O Instituto + Liberdade alberga gente de vários quadrantes e tem como objetivo «produzir e divulgar conhecimento e ideias em prole de uma sociedade mais livre e desenvolvida», explica ao Nascer do SOL André Pinção Lucas, diretor executivo, e fez-se notar recentemente com a nega que recebeu do presidente da Assembleia da República em exibir no Parlamento a exposição Memória – Totalitarismo na Europa – focado nos regimes fascistas, nazis e comunistas. A exposição, «nada ideológica», segundo Lucas, não tem imagens agressivas e apenas se limita a mostrar o rosto dos responsáveis pelos massacres em nome de uma ideologia, destacando-se as categorias do holocausto e genocídio, terminando com o número de ‘carrascos’ que foram levados a tribunal. Um caso sintomático é o da Ucrânia, onde morreram largos milhões de habitantes, tanto às mãos dos comunistas como dos nazis. Resultado final estampado na exposição: ‘Perpetradores processados após o fim do regime: acusados 0, julgados 0’. A Ucrânia não tem tido, de facto, muita sorte ao longo dos séculos. «Perante a guerra na Ucrânia, onde estão em causa os valores da democracia-liberal contra o autoritarismo, esta exposição é particularmente relevante para preservar e proteger a nossa sociedade dos mais autoritários, totalitários e iliberais regimes», escreve André Lucas no site da organização.
A exposição «já esteve presente em 19 países da Europa e da América do Norte, tendo tido, inclusive, a participação de outros parlamentos nacionais e europeus (nomeadamente no Parlamento Europeu em 2013, na Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa em 2016 e no Parlamento Húngaro em 2016)», mas para Augusto Santos Silva isso não significa que a AR tenha que lhe dar guarida. Recorde-se que a exposição «foi criada pela Plataforma da Memória e Consciência Europeia, organização criada na sequência de uma resolução do Parlamento Europeu que teve 553 votos a favor e apenas 44 votos contra, em 2009. Um largo consenso numa Europa que se quer livre, democrática e que procura não esquecer o seu passado trágico para evitar que regimes totalitários se repitam», esclarece André Lucas.
E o que pensa o diretor executivo do Instituo + Liberdade da nega do presidente da AR? «Ficámos perplexos, pois a AR colocou-se ao lado de regimes totalitários, pois só nesses regimes é que se tomam decisões destas. Foi um péssimo momento da nossa casa da democracia». A história é ainda mais insólita, pois, segundo o jornal Novo, a Assembleia da_República só respondeu à proposta do Instituto quase cinco meses depois de o pedido ter dado entrada na AR.
Ontem, o editorial do jornal i tinha o título ‘Presidente da AR ainda não percebeu que houve o 25 de Novembro’, onde se dava conta do chumbo de Augusto Santos Silva à exposição que mostra os horrores dos regimes nazis, fascistas e comunistas. O presidente da AR respondeu: «Não proibi nenhuma exposição, nem tenho competência para tal. Limitei-me a negar o pedido para que ela fosse acolhida no edifício do Parlamento português, tendo em conta as reservas que suscitou na maioria dos membros do Grupo de Trabalho para os Assuntos Culturais, que me aconselha nestas matérias; A exposição, que pretenderia retratar os totalitarismos do século XX, fascismo incluído, não continha nenhuma referência nem ao Estado Novo português, nem ao franquismo espanhol, nem à ditadura grega, nem sequer ao fascismo italiano. Seria um pouco estranho que o parlamento português acolhesse uma exposição sobre ditaduras que ignorava a ditadura portuguesa, não acham?».
Em finais de outubro, o presidente da Assembleia da República tinha feito saber que a proposta era rejeitada pelos partidos de esquerda devido à falta de «equilíbrio científico e historiográfico», o que levou Zita Seabra a escrever no Twitter: «Santos Silva proíbe a exposição sobre o totalitarismo feita com o Movimento Memorial que Putin proibiu e vai receber, com duas outras ONG, o Prémio Nobel da Paz».
Mas a posição do presidente da Assembleia da_República merece a reprovação de deputados do PS, um dos quais lamenta que Augusto Santos Silva pense que o «salazarismo é parecido com o nazismo e o comunismo».
Já para um politólogo, que prefere o anonimato, o presidente da AR «refugia-se numa comissão qualquer para não assumir frontalmente a decisão. E, face à dimensão mundial e aos milhões de vítimas dos totalitarismos nazi e comunista, é ridículo vir argumentar com a pequena e paroquial ditadura portuguesa. Também vai exigir que se inclua o vira do Minho numa exposição sobre o impacto cultural do jazz e do rock and roll?».
25 de Novembro sempre
O Instituto + Liberdade não quis deixar passar em branco os 47 anos do 25 de Novembro e pôs em marcha várias iniciativas, uma das quais uma exposição patente na Alameda D. Afonso Henriques – para sempre ligada à manifestação do Verão Quente, quando Mário Soares e o PS organizaram uma das maiores manifestações em Portugal, mostrando ao PCP e às forças revolucionárias, as tais que queriam instaurar uma ditadura, que a maioria do povo queria uma verdadeira democracia – com o título 25N – A história que não te contaram. Através de cartazes que reproduzem as capas de jornais e outros suportes, a organização pretende que todos vejam «a história sobre a tua liberdade com os detalhes que não te contaram». Agora depende de quem vê.