O clima tenso entre a administração da TAP e os trabalhadores abrandou. A empresa poderá, para já, suspirar de alívio, já que depois da última proposta da empresa a greve de sete dias dos tripulantes – marcada para 25 a 31 de janeiro – acabou por ser desconvocada em assembleia geral extraordinária. Mas isso não significa que haja tréguas por tempo indeterminado. De acordo com o presidente do Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil (SNPVAC), houve cedências das duas partes mas a luta vai continuar. «Não é um acordo temporário, é o acordo que existe neste momento», disse Ricardo Penarróias.
Ao que o Nascer do SOL apurou, o descongelamento da progressão e da evolução salarial estiveram na base deste recuo. Isto porque o Acordo Temporário de Emergência (ATE), assinado em 2021 no âmbito do plano de reestruturação, travou a progressão.
Outra cedência por parte da companhia aérea diz respeito à flexibilização de horários em situação de maternidade, que passa a estar balizada para não existirem dúvidas ou interpretações erradas. O presidente do sindicato afirma que a TAP tem de aceitar as limitações que a maternidade impõe à profissão, rejeitando que exista um absentismo excessivo: «Isso é propaganda da TAP. A empresa entendeu que, em nome da bandeira do absentismo, para tentar dar o exemplo aos outros tripulantes de cabine e ao grupo TAP, teria de fazer o despedimento coletivo», chegou a reconhecer em entrevista ao jornal i.
Anteriormente, a TAP já tinha avançado com a redução do corte salarial de 25% para 20% para todos os trabalhadores do grupo, assim como o salário isento de cortes vai subir para 1.520 euros. Segundo a presidente executiva da empresa, a TAP vai devolver 48 milhões de euros aos trabalhadores e vai investir na formação e modernização do trabalho. Diz que é uma forma de compensar os funcionários por todos os esforços e para mitigar o impacto da inflação. «A direção do sindicato teve um papel ativo na sensibilização para a necessidade de reduzir a rigidez do ATE, face à melhoria dos resultados», disse o responsável.
TAP aplaude decisão
A empresa congratulou-se com a decisão de cancelamento da greve de Tripulantes de Cabina, garantindo que este cancelamento permitiu que a companhia cumprisse todas as expectativas criadas aos passageiros que confiaram na TAP para realizar as suas viagens. «Esta decisão conduz a uma nova etapa na vida da TAP, reabrindo a negociação do novo Acordo de Empresa, juntando agora todos os sindicatos representativos dos trabalhadores da TAP, na busca de um equilíbrio que permita cumprir os termos do Plano de Restruturação. Assegurados ficam também os interesses de todos os envolvidos, na prossecução do caminho que nos conduzirá à necessária estabilidade, sustentabilidade e crescimento da empresa».
Ainda na semana passada, a companhia de aviação tinha revelado que esta paralisação iria levar ao cancelamento de 1316 voos, afetando 156 mil passageiros, o que representa um custo total direto estimado de 48 milhões de euros (29,3 milhões em receitas perdidas e 18,7 milhões em indemnizações aos passageiros). Estavam também previstas perdas de 20 milhões adicionais devido ao impacto potencial nas vendas para outros dias e à sub-opimização de outros voos, com passageiros reacomodados, revela a companhia.
A empresa chegou a afirmar que a decisão de avançar essa greve deitaria «por terra todo o trabalho de aproximação entre as partes, deixando milhares de clientes da TAP com os seus planos defraudados e afetando seriamente os resultados da companhia» e lembrou que estamos perante um ano «especialmente relevante para a concretização do Plano de Restruturação e que conta com desafios acrescidos, como a escalada da inflação, do preço dos combustíveis e a incerteza da procura».
Privatização na mira
Esta acalmia surge numa altura em que a privatização da empresa está a ser equacionada pelo Governo. O ministro da Economia já veio afirmar que vê com bons olhos a eventual compra da TAP pelo grupo que detém a companhia aérea Iberia, por causa das ligações com Madrid e o impulso que poderiam dar ao turismo.
«Temos de olhar para a conectividade aérea porque há estudos que revelam que condiciona a nossa economia em relação ao resto da Europa, porque somos um país periférico», disse António Costa Silva.
Sobre a TAP, o ministro da Economia afirmou que «é agora uma companhia saneada e que foram criadas as condições adequadas para a privatização» e para a participação «da Iberia e outros operadores internacionais interessados».