Paulo Ralha, ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Impostos, recorda que ficou revoltado assim que soube do ordenado de Paulo Macedo à frente da Autoridade Tributária (AT). “Foi anunciado um salário de 25 mil euros, quando foi indigitado por Manuela Ferreira Leite. Um valor elevadíssimo face aos anteriores diretores-gerais. Fui bastante crítico, não compreendia o que é que justificava um salário tão elevado”, confessa ao i. Mas rapidamente mudou de ideias. “Entretanto, começa a gerir a casa e a gerir a casa muito bem, tanto que ao longo do tempo fui alterando a minha posição relativamente quer ao salário, quer ao próprio Paulo Macedo”, garantindo que “os resultados que obteve foram muito bons”.
O responsável chama ainda a atenção para o facto de Macedo ter a força política para ultrapassar muitos obstáculos e conseguir concretizar todas medidas que pretendia, quer no plano informático, quer na desburocratização de muitos procedimentos e na sua agilização. “A AT começou a trabalhar de uma forma completamente diferente. O aumento de produtividade foi enorme, nessa altura. É uma pessoa extremamente profissional, sem pruridos. Ou seja, é uma pessoa com capacidade para alavancar projetos de alguma envergadura e elevá-los até às consequências finais, ou seja, até obter os resultados pretendidos”.
Já em relação ao facto de ser o gestor com capacidade para liderar empresas como a TAP não hesita: “É uma das pessoas que tinha perfil para esse esforço. Tem um espírito de missão, mas também tem uma aura que lhe permite ter autonomia face ao poder político”, garantindo que essa é uma das premissas que devia ter qualquer gestor público. “O que vemos é precisamente o contrário. Vemos pessoas nomeadas para cargos porque são próximas de determinado dirigente político ou são próximos do poder político. E depois, à partida, estão manietados e os resultados estão logo condicionados”, refere ao nosso jornal.
Opinião idêntica tem José Manuel Silva, atual autarca de Coimbra, que foi bastonário dos Médicos quando Paulo Macedo era ministro da Saúde. “Só tenho elogios e quem veio a seguir não fez melhor”. É certo que Paulo Macedo enfrentou várias greves e ações de protesto por parte do setor, no entanto, o responsável admite que isso está relacionado com a estratégia política que foi seguida e que, no seu entender, não foi melhorada.
“Hoje temos o Serviço Nacional de Saúde num estado calamitoso e não nos podemos esquecer que Paulo Macedo teve de aplicar o programa da troika, isto é, foi obviamente condicionado, mas revelou ser uma pessoa extremamente preparada, competente, empenhada, com uma enorme capacidade de trabalho, conhecedor dos dossiês. Nas circunstâncias em que exerceu a sua missão foi um bom ministro pelas suas competências naturais”, diz ao i.
E acrescenta: “O problema é que a seguir ao Governo PSD/CDS, os cortes continuaram mas mudaram de nome para cativações, mas a estratégia é exatamente a mesma: reduzir ao mínimo o financiamento do SNS. E a despesa em saúde do atual Governo, mesmo tendo sido aumentado não foi o suficiente para acompanhar a inflação, nem o custo dos vencimentos, ou seja, os poucos aumentos que se verificavam diluíram-se nos recursos humanos, o que significa que afinal foi capaz de fazer uma boa gestão do SNS, naturalmente sem corresponder àquilo que eram as expectativas dos profissionais de saúde e dos doentes”.
Trabalhadores com outra versão Pedro Messias, presidente do sindicato dos trabalhadores do grupo CGD (STEC) admite ao i que Paulo Macedo é a “pessoa indicada para gerir a TAP ou outro tipo de empresas porque sabe aplicar planos”, lembrando que seguiu à risca o plano de reestruturação negociado com Bruxelas para o banco público, assente no encerramento de agências e na redução de trabalhadores, “independentemente da forma como foi feito”.
O responsável não hesita: “Tudo o que está relacionado fundamentalmente com o planeamento é onde Paulo Macedo se mexe muito bem. O que o atual presidente da Caixa fez foi trazer aquilo que já se fazia na banca privada para economizar, perdendo a CGD alguma presença no sentido do banco público, deixando de ter isenções, alegando que era a única forma do banco sobreviver”.
Apesar de Pedro Messias reconhecer que não foi levado a cabo nenhum processo de despedimento, garante que “houve uma pressão tremenda sobre alguns gerentes e trabalhadores para que se reformassem ou que fossem para a pré-reforma, conseguindo com sucesso a saída combinada com Bruxelas de 2500 trabalhadores”. O presidente da estrutura sindical defende ainda que Macedo tem “um problema com a contrariedade” e dá como exemplo a negociação das tabelas salariais, em que a Caixa propõe subidas de 5,1%, argumentando que é o valor que o Governo dá para as empresas do setor empresarial do Estado. “Umas vezes somos funcionários públicos, outras somos funcionários bancários. É como lhe dá mais jeito”.
E aponta o dedo à falta de intervenção do Estado na gestão do banco público, nomeadamente na área da coesão social e territorial. “O Estado tem de intervir porque é o dono da CGD. Deu a incumbência da gerência do seu negócio a uma pessoa que tem competência, mas na verdade o Estado tem o direito de dizer que não quer fechar agências no interior porque isso só dá uma sensação de abandono para essas populações”, afastando, no entanto, a ideia de uma intervenção semelhante ao que se verificou em anos anteriores. “Nunca foi a nossa ideia dizer que o Estado venha dizer faça a aplicação daqui ou apoie esta ou aquela empresa porque foi precisamente por isso que a Caixa teve os prejuízos que teve devido a essa ingerência política na vertente dos negócios, mesmo depois da análise de risco feita pelos serviços da Caixa ter recusado”.
Resultados à custa de cortes Para Eugénio Rosa os lucros do banco público e sob a liderança de Paulo Macedo foram feitos à custa de cortes. E dá números. Durante a atual administração, a Caixa fechou 320 agências, das quais 200 em Portugal (27,9% do total), “deixando muitos concelhos e freguesias sem qualquer banco o que provocou protestos das populações e mesmo na Assembleia da República”. O economista chamou ainda a atenção do facto de ter reduzido o número de trabalhadores em 4179: 2149 em Portugal (26,5% do total) “com efeitos na sua atividade”.
As restrições, segundo o mesmo, verificaram-se também no crédito concedido às empresas e famílias que, entre dezembro de 2016 e setembro de 2022, passou de 51 453 milhões para 45 887 milhões de euros, ou seja, menos 5 566 milhões de euros. “Durante a administração de Paulo Macedo, a CGD perdeu quota de mercado tornando-se menos importante no setor. Segundo a própria administração, durante esse período, a quota de mercado da Caixa no crédito total concedido no país reduziu-se de 23,4% para apenas 18%, tendo a quota das empresas caído de 20,7% para 15%, e quota a particulares (famílias) diminuiu, no mesmo período, de 24,5% para 20% (na habitação passou de 28,1% para 24%)”, diz ao i.
E perante este cenário, Eugénio Rosa afirma que “a capacidade para liderar e recuperar uma grande empresa de um gestor mede-se não pelos resultados obtidos a curto prazo – à custa de medidas que fragilizam a empresa e hipotecam o seu futuro, que podem iludir os desprevenidos – mas por medidas estruturais que garantam não só resultados a curto prazo mas fundamentalmente que assegurem o desenvolvimento, consolidação e o futuro da empresa, garantido também a médio e longo prazo o que passa necessariamente pelo envolvimento e mobilização dos seus trabalhadores”.
Uma preocupação que, de acordo com o economista, não tem sido tido em conta na gestão do banco público. “Esta preferência por medidas habilidosas visando aumentar os lucros para depois os apresentar com ‘pompa e circunstância e assim ganhar fama de grande gestor está também na anunciada recente transferência do fundo de pensões da CGD para a CGA”, lembrando que “uma das queixas mais frequentes de Paulo Macedo em relação ao fundo de pensões da CGA era que todos os anos tinha de o recapitalizar várias vezes com centenas de milhões de euros”.
“Paulo Macedo tem uma característica que, a meu ver, é negativa em qualquer gestor e nomeadamente num presidente de qualquer organização. Não aceita opiniões diferentes, é incapaz de as debater e reage contra quem lhe faça qualquer crítica, pois considera que põe em causa a sua áurea de grande gestor”, finaliza.
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