Aeroporto. Todas as fichas em cima da mesa

A par das cinco soluções apresentadas pelo Governo, a comissão técnica admite que ‘há mais duas ou três’ que vão ser estudadas. Lista de propostas final será revelada a 27 de abril. 

Por Daniela Soares Ferreira e Sónia Peres Pinto

Os olhos estão postos nas possíveis localizações do futuro aeroporto de Lisboa. Às cinco hipóteses avançadas pelo Governo há que somar ainda as propostas da comissão de técnica do aeroporto, que tem vindo a receber sugestões dos portugueses. Ao Nascer do SOL, Maria do Rosário Partidário, coordenadora-geral da Comissão Técnica Independente, explica que «o objetivo é usar o conhecimento existente sobre eventuais locais que possam ter capacidade para receber um aeroporto».

Mas deixa uma ressalva: «Não quer dizer que qualquer local seja apropriado», referindo que já receberam sugestões de sítios que não têm nenhuma infraestrutura em particular. «São zonas agroflorestais, tal como por exemplo, Santarém. É uma zona agroflorestal que tem uma vinha».

Para já, Maria do Rosário Partidário admite que, a par das soluções do Governo, já há «mais duas ou três que vão ser estudadas», não descartando que uma das hipóteses avançadas pelo Executivo. «Poderá ser que aconteça, mas neste momento não podemos afastar nenhuma». A partir daí, será feita uma proposta no final, como resultado da avaliação e depois os resultados serão apresentados à comissão de avaliação. A decisão final caberá ao Governo. «A comissão técnica terá naturalmente de apresentar à comissão de acompanhamento previamente os resultados, mas isso faz parte da resolução do conselho de ministros, que é posta à discussão pública, mais tarde será ajustada em função daquilo que faça sentido e depois submeteremos ao Governo». 

Ao nosso jornal, a responsável admite fazer o que se usa nos sistemas de informação geográfica, que é um varrimento do território. «É tentar perceber se existem de facto outros espaços ou se existe algum espaço que possa ser considerado». E revela: «Já nos foi apresentado um que possivelmente vamos considerar. Agora não é para trabalharmos com 500 opções para encontrar uma».

E lembra que está em cima da mesa a possibilidade de os portugueses participarem. «Quando fazemos isto é para damos espaço às pessoas para se exprimirem, não é para as pessoas nos virem substituir, nem pouco mais ou menos. É claro que é necessário medir um pouco a temperatura, as emoções e as expectativas que as pessoas têm relativamente ao aeroporto. E como já há muitos anos que se fala disso, isso criou múltiplas ideias e precisamos de ajudar a desconstruí-las».

É certo que um dos critérios diz respeito à proximidade de Lisboa, uma vez que a nova infraestrutura deverá complementar a oferta aeroportuária da cidade. «A proximidade será sempre tida em conta para depois selecionar os destinos» e refere que a discussão sobre possíveis novas localizações «é boa, no sentido de trazer mais informação», mas garante que não basta apenas pôr uma localização no mapa. «Isso não chega, ou pelo menos, só vamos contabilizar estatisticamente, não quer dizer que seja considerado».

A lista de propostas será conhecida no próximo dia 27 de abril e a ideia é que o relatório final seja conhecido até ao final do ano. Ainda assim, a coordenadora-geral da Comissão Técnica Independente lembra que «tudo vai depender das condições burocráticas e administrativas», apesar de referir que tudo está a ser apontado para isso «É o que é pedido na resolução do conselho de ministros, a partir do momento, em que nos constituímos e começámos a trabalhar e o nosso plano de trabalho aponta para aí. Só precisamos de ter as condições para o fazer».

Uma panóplia de soluções

Todos querem o novo aeroporto e muitos trabalham nesse sentido. Depois de Montijo e Alcochete terem estado na ribalta, mais recentemente foi Santarém a apresentar uma proposta apoiada por quatro municípios da região que garantem que a opção pelo médio Tejo é a mais vantajosa para o país. Localizado junto ao nó da A1 e ao lado da linha do norte, esta localização permitiria a ligação a duas das principais infraestruturas nacionais de transportes.

No site, o Magellan 500 diz que esta localização está «a cerca de 30 minutos de Lisboa, um tempo que compara bem com os aeroportos de grandes cidades e 45 minutos de Coimbra». A proposta é que este projeto comece por ser um aeroporto regional com uma única pista, com capacidade para 10 milhões de passageiros ano e seja alargado para três pistas assegurando o transporte de cem milhões de passageiros por ano.

A juntar a esta há mais uma panóplia de opções em cima da mesa que vêm sendo acrescentadas à lista ao longo dos anos. A solução que mais pano para mangas deu foi o Montijo. Muitos consideravam-na uma das soluções mais viáveis, mas problemas ambientais trocaram as voltas.

Mas em cima da mesa estão muitas outras opções. Para quem defende Alverca, a solução hub Portela + Alverca assegura «um inovador sistema de dupla função que assegura competitividade da ligação ao centro», como chegou a dizer ao nosso jornal José Furtado. O especialista no setor e responsável pela apresentação desta alternativa defende que a ligação seria feita através de um comboio automático que cumprirá o trajeto de 14,5 quilómetros em 12 minutos. «A partida será feita de quatro em quatro minutos, sem tarifa».

Um cenário que, de acordo com o responsável, é bem diferente das soluções Alcochete e Montijo. «No caso do hub Portela + Montijo, o acesso é feito por barco (13km) + bus (4km), o que não é comparável com nenhum aeroporto europeu. Já o hub Alcochete dependerá de um acesso por comboio (ramal), com +/- 1 hora (viagem + espera) e elevado custo 15-17 euros», segundo um documento que chegou a ser entregue no Parlamento no ano passado. 

O estudo defende que «o hub Alverca-Portela será um aeroporto com fusão de terminais em Alverca e Portela mediante comboio automático que ao mesmo tempo leva os passageiros ao metro» e lembra também que as soluções aeroportuárias devem assegurar a competitividade com os diretos concorrentes, concluindo que só a solução Alverca-Portela é competitiva com Madrid em termos de acessibilidade (tempo-custo-conforto).

Opções como Beja

À medida que a localização do futuro aeroporto vai sendo discutida, houve outras alternativas em cima da mesa. Beja é uma delas. Há cerca de um ano, o presidente daquele município, Paulo Arsénio, defendeu que desde que o aeroporto local seja «dotado de um conjunto significativo de obras que permita uma operação mais robusta de tráfego de passageiros poderá ser sempre um complemento nacional quer ao aeroporto de Lisboa, quer ao aeroporto de Faro, entre os quais se situa».

Até porque a estrutura já existe, mas em termos de placa de estacionamento de aeronaves e aerogare «é extremamente exígua», dizia Paulo Arsénio. Por isso, só com o projeto de ampliação «se reuniriam condições mínimas para que uma operação que envolva milhares de passageiros por dia, seja exequível». 

Ao Nascer do SOL também o deputado do PS, Pedro do Carmo, chegou a defender que «o que está em causa é o seguinte: nada tenho a opor com a construção de um novo aeroporto. Antes pelo contrário. Lisboa tem que resolver esse problema que está a afetar o país. Estamos totalmente de acordo». 

Garantindo que o aeroporto de Beja «está a dar os seus passos», Pedro Carmo avançou que «já tem alguns voos, nomeadamente VIPS, particulares, tem alguns voos comerciais, está associado a empresas de manutenção», acrescentando que «se formos lá neste momento há um conjunto de aviões que estão em manutenção e criou ali mão de obra qualificada. Mas eu acho que ainda é pouco, podia fazer-se mais».

O que pode ser feito então? «Se estão lotados os aeroportos nacionais, se efetivamente estão a perder voos que podiam fazer para o nosso país e não fazem porque não têm slots, podem fazê-lo para Beja. Quer seja voos para Faro ou para Lisboa».

Apesar de assumir que o aeroporto de Beja «não possa ser uma alternativa para Lisboa», diz que «pode ser complementar neste tipo de situações».

Norte do Tejo + Monte Real

O nosso jornal falou ainda com o presidente da Câmara de Leiria, que dizia que o importante é resolver o problema do novo aeroporto. «A decisão sobre a localização do futuro aeroporto de Lisboa, pelo impacto estrutural e decisivo para o futuro do país, não pode estar sujeita a episódios e circunstâncias que nada têm a ver com a substância do que está em causa», disse, acrescentando que «numa obra desta importância, deve ser pedra-base da decisão um consenso amplo, dentro e fora do Governo: com as principais forças políticas e muito especialmente com o povo português, que exige competência e rigor no uso dos recursos públicos».

Mas avançava, no ano passado, que esse consenso «nunca será possível» com uma localização a sul do Tejo, uma vez que está «longe da esmagadora maioria da população servida, que está a norte do Tejo, e sobretudo longe do rigor e da gestão racional de recursos que se impõe». 

Gonçalo Lopes acrescentava: «De facto, não se percebe uma solução a Sul do Tejo que obrigue à construção de uma nova ponte que fará disparar os custos do empreendimento e que vai acentuar as assimetrias e injustiças no desenvolvimento equilibrado e justo do país» e defendia a discussão de outras opções.