Marcelo Rebelo de Sousa chamou a atenção para as quase 5.000 vítimas de abusos sexuais registados pelo relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, cujos dados foram divulgados na segunda-feira.
“A Comissão chamou a atenção para o facto de o número ter aumentado bastante desde o momento em que começaram os trabalhos, chamou a atenção para a gravidade dos abusos, para que não se pensasse que eram abusos sobretudo psicológicos, havia muitos, muitos abusos físicos e muito intensos e também chamou a atenção para durarem até hoje”, disse o Presidente da República, em declarações aos jornalistas, esta terça-feira.
“Não é um fenómeno do passado, não é um fenómeno até aos anos 90, continuou neste século e continua até hoje", frisou, confessando que os números apurados “ultrapassaram” o que "tinha pensado de início e que os portugueses pensavam quando se arrancou com a comissão".
Já sobre a indemnização às vítimas, o chefe de Estado afirmou que a Igreja "tem um dever ético de responder, de se responsabilizar e esse dever foi assumido".
"Esse dever ético abrange apoio psicológico, que continua a ser muito importante para muitas das vítimas, anos e anos e anos depois, não há dúvidas. E que em vários países houve indemnização também se sabe, por isso, vamos esperar pela posição da Igreja", continuou Marcelo, acrescentando que o possível alargamento do prazo de prescrição dos crimes é “um debate que a Assembleia da República e o próprio Governo poderão desencadear".
"A Comissão propõe a formação de uma comissão ligada ao Estado, vai continuar a colaborar até à versão definitiva do relatório, mas que seria bom haver uma comissão ligada ao Estado, como em outros países, que prosseguisse a este tipo de trabalho", comentou o Presidente da República, dizendo ainda que uma comissão ligada ao Estado "tem espaço de manobra" diferente que uma apenas ligada a uma instituição religiosa.
Marcelo Rebelo de Sousa acredita ser "inevitável" que "uma instituição que se confronta com este tipo de relatório é levada a mudar de vida", e passa a explicar: “seria muito estranho, por consequência daquilo que se passou, não houvesse uma responsabilidade no afastamento daqueles que podem ter uma atuação reincidente e, no funcionamento das estruturas da instituição, se não tirassem lições para o futuro”.
"Em muitos países, as Igrejas tiveram a iniciativa de enfrentar o fenómeno e de agir rapidamente e exemplarmente e o resultado foi na visão que a sociedade tinha e tem da Igreja. Noutros países, demorou muito tempo, resistiram a mudar, e a visão foi completamente outra", disse ainda.