Processos pendentes que regressam aos tribunais em 2023

São vários os arguidos famosos que voltam às teias dos tribunais no próximo ano.

Há processos judiciais que nos acompanham há anos, como se fossem já da família. Na consoada sentaram-se à mesa dos portugueses e dobram agora o réveillon sem que se adivinhe o destino final. Alguns escancararam esquemas criminosos muito rentáveis e lucrativos que os portugueses estavam longe de imaginar. O mais emblemático desta quadra festiva é a Operação Marquês (2014) que envolve o ex-primeiro ministro José Sócrates, que, apesar de ter sido preso preventivamente, acabou, ao arrepio da acusação do MP, por ser pronunciado apenas por três crimes de branqueamento e por crimes de falsificação de documentos e ainda não foi julgado. Aguarda-se o desfecho de múltiplos recursos em bolandas nos tribunais superiores.

Na banca, também em 2014, nasceu o caso BES/GES, que continua à espera de um veredicto. Ricardo Salgado, que aparece envolvido em vários outros processos, é a figura de cartaz deste presépio que é considerado um dos maiores da história da justiça portuguesa. Contrariando a maior parte dos arguidos, o juiz que foi substituir Ivo Rosa na fase de instrução deste megaprocesso, esquivou-se a mais manobras dilatórias por parte da defesa dos arguidos. Pedro Santos Correia recusou declarar-se incompetente para seguir com a instrução e decidir se os arguidos deverão ou não ser julgados.

Na área económica, o caso EDP também passará as doze badaladas. Manuel Pinho e Ricardo Salgado já têm acusação, mas o mesmo não acontece com os ex-administradores da empresa, António Mexia e Manso Neto, uma vez que o MP optou por uma separação processual.

Dez anos depois do inicio da investigação Monte Branco, só agora está na reta final para acusação. A firma de construção civil Bento Pedroso – que integra o grupo internacional de construção civil Ofereci (de origem brasileira) –, uma das empresas constituídas arguidas após o desmantelamento pelo DCIAP (Departamento Central de Investigação e Ação Penal) e pela Inspeção Tributária de Braga da maior na maior rede suíça de lavagem de dinheiro e fuga ao fisco que operou em Portugal, pediu ao Ministério Público (MP) a suspensão provisória do processo. Em troca, a construtora está disposta a pagar os cinco milhões de euros de imposto que desviou dos cofres do Estado.

Mais recente, a Operação Tutti Frutti também dobra o ano que entra. A investigação remonta a 2017, sendo Carlos Eduardo Reis, antigo conselheiro nacional do PSD, o principal suspeito desta alegada teia de crimes de corrupção, participação económica em negócio, tráfico de influência e eventual financiamento político, que envolve ainda outras personalidades do PS e do PSD. No centro da operação estão adjudicações superiores a um milhão de euros de juntas de freguesia de Lisboa a militantes destes dois partidos.

O julgamento do criador do Football Leaks, Rui Pinto – que está a ser julgado desde 4 de setembro de 2020 no âmbito de um processo no qual responde por um total de 90 crimes –, também estará connosco para mais uma passagem de ano.

A justiça também não escapou à balança. O caso Lex é o exemplo. O julgamento estreia com o novo ano e entre os acusados encontram-se três antigos desembargadores – Rui Rangel (expulso pelo Conselho Superior da Magistratura), Fátima Galante (ex-mulher de Rangel e aposentada compulsivamente pelo órgão de gestão e disciplina dos juízes) e Luís Vaz das Neves (ex-presidente da Relação de Lisboa, entretanto jubilado) –, bem como o ex-presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, o vice-presidente encarnado Fernando Tavares e o empresário José Veiga. Estes dois últimos, por não fazerem parte da magistratura, seguem em processo separado. Em causa no processo estão os crimes de corrupção passiva e ativa para ato ilícito, recebimento indevido de vantagem, abuso de poder, usurpação de funções, falsificação de documento, fraude fiscal e branqueamento

No reino do futebol, entre outras investigações a dar os primeiros passos, continua a decorrer o processo Cartão Vermelho (2018) que envolve também Luís Filipe Vieira, o filho (Tiago Vieira), o empresário José António dos Santos (conhecido como ‘O Rei dos Frangos’) e o empresário desportivo Bruno Macedo. Em causa está a venda de 25% do capital do capital da Benfica SAD a um empresário estrangeiro, obtendo com esta alienação ganhos milionários, sem terem comunicado ao regulador dos mercados (o que representa uma contraordenação considerada muito grave, sujeita a multa elevada).  Vieira acumula ainda as suspeitas da prática de crimes de burla qualificada ao Fundo de Resolução bancária, de fraude fiscal qualificada e de branqueamento de capitais.

 A somar a este há ainda o ‘Caso dos Emails’. Em fevereiro de 2020, o MP acusou o diretor de comunicação do FC Porto, Francisco J. Marques, o diretor do Porto Canal, Júlio Magalhães, e Diogo Faria, comentador, de violação de correspondência e de acesso indevido, por divulgarem conteúdos de emails do Benfica naquela estação televisiva.

O clube dos dragões também não passa incólume. A operação Prolongamento, com Pinto da Costa no centro do furacão, faz companhia aos outros. O presidente do FCP, suspeito de desviar 40 milhões de euros do clube, foi o foco da megaoperação. O MP investiga empresários no seu círculo íntimo, suspeitos de obter comissões ilícitas com jogadores e na venda de direitos televisivos à Altice.