O impasse em torno da Autoeuropa mantém-se. A Comissão de Trabalhadores vai voltar a reunir-se com a administração da fábrica de Palmela no próximo dia 28 de novembro. Mas apesar do possível acordo que será alcançado entre as duas partes para pôr fim ao conflito laboral, as duas estruturas sindicais continuam intransigentes. E isso foi visível pela paralisação convocada nos dias 17 e 18 de novembro – duas horas de paralisação em cada turno, mas que segundo a empresa teve uma adesão de 37% do total dos colaboradores.
Em cima da mesa está a proposta de aumento extraordinário de 5% em dezembro, com retroativos desde julho, para compensar a perda do poder de compra devido à inflação, mas a administração da empresa entendeu atribuir apenas um prémio único de 400 euros, que deverá ser pago este mês de novembro.
Além da exigência de um aumento extraordinário, a CT da Autoeuropa defende a manutenção da atualização salarial de mais 2% a partir de janeiro de 2023, tal como está previsto no Acordo Empresa (AE) aprovado em 30 de março deste ano.
O SITE SUL já tinha garantido que «na ausência de qualquer atitude concreta e credível por parte da gerência, que permita aos trabalhadores suspender a greve, não resta alternativa que não seja a sua manutenção. No entanto, a Comissão Sindical apelou, por seu lado, «à unidade dos trabalhadores e a que estes mantenham a firmeza e não embarquem em mensagens ilusórias», referiu em comunicado.
Esta foi a segunda greve na Autoeuropa, fora as que se realizaram no âmbito de greves gerais a nível nacional. A primeira foi a 30 de agosto de 2017, quando os trabalhadores cumpriram uma paralisação de um dia contra a obrigatoriedade de trabalharem ao sábado, que obrigou a uma paragem de toda a produção da fábrica de Palmela.
E ocorreu numa altura em que a Autoeuropa deixou de produzir a carrinha Sharan. Com o final da produção deste monovolume, a fábrica vai apostar no T-Roc, «modelo mais vendido na Europa, em julho e agosto deste ano».
Fábrica em números
A maior empresa do setor automóvel em Portugal, emprega cerca de 5.200 pessoas, tem vindo a garantir que continua «empenhada em ir ao encontro das necessidades dos trabalhadores, de modo a colmatar as dificuldades económicas atualmente sentidas por via do aumento generalizado da inflação».
Todos os dias saem da linha de montagem da Autoeuropa 890 carros com destino aos mercados europeu e asiático. A fábrica de Palmela nasceu a partir de uma joint-venture criada pela Volkswagen e pela Ford com o objetivo de construir em Portugal uma fábrica multimarca para a produção do Sharan, Ford Galaxy e SEAT Alhambra.
Em julho de 1991 foi assinado um contrato de investimento com o Estado português, sendo até hoje o maior investimento estrangeiro em Portugal. No entanto, quatro anos mais tarde, em janeiro de 1999, o Grupo Volkswagen assumiu 100% do capital social.
A partir de 2021, o T-Roc ocupou 95% do programa diário de produção. Só no ano passado, a de Palmela foram produzidas 210.754 unidades, em que cerca de 99,2% teve como destino o mercado internacional – apenas 0,8% foi para o mercado nacional – sendo responsável por 5% das exportações nacionais e pesa 1,5% do produto interno bruto (PIB), contando com 5.124 colaboradores. A Autoeuropa foi assim âncora para o crescimento dum dos maiores clusters exportadores nacionais, com fabricação/montagem de veículos e industria de componentes.
A Autoeuropa está a caminho do segundo melhor ano de sempre. A administração da fábrica de Palmela melhorou as previsões de produção para 2022, contando com o alívio da crise dos semicondutores que tem afetado a fábrica nos últimos 12 meses. O novo número apenas fica atrás do recorde de 2019, quando saíram 254.600 automóveis da unidade do grupo Volkswagen em Portugal.
A importância da Autoeuropa para a região, de Setúbal mede-se também pela atratividade sobre outras empresas estrangeiras como a Schnellecke, Bentler, SAS Automotive Systems, Vanpro, Action e Wheels, e as portuguesas Palmetal e Inapal Plásticos, entre muitos outros fornecedores e prestadores de serviços.