Pouco mais de um ano passado sobre as eleições legislativas que resultaram na segunda maioria absoluta do PS, em janeiro de 2021, o Bloco de Esquerda junta-se ao ciclo de renovação de lideranças nos partidos. Depois de perder a representação parlamentar, o CDS foi o primeiro a mudar de presidente. Seguiu-se o PSD, o PCP e a Iniciativa Liberal. Entre os partidos da oposição, apenas o Chega mantém o líder André Ventura, reeleito no congresso do mês passado.
Desde que António Costa chegou a primeiro-ministro, em 2015, já encontrou pela frente 17 líderes partidários da oposição e prepara-se para somar a estes mais um rosto.
A partilhar o primeiro lugar no pódio com mais remodelações estão CDS e IL. Do lado dos centristas, nos sete anos que leva como chefe de Governo, António Costa já lidou com Paulo Portas (até março de 2016), Assunção Cristas (2016 a 2020), Francisco Rodrigues dos Santos (2020 a 2022) e agora Nuno Melo, que assumiu a liderança em abril do ano passado, após o partido ter desaparecido da Assembleia da República. Já do lado dos liberais, quando ainda não tinham assento no Parlamento, Miguel Ferreira da Silva foi o primeiro rosto à frente da IL (2017 a 2018), seguindo-se Carlos Guimarães Pinto (2018 a 2019), que enquanto presidente do partido conseguiu eleger o primeiro deputado à Assembleia da República, João Cotrim de Figueiredo (2019 a 2023), que conseguiu implantar um bancada parlamentar liberal, e Rui Rocha, que foi eleito na convenção do mês passado.
No maior partido da oposição, Costa já teve no seu caminho três líderes diferentes: Pedro Passos Coelho (até fevereiro de 2018), Rui Rio (2018 a 2022) e Luís Montenegro, que está aos comandos do PSD desde julho do ano passado.
Ainda à direita, André Ventura é o único líder da oposição a quem o socialista ainda não disse adeus. O presidente do Chega já foi reeleito cinco vezes e, em entrevista ao Nascer do SOL, esta semana, antecipa que só quer sair daqui a 10 anos, estando «convencido» de que Costa vai sair de cena antes dele.
À esquerda, o número de líderes é mais curto. No tempo da ‘geringonça’, o primeiro-ministro teve que lidar com Jerónimo de Sousa no PCP e Catarina Martins no BE. Pelo percurso, ainda encontrou André Silva como porta-voz do PAN (até 2021) e Inês Sousa Real, que continua no cargo.
Já em maioria absoluta, Jerónimo de Sousa cedeu o lugar no qual estava há 18 anos a Paulo Raimundo, que chegou a secretário-geral dos comunistas em novembro do ano passado.
Há uma década à frente do BE, Catarina Martins também está de saída. Esta semana, a bloquista anunciou que não será recandidata a coordenadora na próxima convenção nacional do partido marcada para o final de maio. A saída, afirmou, deve-se ao «fim de ciclo político» que considera que já se faz sentir no Governo e que exige ao Bloco começar a preparação da mudança política com um novo rosto. «O que mudou agora é a instabilidade da maioria absoluta. Esta crise em choque com luta popular é o sinal de fim de ciclo político», argumentou.
Em tom de despedida, assinalou «os dez anos extraordinários» em que esteve à frente do partido, lembrando o legado da ‘geringonça’, que permitiu apear a direita do poder e avançar «no combate à precariedade, no respeito pelas pensões, na universalidade dos serviços públicos», na tributação «do imobiliário milionário» e na recuperação do «salário mínimo nacional», assim como travar «várias privatizações».
Internamente, é dado como certo que Mariana Mortágua é o nome mais forte para suceder a Catarina Martins na liderança bloquista. A eleição da nova liderança será feita através da votação das moções de estratégia que são elaboradas para definir o rumo político do partido para os próximos anos. O novo líder será o primeiro subscritor da moção mais votada, sendo que Mariana Mortágua deverá protagonizar a defesa da moção que agrupará os membros da atual direção bloquista.
Desde as legislativas que Catarina Martins é alvo de crítica por parte dos seus opositores internos, que exigem mudanças depois do maior rombo eleitoral do partido – o BE viu a sua bancada parlamentar emagrecer de 19 para cinco deputados.
Apesar de Mariana Mortágua ser o nome que reúne mais consenso, Carlos Matias, um dos rostos do movimento Convergência que agrupa opositores da atual direção, já adiantou que essa ala vai apresentar uma lista alternativa à direção nacional. Em declarações à TSF, o militante bloquista referiu que a candidatura não se resumirá ao Convergência e que irá agregar «outras sensibilidades». Ainda que não revelem para já quem dará a cara pela candidatura, o Nascer do SOL sabe que Pedro Soares é um dos nomes em cima da mesa. O ex-deputado foi um dos subscritores da moção mais crítica da direção na convenção do BE de 2021.
A próxima convenção está marcada para 27 e 28 de maio, mas as moções orientadoras terão de ser entregues já no próximo dia 27, para depois serem votadas na reunião magna do partido, onde se decidirá a equipa que integrará a nova direção.