando o contexto inverter o investimento vai voltar».
Já Paulo Rosa, economista do Banco Carregosa, diz ao Nascer do SOL que os confinamentos generalizados na pandemia «impulsionaram as empresas tecnológicas mais associadas às ferramentas de apoio ao teletrabalho e ao ensino à distância». Isso fez com que as empresas tivessem que recrutar mais trabalhadores para responderem à crescente e robusto procura pelas suas tecnologias. «Com o gradual regresso ao trabalho presencial, apesar do teletrabalho ser ter tornado uma realidade crescente, o robusto crescimento da receita destas empresas tecnológicas desacelerou, espoletando um dowsizing mais ou menos generalizado neste setor», disse.
Para o economista, esta redução de pessoal pode ser também justificada «pelos investimentos realizados por algumas empresas, como é o caso da Meta Plataforms no metaverso, e que coincidem atualmente com um forte abrandamento da economia, e menores retornos, ditados pela resposta energicamente contracionista da política monetária dos bancos centrais, para travar a elevada inflação, aumentando os receios de uma potencial recessão».
O economista recorda ainda que as elevadas taxas de juro e o aumento do custo de vida «significam que os consumidores gastam cada vez menos dinheiro. Isso, por sua vez, impacta a receita dessas empresas tecnológicas». Por isso, não há dúvidas: «Menos receita, é claro, significa que as empresas precisam de cortar custos».
Paulo Rosa recorda que a Microsoft cortou perto de 1000 empregos em outubro e que a Amazon parou com novas contratações. Também a Apple parou com quase todas as contratações e a Lyft anunciou no início de novembro que iria cortar 700 empregos.